Histórias de Caxias do Sul no contexto de perseguição e resistência na ditadura militar estão registradas e se juntarão a outros relatos da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Em audiência pública na tarde de sexta, a Comissão Estadual da Verdade (CEV), braço estadual da CNV, colheu depoimentos de quatro ex-presos políticos que foram vítimas de torturas em algum momento do regime político que vigorou no Brasil entre 1964 a 1985.
Primeiro a depor, Maeth Boff contou que Entrou na militância política assim que deixou o seminário capuchinho.
- A opção pela violência como resposta à opressão foi assumida como a única opção. Não é que quiséssemos baderna ou dar tiros, queríamos, de fato, mudar o país.
Ele integrou a VAR Palmares e precisou fugir para o Chile, onde foi capturado. Ficou preso em um navio, onde foi interrogado e sofreu tortura psicológica.
Filho de produtores rurais da Mulada, interior de Caxias, José Rubens Pedroso contou que desde menino se questionava sobre diferenças sociais. Na cidade conheceu o discurso de líderes como Dr. Percy Vargas de Abreu e Lima. Envolveu-se no movimento sindical, estudantil e comunitário. Passou a ser perseguido até ser preso e levado a Porto Alegre.
- Quando foram me torturar, um coronel desgraçado me perguntou o que eu fazia. Quando eu contei que trabalhava em posto de gasolina, ele disse 'Larga esse miserável'. Para ver o conceito dessa gente. Trabalhador não vale nada. A pior tortura é ver o companheiro gritando do lado. Fisicamente, pensei: 'se querem me matar, matem. Mas vou morrer como um homem que quis uma realidade melhor' - relembrou.
Questionado sobre nomes e datas, não soube precisar:
- É engraçado o tempo de preso porque preso eu estou até hoje. Destruíram a minha vida, destruíram os meus sonhos. destruíram aquilo que é mais sagrado, que é o direito de lutar - desabafou.
Ricardo Segalla, filho do líder metalúrgico e artista plástico Bruno Segalla, foi preso em Lages (SC) sob a alegação se ser ladrão de carros em Caxias. Na realidade, seria preso e torturado por distribuir o jornal Voz Operária a pedido do pai.
- Fui espancando por mais de 20 policiais, que usaram a maricota para dar choques. Eles diziam entre eles que era por eu ser filho de comunista.
Ricardo foi torturado por cinco horas e ficou um dia e meio preso.
- Meu pai me encontrou em uma cela, de cuecas, com a cabeça raspada e cheio de hematomas. Mesmo depois, continuei entregando o jornal com muita honra e dignidade. Eu contribui e representei os ideais políticos do meu pai - afirmou ele, que também deu informações sobre as duas vezes em que Bruno foi preso.
Luiz Pizzetti encerrou os depoimentos. Liderança do movimento comunitário e suplente de vereador em 1964, ele foi preso no dia 1ºde abril daquele ano quando almoçava com a família. Levado ao quartel, encontrou companheiros de militância com quem foi transferido a Porto Alegre. Permaneceu no cativeiro por 36 dias.
- Sofri tortura psicológica, que é a mais cruel do mundo. Fiquei 30 anos depressivo, mas tenho 60 anos de luta. Hoje estamos provando que bandidos foram eles e nós os inocentes que queriam fazer as reformas de base que a sociedade precisa.
Ditadura militar
Histórias de resistência marcam relatos de ex-presos políticos de Caxias do Sul
Comissão Estadual da Verdade colheu depoimentos na Câmara de Vereadores
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