Constrangida. Assim está a população de Bento Gonçalves com o abalo na política local. Na semana passada, o vice-prefeito eleito Mario Gabardo (PMDB) renunciou ao cargo. Além disso, o Ministério Público (MP) pediu o afastamento do presidente da Câmara de Vereadores, Valdecir Rubbo (PTB), por suspeita de envolvimento em fraude no concurso público realizado em 2014. Um dia após a denúncia do MP, ele pediu afastamento do cargo de presidente.
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Na segunda-feira, a primeira sessão da Câmara de Bento após o terremoto político passou quase inalterada não fossem os pronunciamentos dos vereadores Moacir Camerini (PDT) e Neilene Lunelli (PT), ambos de oposição ao governo Pasin. Camerini afirmou que as dívidas do município não param de aumentar e cogitou um possível parcelamento de salários dos servidores. Neilene cobrou dos colegas fiscalização diante da afirmação do agora ex-vice-prefeito, de que a dívida do município é de R$ 80 milhões.
– O que interessa para o povo é a dívida. A denúncia não veio de qualquer pessoa. Foi o vice-prefeito que afirmou.
O líder de governo, vereador Moisés Scussel Neto (PSDB), defendeu a administração. Ele lembrou que Pasin assumiu o governo com os servidores terceirizados em greve por falta de pagamento de salários. Para ele, o que chamam de dívida de R$ 80 milhões deve ser melhor explicado.
– Quando assumimos, estava um verdadeiro caos político e administrativo. Precisamos considerar que os empréstimos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal), o pagamento de fornecedores e decisões judiciais não transitadas em julgadas não podem ser consideradas dívidas. Muito (desses valores) são financiamentos para aplicação em obras – afirmou.
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O momento mais aguardado da sessão foi o pronunciamento do agora ex-presidente Rubbo que durou 3 minutos e 30 segundos dos 10 minutos a que ele tinha direito. Rubbo leu um documento em que criticou a atuação do MP.
– Não entendo por que o MP escolheu essa forma de me execrar publicamente. Vejo como uma forma apressada de me condenar. O que pode é o Ministério Público pedir a minha condenação, mas jamais me condenar antes do processo legal – disse da tribuna.
Ao final da sessão, Rubbo respondeu às questões da imprensa em seu gabinete. Ele afirmou que vai provar a sua inocência.– Mais do que ninguém, quero que seja esclarecida a verdade. Vou mostrar a minha inocência durante o processo. As acusações do delator não são verdadeiras – ressaltou.
Divergência em torno da dívida é de R$ 60 milhões
Em janeiro de 2013, a dívida da prefeitura de Bento era de R$ 50 milhões – dados do próprio Executivo. Desses, R$ 37 milhões eram para fornecedores, e o restante, de encargos trabalhistas e empréstimos. O ex-vice Mario Gabardo (PMDB) assegura que a dívida do Executivo saltou para R$ 80 milhões em 2016.
Na tarde de segunda, na sede do PMDB, Mario disse que a dívida começou a crescer após a saída de seu filho, César Gabardo, então secretário-geral de Governo – exonerado por Pasin em abril de 2014.
Segundo Mario, seu levantamento considera as dívidas empenhadas e que têm prazo para serem pagas. Ele diz que o rombo pode ser ainda maior, uma vez que os valores de empréstimos não aparecem no Portal da Transparência:
– Pegamos a prefeitura com R$ 4,5 milhões de empréstimos. Hoje, ultrapassam os R$ 20 milhões.
Por telefone, Pasin classificou as declarações de Mario como “uma completa irresponsabilidade”. O prefeito admite uma dívida de pouco menos de R$ 20 milhões. Segundo ele, R$ 36 milhões de estimativa de ações judiciais em curso; R$ 11 milhões de financiamentos a longo prazo; R$ 9,5 milhões para pagamento de férias e 13º; R$ 4 milhões de empréstimos e financiamentos a curto prazo; e R$ 2 milhões de parcelamentos do Pasep, que somam R$ 63,5 milhões, devem ser descontados dos R$ 80 milhões.
– Pagamos as contas de exercícios anteriores no valor de R$ 48 milhões. Os R$ 63 milhões não podem ser considerados dívidas. É um jogo de informações que justifica o momento político – criticou.
Pasin descartou a possibilidade de parcelamento de salários.– O esforço diário de cortes é para que não ocorra isso. Não admitimos essa hipótese – afirmou.
UM ‘TERREMOTO’
Vice-prefeito renuncia
Mario Gabbardo alegou isolamento da administração do prefeito Guilherme Pasin (PP) e conflito de interesse com a pré-candidatura a prefeito de seu filho, César Gabardo.
Presidente da Câmara se afasta
Conforme a Operação Cobertura, do Ministério Público, o ex-presidente da Câmara de Vereadores Valdecir Rubbo pagou R$ 5 mil para que a IDRH (Instituto de Desenvolvimento de Recursos Humanos), empresa responsável por concurso público na Câmara, aprovasse oito pessoas apontadas por ele. Rubbo é acusado de corrupção ativa e passiva. Um dia depois da denúncia, Rubbo pediu afastamento da presidência.
OS MORADORES
“O vice deveria ter saído antes. E se é para favorecer alguma pessoa, por que fazer concurso público?”
Flávio Lorenzoni, 70 anos, aposentado
“Esse é um momento ruim. Ele (Mario Gabardo) não fez nada antes e saiu para apoiar o filho."
Rodrigo Cagol, 27 anos, microempresário
“Em todos os meios, existe corrupção, mas na cidade não existe nada provado. Há indícios. Devemos ficar alerta na hora do voto.”
Edgar Carvalho, 70 anos, advogado
“A população sofre com isso. Sobre o vice, todos sabem que é uma jogada política. A saída do presidente da Câmara me deixou envergonhada.”
Josiane Vilarino, 34 anos, gerente comercial
“Bento é uma cidade turística e essas notícias repercutem negativamente.” Jenifer Malaggi, 21 anos, secretária
“Fiquei surpresa. A população não está muito interessada. As informações poderiam ser divulgadas pelas mídias sociais para despertar o interesse das pessoas.”
Luíza Tavares, 21 anos, jornalista
Política
Afastamentos deixam população de Bento Gonçalves constrangida
Saídas na prefeitura e Câmara causam mal-estar e acirram disputa eleitoral
André Tajes
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