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Adi, Beatriz, Bárbara e Jordana formam uma família típica. O pai é microempresário e a mãe, professora. As filhas são estudantes, uma prestes a ingressar na universidade. Vivem no bairro Cidade Nova, frequentam a igreja e gostam de estar com familiares e amigos. Carregam o sobrenome Moro. A coincidência, em tempos de Lava-Jato, chama atenção. Há parentesco com o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da operação, em Curitiba, mas é distante.
As raízes de Adi, 51 anos, o patriarca, estão em Fagundes Varela, sua cidade natal. Ele deixou o município há cerca de 40 anos, quando ainda pertencia a Veranópolis. A vinda para Caxias teve o mesmo motivo de milhares de outras pessoas que aqui estabeleceram residência: a busca por uma vida mais próspera. Adi e os irmãos vieram para estudar e cuidar do pequeno comércio comprado pelos pais, um armazém no bairro Pio X.
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No mesmo bairro, morava Beatriz, 47, que ainda pequena mudou-se para o Fátima com a família. Foi em uma festa, em 1992, no antigo clube Roda Viva, que os dois se conheceram. Três anos depois, casaram-se. O casal tem duas filhas: Bárbara, 17, e Jordana, 11. As meninas estudam na Escola Estadual João Triches, no mesmo bairro onde o pai tem uma fábrica de móveis, o que facilita o deslocamento. A mãe leciona no bairro onde a família mora.
O vaivém entre o Pio X e o Cidade Nova resume a rotina da família Moro. Mas não é só isso, claro. Há momentos de lazer e diversão, mas eles reclamam que são poucas as opções em Caxias.
– O que tem para fazer? Shopping, visitar os irmãos, os amigos? – questiona Adi, já respondendo a própria pergunta.
A falta do que fazer é, de certa forma, relativizada por Beatriz. Embora não considere Caxias uma cidade com uma variedade de alternativas, reconhece que a família não tem o costume de usufruir dos espaços públicos disponíveis:
– Caxias não é exatamente o lugar que mais gosto, por conta da falta de opções de lazer, mas tem toda a infraestrutura de universidades, empregos. Aqui perto (de casa) tem o Parque da Lagoa, mas a gente não tem o hábito de ir.
A insegurança também é um ponto negativo da cidade destacado pela família, principalmente pelas meninas. Bárbara, por exemplo, gosta de ir à missa e ao grupo de jovens da igreja – em julho, inclusive, embarca para a Polônia, com a mãe, para participar da Jornada Mundial da Juventude – mas sempre acompanhada, pois tem medo de andar sozinha. Jordana, aluna do quinto ano, também compartilha do sentimento da mana.
– Eu me sinto segura só na praia. Dá pra andar de noite no centrinho – revela a pequena.
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Além da falta de opções de lazer e da insegurança, a família destaca um problema que não depende de políticas públicas para ser resolvido, mas da iniciativa das pessoas: a falta gentileza. Para Adi, por exemplo, quem trabalha no comércio nem sempre é simpático com seu cliente. Para Beatriz, o caxiense não é hospitaleiro:
– É um povo muito desconfiado. É a impressão que tenho.
No entanto, apesar dos pesares, os Moro não pensam em deixar Caxias.
– Minha cidade natal não é aqui, mas me sinto em casa – admite Adi.
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* Esta reportagem introduz o tratamento editorial que o Pioneiro dedicará às Eleições 2016. Serão oito temas que abrangem aspectos essenciais da vida da cidade tratados com indicadores, diagnósticos, profundidade e análise. A cada reportagem, esses assuntos estarão abertos à contribuição dos caxienses com boas ideias.