Com a decisão do prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) em não concorrer à reeleição, a construção do chamado quarto andar passa a ser uma incerteza. O anúncio foi feito nesta sexta-feira pelo próprio Alceu, em coletiva de imprensa, no Salão Nobre da prefeitura, e coloca o presidente da Festa da Uva, Edson Néspolo (PDT), como o nome do governo à sucessão, indicado pelo próprio prefeito. O ato de Alceu produz forte impacto no cenário eleitoral e mexe com os partidos da base.
Algumas siglas nunca esconderam que a condição para permanecer na coligação era a manutenção da dobradinha PDT/PMDB pela quarta eleição consecutiva, agora com Alceu encabeçando outra vez a chapa.Onde o anúncio do prefeito mais se reflete é no PMDB, parceiro do PDT nos últimos 12 anos. O partido, que já manifestava desejo em candidatura própria, fica mais à vontade para tomar uma decisão que não contemple os pedetistas.
Os dois nomes principais do PMDB, o do vice-prefeito Antonio Feldmann e o do deputado federal Mauro Pereira, concordam nesta percepção.Para Mauro, não há mais constrangimento, por exemplo, em lançar um candidato próprio, já que Alceu não concorre mais.
– Com o Alceu (candidato), seria mais difícil, porque o prefeito está no dia a dia, conversando com os funcionários, com os cargos em comissão (os CCs). No momento em que ele não é mais candidato, eu acredito que fica mais tranquilo para tomar uma decisão – destaca.
Para Feldmann, a desistência do prefeito "zera o processo". Segundo ele, sem a reeleição de Alceu, o que seria natural, qualquer sigla da base pode pleitear a majoritária. Ele cita, inclusive, dois partidos que cresceram nos últimos anos e podem indicar prefeito ou vice: PTB e PSB:
–Mudando a cabeça (de chapa), tem reflexo no corpo. Defendo a continuidade, mas agora cabe aos partidos conversar e ver qual vai ser a composição que tem mais chances. Para o meu partido, eu me coloquei à disposição. Tem nomes que têm condições em todos os partidos. Por que tem que ser só PMDB e PDT? Daqui a pouco, os partidos podem achar que podem construir outra chapa, com PMDB de cabeça e PDT de vice ou PDT na cabeça de chapa e outro partido de vice.
Se o PMDB estará com o PDT em outubro, essa é uma decisão que deve ser tomada ainda neste mês. Conforme o presidente peemedebista, Ari Dallegrave, o partido não vai acelerar o ritmo em função do anúncio de Alceu. E embora o prefeito tenha dado a entender na coletiva de sexta que a decisão do PMDB será do governador José Ivo Sartori, Dallegrave garante que a escolha por candidatura própria ou indicação a vice será do diretório municipal _ que tem Sartori como membro. Claro que a opinião do governador tem peso importante.
– Tenho dito isso, não é novidade. Tem uma maioria, um número muito significativo, que defende a candidatura própria, mas só vamos saber na votação. Tem um movimento muito forte em relação a isso, assim como tem gente que defende a continuidade – completa Dallegrave.
O Pioneiro tentou contato com o governador Sartori, mas, por meio da assessoria de imprensa, ele informou que não iria comentar o assunto. Os motivos de Alceu Foi uma longa apresentação para justificar os motivos que o levaram a não concorrer na eleição de outubro. Contrário à reeleição, Alceu Barbosa Velho justificou que não poderia disputar o pleito a prefeito novamente por princípios. Segundo ele, desde que assumiu a prefeitura, não cogitou essa possibilidade.
– Nunca pensei em reeleição. Meio mundo, das pessoas que convivem comigo, sabia que eu não iria à reeleição – explicou, acrescentando que só não falou antes para não atrapalhar o andamento da administração.
O desejo em ficar mais próximo da família também influenciou. Alceu reclamou que a rotina é pesada e quase não tem tempo para ver os filhos.
– Minha filha está se formando em Direito. Ela vai ser advogada, vai ter a minha profissão. E eu quero ajudá-la.
Além de querer auxiliar a filha, ele confidenciou que prefere a advocacia à carreira política.
– Nasci para ser advogado, não para ser político. Eu gosto de júri – disse.
No entanto, garantiu que não está abandonando a política, apenas "dando um tempo":
– Amanhã posso ser candidato ou não. Mas agora vou voltar para minha profissão.
O QUE DIZEM AS LIDERANÇAS
Ari Dallegrave, presidente do PMDB de Caxias do Sul
"É um fato novo, mas não muda a nossa trajetória, nosso trabalho, nossa organização. Nós temos o privilégio no nosso diretório de termos dois governadores, o (Germano) Rigotto e o Sartori. O Sartori já disse que não vai opinar. O que o PMDB decidir, ele vai aceitar. Nós temos reuniões da executiva todas as segundas-feiras, nessa segunda não será diferente. Diante desse quadro, vamos continuar a discussão. Nem vamos acelerar nem vamos diminuir, vamos fazer o nosso trabalho e a nossa decisão. É um ingrediente novo no processo. Nosso rumo é nós que vamos decidir. Tenho dito isso, não é novidade, tem uma maioria, um número muito significativo, que defende a candidatura própria, mas só vamos saber na votação. Tem um movimento muito forte em relação a isso, assim como tem gente que defende a continuidade."
Antonio Feldmann (PMDB), vice-prefeito
"Acho que com essa decisão muda um pouco o cenário. Ele teve a decência de me chamar, há cerca de um mês, me chamou e disse que não ia mais. Eu sou o primeiro que defendo a continuidade desse projeto. Mudando a cabeça (de chapa), tem reflexo no corpo. Defendo a continuidade, a unidade, mas agora cabe aos partidos conversar. Para o meu partido, eu me coloquei à disposição. Tem nomes que têm condições em todos os partidos. Por que tem que ser só PMDB e PDT? Daqui a pouco, os partidos podem achar que pode construir outra chapa: PMDB de cabeça e PDT de vice ou PDT na cabeça de chapa e outro partido de vice. E eu cito dois, PTB e PSB. (Concorrer a prefeito) Não pode ser apenas um desejo pessoal, mas eu estou me preparando há muito tempo. A vice, entendo que em função de o prefeito ter declinado, para mim seria uma dificuldade. Agora, dentro do PMDB, o que eu sinto é que há uma tendência majoritária em defesa de uma candidatura própria. As pessoas querem votar no candidato do PMDB a prefeito e não a vice."
Mauro Pereira (PMDB), deputado federal
"O PMDB agora vai poder tomar uma decisão com maior tranquilidade. É logico que, se fosse o Alceu, ia ser uma decisão, talvez, mais difícil, mas teria de ser tomada. Continuo com a esperança que o presidente Ari Dallegrave (do PMDB) vai tomar uma boa decisão. Com o Alceu, seria mais difícil, porque o prefeito está no dia a dia, conversando com os funcionários, os cargos em comissão. No momento em que ele não é mais candidato, eu acredito que fica mais tranquilo para tomar uma decisão. A tendência é o PMDB com candidatura própria." Selvino Segat, presidente municipal do PP"Já estava mais ou menos prevendo que isso ia ocorrer, até porque em nenhum momento, nós, do PP, fizemos qualquer ilação no sentido de participarmos nessa coligação. Sempre ficamos numa posição estanque, no sentido de ver se dentro do partido a gente busca uma alternativa de candidatura própria ou de coligação futura com alguma agremiação política. Esse ato do prefeito em não concorrer vai mexer com os partidos."
Adriano Boff, presidente municipal do PSB
"A gente entende que PMDB e PDT são protagonistas dessa história. Tudo indica que o candidato deve ser o Edson Néspolo, pessoa que a gente respeita. Se o PMDB não indicar o vice, vários partidos têm a capacidade de indicar. Vi que o PTB já se movimentou. O PSB também tem grandes nomes, o Elói Frizzo, tem o José Dambrós, do Orçamento Comunitário, o vereador Edi Carlos, o Raimundo Bampi, que fez um grande mandato como vereador. Então, não vai ter problema de nome de vice. Se o PMDB não se sentir bem em indicar, outras forças indicarão. A gente faz votos que o PMDB indique. Acho que os partidos que têm maior representação, até mesmo na Câmara, o PMDB, o PDT, o PTB e o PSB, têm tudo para continuar juntos, é muito difícil não estarem juntos. A não ser que o PMDB tenha uma atitude que venha a deixar todo mundo de boca aberta, uma atitude inesperada. Por tudo o que a gente conversa e vê, tudo indica que vamos continuar juntos."