Estima-se que o número de visitantes em Cambará do Sul tenha saltado dos 40 mil, há dez anos, para os 220 mil. Os maiores responsáveis pelo crescimento são os dois parques, Aparados da Serra e Serra Geral, onde ficam os cânions Itaimbezinho e Fortaleza. A estrutura, no entanto, é tão precária que os visitantes se queixam por questões básicas: a ausência de um banheiro em boas condições, a falta de disponibilidade de bebedouro, a impossibilidade de fazer uma refeição no ambiente. O advogado Rafael de Andrade e a administradora Gabriele Alves são da região metropolitana de Porto Alegre e passaram na última terça-feira pelo parque onde fica o cânion Itaimbezinho. Um dia antes, visitaram o Fortaleza.
— Não é recomendável fazer o cânion Fortaleza sem um guia turístico. Não tem uma placa lá. Esses cordões aqui, que protegem o visitante na beira do cânion, também não existem por lá. É lindo demais, mas precisa de mais condições — opina Gabriele.
Os parques nacionais de Cambará foram a última parada turística do casal de aposentados Aloísio Barbosa e Terezinha, de Belo Horizonte (MG). Eles haviam visitado também os municípios de Bento Gonçalves, Gramado e Canela. Ainda que soubessem que a estrutura seria precária _ ou quase inexistente _ nos parques, resolveram arriscar o passeio. Não se arrependeram do que viram, mas afirmam que a visita poderia ter sido ainda melhor:
— O que a gente vê aqui é que não tem administração. Se fosse cobrado R$ 1 por visitante, a renda seria contínua e poderia pagar funcionários e um mínimo de estrutura. Sem falar na estrada, que precisa ser melhor conservada — afirma Aloísio.
SAIBA MAIS
:: Pioneiro na política de concessões, o Parque Nacional do Iguaçu emprega 700 funcionários diretos e tem seis empresas atuando em seu interior, oferecendo serviços como cobrança de ingressos, transporte, alimentação, hotel, ambulatório médico e estacionamento.
:: Hoje o parque, que trabalha com a iniciativa privada desde 1999, é modelo para a nova política de concessões anunciada pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que deve atingir outras 25 unidades.
:: É justamente a busca pelo aumento no número de visitantes e pela melhor qualidade dos serviços prestados nos parques nacionais que justificam a política de concessões, segundo Carlos Minc. De acordo com o ministro, a falta de um plano de manejo (que apresenta medidas para proteger e promover a integração das unidades de conservação ambiental à vida econômica e social das comunidades vizinhas), a pouca visitação e a má conservação das estradas internas e de acesso às unidades devem ser resolvidas.
:: A ideia é que os dois parques de Cambará, Serra Geral e Aparados da Serra, sejam geridos por uma ou mais empresas. O projeto contempla a cobrança de ingressos, criação de estacionamento, centro de visitantes, loja e lanchonete. Há possibilidade de instalação de camping também.
APARADOS DA SERRA
:: É no Parque Nacional Aparados da Serra que fica o cânion Itaimbezinho, o mais famoso da cidade. O parque está distante 18 quilômetros do centro de Cambará do Sul. Os paredões do cânion medem 5,8 km de extensão e 720 metros de profundidade.
:: A visitação acontece de terça a domingo. Na parte de cima, podem ser realizadas duas trilhas: a do Vértice e a do Cotovelo. Há espaços para piqueniques e mirantes para a contemplação dos paredões e das cachoeiras.
:: O parque fica nas divisas dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, já que pertence, além de Cambará, ao município de Praia Grande.
Situação atual
:: A ESTRADA: dos 18 quilômetros de acesso ao parque, apenas um é asfaltado. É preciso atenção e paciência, já que a estrada de chão tem pedras que podem danificar o carro. Leva-se cerca de 40 minutos para percorrer esses 18 quilômetros.
:: A ESTRUTURA: ainda que seja o parque mais equipado, a precariedade está presente em todos os itens. Os bancos espalhados pelo caminho estão, em sua maioria, deteriorados. O ingresso deixou de ser cobrado e há apenas um guarda na guarita que toma nota do nome de quem está ingressando no parque. Há banheiro e bebedouro, e estagiários fornecidos pela prefeitura para dar informações aos visitantes. Não há local para compra de lanches.
:: SEGURANÇA AO VISITANTE: há cordões e placas que sinalizam que não devem ultrapassar nas bordas dos cânions, mas estão em péssimo estado de conservação. A prudência do visitante se torna obrigatória, portanto.
SERRA GERAL
:: É no parque Serra Geral, a 23 quilômetros do centro da cidade, que fica o cânion Fortaleza, considerado o mais exuberante. A grandiosidade do cânion impressiona: são 7,5 quilômetros de extensão, 2 mil metros de largura e uma altitude de 1.240 metros acima do nível do mar.
:: Para chegar ao cânion, é preciso percorrer uma caminhada de 3,2 quilômetros. Há também outras duas trilhas, da Cachoeira do Tigre Preto (dois quilômetros) e Pedra do Segredo (2,7 quilômetros).
:: O parque foi criado em 1992 e fica aberto diariamente, das 8h às 17h. Até 18h, todo visitante precisa deixar o local. Ele fica no limite dos municípios de Cambará do Sul e Jacinto Machado (SC).
Situação atual
:: A ESTRADA: o acesso ocorre pela CS-012, estrada municipal que é uma continuidade da avenida principal, a Getúlio Vargas. Dos 23 quilômetros, cerca de sete ainda não estão asfaltados e estão em péssimo estado de conservação. Para se ter ideia, são necessários quase 40 minutos para percorrer esses sete quilômetros. A exigência de cuidado ao volante fica ainda maior já que não há sinal de telefonia para pedir ajuda no caso de algum estrago no carro.
:: A ESTRUTURA: não há qualquer estrutura ao visitante, exceto um banheiro que fica na guarita de entrada. Um vigia é responsável por anotar o nome do condutor dos automóveis. Não há cobrança de entrada ou estacionamento. Leve água para beber na trilha, já que sequer bebedouro há no espaço. Não há placas que indiquem distância ou periculosidade da trilha.
:: SEGURANÇA AO VISITANTE: não há cordões de isolamento no cânion Fortaleza que impeçam o visitante de chegar à borda, nem informações sobre o percurso para evitar que o caminhante se perca, por exemplo.