Há 24 dias não ocorrem assaltos ao comércio da área central de Caxias do Sul. A estatística surpreendeu até as autoridades policiais, mas o número não é fruto do acaso. No total, a cidade registra uma redução de 52% nos roubos a estabelecimentos comerciais nestes primeiros sete meses de 2018 na comparação com o mesmo período do ano passado. Na área central, contudo, os dados são mais expressivos. Foram registrados quatro assaltos nos últimos quatro meses — 85% a menos do que no ano passado, quando ocorreram 27. Como a crise econômica e o baixo número de policiais persistem, a pergunta que fica é o que mudou? Aparentemente, não há uma resposta única.
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Para a Polícia Civil, há dois fatores principais para a redução: o apoio da comunidade e a manutenção da prisão de criminosos contumazes. Trabalhando há 12 anos na elucidação dos crimes contra o patrimônio na área central e em seis bairros vizinhos, o delegado Vitor Carnaúba afirma que o roubo a mão armada é um dos crimes mais preocupantes em uma comunidade, principalmente no Centro onde o fluxo de pessoas é muito grande. Por isso, é uma das prioridades do 1º Distrito Policial (1º DP).
— O uso de arma de fogo coloca em risco a segurança e a vida das pessoas que estão trabalhando ou passando pela cidade. É um crime que facilmente pode virar um latrocínio (roubo com morte). É um crime que precisa ser punido severamente — ressalta.
Conforme o 1º DP, o índice de esclarecimento desses crimes nos últimos 12 meses chega a 74%. Foram resolvidos 32 dos 43 fatos registrados, com seis criminosos presos, dois foragidos e dois respondendo em liberdade. Os números comprovam a reincidência criminosa: em média, cada assaltante comete três crimes. Para Carnaúba, a manutenção das prisões é um dos principais fatores para esta redução dos crimes.
— Fazendo um retrospecto longo, o Judiciário colabora a partir do momento em que entregamos provas confiáveis. Por isso, o que mais auxilia são as câmeras de segurança. E o Centro é a região com mais câmeras. O Judiciário também entende que este é um crime perigoso e que o autor precisa ficar preso — complementa o chefe do 1º DP.
Apesar de o roubo a mão armada ser uma prioridade há anos, Carnaúba não recorda de um período tão longo sem nenhum assalto no comércio da área central da cidade.
Câmeras
O uso de câmeras de comércio não tem o mesmo efeito contra roubos a pedestres ou de veículo. A explicação é que estes crimes são praticados em locais mais escuros e ermos, o que dificulta o reconhecimento do criminoso. Por isso, a importância em investir em iluminação pública e mais câmeras em locais estratégicos.
Atuação de PMs a pé é outro fator apontado
O último caso registrado na área central ocorreu em uma loja da Avenida Júlio de Castilhos em 30 de junho, quando um casal ameaçou agredir uma vendedora e fugiu levando dois pares de pantufa. Os 24 dias crimes sem outro assalto também surpreendeu a Brigada Militar (BM). O comando do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), no entanto, ressalta que a redução destes crimes é uma tendência.
Conforme os dados da BM, em toda Caxias do Sul ocorreram "apenas" 56 roubos a estabelecimento comercial. No mesmo período do ano passado, eram 119. A redução de 52% seria o resultado da distribuição do policiamento seguindo o Programa Avante, que mapeia diariamente os principais índices criminais por hora e local onde ocorrem. Ainda assim, o subcomandante do 12º BPM, major Emerson Ubirajara, concorda que o longo período sem assaltos na área central é surpreendente.
— Não é normal (este período) até pela demanda que tínhamos deste tipo de crime. Acho que temos nossa parcela de responsabilidade, principalmente, pelo Força de Emprego Tático (FET), aqueles soldados novos que realizavam esta patrulha diária caminhando e conseguiu espantar estes criminosos do Centro. Aquela ação continua tendo um reflexo positivo — lembra.
A FET atuou até fevereiro, mas foi sucedida no mês seguinte por uma tropa de Porto Alegre que realizou o seu estágio operacional na Serra. A estratégia não foi mais utilizada devido ao reduzido número de policiais militares em Caxias do Sul — a defasagem no efetivo é de mais de 50%.
— Infelizmente, não temos fôlego para manter este trabalho diário. Precisamos do nosso efetivo em viaturas para atender a demanda de ocorrências. Se tirar este policiamento motorizado, irá aumentar o número de pessoas que (ligam para o 190 e) ficam esperando ou não recebem atendimento. Reduzir este tempo-resposta também é uma das nossas metas, pois também é importante para sensação de segurança — aponta o subcomandante do 12º BPM.
ROUBOS A COMÉRCIO NA ÁREA CENTRAL*
2017
Abril: 8
Maio: 4
Junho: 10
Julho: 8
2018
Abril: 1
Maio: 2
Junho: 1
Julho (até o dia 24): 0
*A estatística considera a área de atuação do 1º Distrito Policial, que é responsável por elucidar os crimes contra o patrimônio no Centro e bairros São Pelegrino, Lourdes, Exposição, Cristo Redentor, Panazzollo, Madureira e São Leopoldo.
ROUBOS A COMÉRCIO EM CAXIAS DO SUL
:: Até 24 de julho de 2017: 119
:: Até 24 de julho de 2018: 56
Redução de 52% no período