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Com as contas de maio pagas graças ao engajamento da comunidade, os recicladores de Caxias do Sul irão retribuir a generosidade: pelo menos 35 trabalhadores já agendaram sua ida até o hemocentro de Caxias do Sul para doar sangue na próxima semana, entre terça e quarta-feira. Trata-se de um agradecimento pela vaquinha digital que alcançou R$ 24 mil para que as 12 associações pudessem arcar com seus compromissos.
Organizada pela ONG Maricotas em Ação, um dos grupos mobilizados para ajudar as associações de recicladores - com mais ênfase durante a pandemia de Covid-19, a ação sensibilizou 227 pessoas entre abril e maio, que contribuíram para atingir os R$ 24 mil estipulados como meta. O dinheiro foi dividido entre as 12 associações de recicladores de Caxias, sendo que três delas, que pagam aluguel de suas sedes, receberam montante um pouco maior. A verba permitiu quitar as contas do mês num período em que a arrecadação caiu drasticamente, por conta de um efeito bola de neve: menor demanda, menos trabalho e menor preço.
- É um período difícil, que nos pegou de surpresa. A campanha foi fundamental, porque não tínhamos como pagar as contas com uma queda que chegou a 90% na arrecadação. Agora o mercado deu uma pequena reagida, o preço do papelão aumentou um pouquinho, o do alumínio também. Se estabilizar, acredito que dê para fechar a conta nos próximos meses. Mas quando lemos que não atingimos nem o pico da doença, vem o medo de que as empresas voltem a ficar fechadas, o que a gente sabe que é necessário, e a situação volte a piorar - comenta Adroaldo Flores, presidente da Associação de Recicladores Centenário.
Além da divulgação na mídia tradicional (a campanha foi publicada no Pioneiro em 29 de abril), foi fundamental para o sucesso da vaquinha o engajamento de outra ONG, a Rede de Máscaras. O grupo, que já ajudava com a doação de máscaras para os recicladores, produziu vídeos em que os trabalhadores contam como é o seu trabalho e a importância que a reciclagem tem para a sociedade e para o meio ambiente. Presidente da Associação Santa Rita, do bairro Planalto, Eliane Paim Borges, considera que, tão importante quanto a ajuda em dinheiro, foi a visibilidade dada ao trabalho:
- A gente se acha invisível aos olhos dos caxienses, pois sabe que muitos não reconhecem a importância e outros sequer conhecem o nosso trabalho, acham que a Codeca é que faz todo o processo. A ação de doação de sangue é o mínimo que poderíamos para retribuir toda essa ajuda. Fico feliz por estarmos mais unidos nesse momento difícil para todos - comenta Eliane.
Adroaldo endossa a opinião da colega:
- As pessoas acham que o ciclo do lixo termina na lixeira, quando na verdade é ali que ele começa. Há todo um trabalho feito depois, que sustenta 300 trabalhadores e suas famílias, além de ajudar o meio ambiente, pelo reaproveitamento. A doação de sangue é um ato importante, principalmente porque a grande maioria estará indo doar pela primeira vez. A gente espera que isso sensibilize ainda mais gente a fazer o mesmo.
O reciclador destaca que uma forma das pessoas se inteirar mais sobre como contribuir para facilitar o trabalho dos coletores e dos recicladores é acompanhar a página "Movimento Catador Legal de Recicladores" no Facebook, onde assuntos como a separação do lixo e o respeito às datas e horários das coletas são abordados, entre outros.
Arrecadação também para compra de EPIs
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Outra ação solidária em benefício aos recicladores foi realizada no último sábado, pela ONG Rede de Máscaras, grupo que já atua em prol desse público com doações e outras ações. A ONG convidou a psicóloga caxiense Nadaby Pites para ministrar uma palestra online, intitulada Limites Com Afeto. Transmitida ao vivo no último sábado, para pessoas que pagaram valores a partir de R$ 30 para assistir, toda a renda foi destinada para o Movimento Catador Legal, para compra de EPIs e produtos de higiene. Foram arrecadados pouco mais de R$ 1 mil. A entrega dos kits será neste sábado
- A gente sabe que eles estão sendo muito afetados por essa crise e que talvez tivessem a necessidade de trabalhar sem os equipamentos de proteção e as precauções de higiene necessárias, por isso tivemos essa iniciativa da live - avalia Andressa Marques, 24, estudante de Serviço Social e integrante da Rede de Máscaras.
A ONG, que também conta com parceria do Escritório Modelo do Curso de Arquitetura da UCS, está ajudando na produção de um minidocumentário em que os trabalhadores irão falar sobre suas rotinas e explicar um pouco sobre como é feito o trabalho de reciclagem em Caxias. A previsão é de que esse conteúdo também seja postado na página do Movimento Catador Legal de Recicladores no Facebook, que concentra a divulgação das ações.