Aposentado da política desde que encerrou o mandato de senador em 2014, o peemedebista Pedro Simon se tornou uma espécie de conselheiro Brasil afora - não que já não fosse antes. Com mais tempo livre, ele tem circulado por vários Estados para palestras (e garante não cobrar por elas).
Na terça-feira, esteve na Universidade de Caxias do Sul (UCS) para conversar com universitários de diversos cursos à convite da União Estadual de Estudantes (UEE). O encontro integra o Circuito Pensando o Futuro, preparatório ao congresso estadual da entidade.
Nesta entrevista, Simon comenta a investigação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Operação Lava-Jato e os impactos no governo de Dilma Rousseff. Fala ainda fala sobre eleições municipais e da surpresa caso Alceu Barbosa Velho (PDT) não concorra à reeleição. Confira:
Pioneiro: Qual sua avaliação sobre o episódio envolvendo o ex-presidente Lula?
Pedro Simon: Sou uma pessoa que respeita a Operação Lava-Jato. Acho que ela está colocando o Brasil a limpo, finalmente. Esse juiz, doutor (Sérgio) Moro, é uma pessoa que terá estátua na praça, pela grandeza, pela capacidade. É um homem de 40 anos e está tendo raciocínio, lógica e bom senso. Lula está sendo citado uma infinidade de vezes. O juiz tomou a decisão. Se ele determinasse dia e hora, ia ter comício na frente. Acho que o comportamento foi correto.
Pioneiro: Como o senhor avalia o Governo Dilma e o impacto que esse episódio pode ter?
Simon: Até aqui só vinha se atingindo o governo do Lula e a Dilma como continuidade do governo dele, mas não a pessoa dela. Os últimos acontecimentos começaram a colocar o nome dela também. O líder do governo (senador Delcídio do Amaral), indicado por ela, diz que ela conhecia, que ela sabia. E esse líder do governo tem conhecimento profundo, ele foi diretor da Petrobras. Hoje a situação está realmente grave, séria. Mas acho que o Brasil vive um grande momento. O Brasil é um país que, ao longo da sua história, ganha quem ganhou, o povão sempre ficou por baixo, sempre teve uma elite dominando: ou eram os militares ou era o pessoal do café. Mesmo com democracia, com presidente eleito, não existia preocupação social. Justiça seja feita, o Lula, no início do governo, teve esse aspecto positivo, com o Bolsa Família. Agora, o que não podia ter feito e comprometeu dramaticamente foi a corrupção ter tomado conta do governo dele. A essa altura não dá para dizer que não era com o conhecimento dele. Eu estou fazendo uma palestra aqui (na UCS), não cobro nada. Andei ano passado pelo Brasil inteiro, não cobrei nada. Agora ele diz que cobra porque não tem complexo de vira-lata. Eu fico pensando: será que eu tenho complexo de vira-lata? Ele podia cobrar o que quisesse, ninguém tinha nada o que dizer, mas ele cobrou das empreiteiras, empreiteiras que estão roubando, que quebraram a Petrobras. Essa é a questão. Eu, que gostava do Lula no início do governo, reconheço que o escândalo foi feito, e agora temos que apurar a culpa de cada um.
Pioneiro: Sobre eleições, qual será o seu papel no pleito deste ano? Papel nenhum.
Simon: Estou à disposição do meu partido para ajudar, trabalhar, mas eu sou um político fora de classe. Vou dar um especial cuidado com carinho ao (Sebastião) Melo em Porto Alegre. Acho que ele, o (José) Fortunati e o (José) Fogaça fizeram 12 bons anos de governo. Em Caxias, não sei como vai ficar. Pensei que o candidato fosse o prefeito (Alceu Barbosa Velho) à reeleição, mas dizem que ele declarou que não vai ser candidato, então não sei como vai ser.
Pioneiro: O PMDB deve ter candidato próprio em Caxias?
Simon: Sim. Eu até defendi candidatura própria na eleição passada, mas o (governador José Ivo) Sartori tinha compromisso com o atual prefeito, e o compromisso foi feito. O prefeito (Alceu) é um homem de bem, fez uma gestão significativa.
Pioneiro: Mas caso o prefeito Alceu não queira concorrer, o senhor acha que o PMDB deve continuar na chapa ou lançar candidato próprio?
Simon: Não saberia te responder. Candidatura própria nós temos condições de ter: tem o atual vice-prefeito (Antonio Feldmann), temos o secretário de Governo (Carlos Búrigo), que foi secretário da Fazenda aqui. Nomes nós temos, mas o entendimento eu estou por fora. Eu defendia candidatura há quatro anos, mas o Sartori tinha esse compromisso. Eu imaginava uma reeleição do Alceu, mas se ele abre mão, não sei o que vai dar.
Entrevista
"Imaginava reeleição do Alceu, mas se ele abre mão, não sei o que vai dar", diz Pedro Simon em Caxias
Ex-senador do PMDB comenta a sucessão municipal
Juliana Bevilaqua
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