A cada eleição a história se repete: os partidos enfrentam dificuldades para cumprir a cota de gênero. Instituída em 2009, ela determina que as siglas ou coligações respeitem o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada gênero para os cargos proporcionais. A realidade é que sempre há mais homens do que o necessário e menos mulheres que o exigido.
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No PSDB de Caxias do Sul há, por enquanto, apenas uma pré-candidata. Até as convenções, em julho, a presidente da sigla, Paula Ioris (pré-candidata a vereadora), espera ter mais mulheres dispostas a concorrer.
- As mulheres procuram menos. Eu acho que tem coisas culturais. A mulher tem várias jornadas. É algo que temos de desenvolver - diz Paula.
A vantagem do PSDB é que formou aliança com DEM, PSD e PSC, e a coligação irá cumprir a cota. No DEM, são mais quatro ou cinco mulheres até agora. O PDT também tem mais homens interessados na disputa. Segundo o presidente da sigla, Edson Néspolo, faltam "uma ou duas". Por isso, o partido está empenhado em conversar com algumas mulheres para convencê-las a concorrer.
- Em 2012, tivemos uma política de dar um pequeno subsídio, um valor, tudo dentro da lei, para as mulheres nas campanhas - conta Néspolo.
Partidos como PMDB e PP cumprirão a cota, mas no limite. No PP, a preocupação não é apenas com o número de mulheres candidatas. Conforme o vice-presidente da sigla, Guila Sebben, sempre há desistências.
- Algumas pessoas já falaram que não vão concorrer. Isso inclui homens e mulheres.
No PSB, a situação é mais confortável. O presidente Adriano Boff diz que a cota será cumprida com mais tranquilidade, pois a sigla vem se preparando. Porém, ele reconhece a dificuldade enfrentada pelas mulheres:
- O marido tem ciúmes, os filhos têm ciúmes. Quando os pais ficam doentes, são geralmente elas que cuidam. A cota é importante, porque nos obriga a olhar para essa questão. Nós investimos na Gladis Frizzo (suplente de vereadora, assumiu por um período em 2015) e ela foi para o PMDB. Foi uma bola nas costas. Mas vamos em frente.
Cotas há mais tempo - Único partido com mulheres entre os 23 vereadores - Ana Corso e Denise Pessôa -, o PT tem política de cota de gênero anterior a 2009. A sigla também tem cota de 50% para a direção do partido. E, ainda assim, enfrenta dificuldade.
- Não temos as mesmas condições de igualdade dos homens. É a dupla jornada, não tem onde deixar os filhos. Precisamos ter esse debate com a sociedade, tem tarefas que não são exclusivas das mulheres - diz Silvana Piroli, presidente do PT.
Faltam programas de capacitação política, diz especialista
A exigência do mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada gênero para os cargos proporcionais passou a valer a partir de 2009. O texto original da Lei das Eleições, de 1997, previa apenas a reserva de vagas para a participação feminina. A primeira eleição em que se atingiu os 30% foi o pleito de 2012, quando o percentual de candidatas a vereador em todo o país superou em 32,57% o que define a lei.
Apesar da garantia da participação feminina, a doutora em Ciência Política e membro do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Mulher e Gênero da UFRGS Cibele Cheron acredita que faltam mecanismos de viabilização das candidaturas, como programas de capacitação política das mulheres. Além disso, ela destaca que muitos partidos acabam recrutando candidatas-laranja apenas para cumprir a cota:
- Também figuram como entraves os fatores culturais que atravessam nossa sociedade há gerações, definindo a política como campo masculino. As mulheres, por vezes de forma explícita, por outras sutilmente, são alijadas do espaço público de poder, deliberação e decisão desde cedo, conduzidas aos espaços privados. Esse alijamento aparece novamente quando participam da cena política, sob a forma de desqualificação pessoal, descrédito, visibilidade de atributos físicos, entre outras formas de discriminação.
Para uma real inserção das mulheres, Cibele entende que os partidos precisam promover mudanças nos padrões culturais, atacando estereótipos:
- Talvez, infelizmente, a garantia da participação não consiga ser viabilizada de baixo para cima, mas venha de cima para baixo. À semelhança da Europa, talvez seja necessário fixar cotas de assento nas casas parlamentares, o que obrigaria partidos e coligações a tratarem com seriedade a equidade entre candidatos e candidatas.
No Legislativo caxiense
Além das vereadoras hoje no exercício do mandato - Denise Pessôa (titular) e Ana Corso (que assumiu na vaga deixada pelo ex-vereador Kiko Girardi por trocar de partido) - a atual legislatura na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul contou ainda com as presenças de Daiane Mello (PMDB) e Gladis Frizzo (PMDB, ex-PSB), que assumiram como suplentes.
Eleições
Partidos de Caxias do Sul têm dificuldades para encontrar candidatas mulheres à Câmara de Vereadores
Siglas precisam cumprir percentual de 30% da chamada cota de gênero para disputa aos Legislativos
Juliana Bevilaqua
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