
O cardeal italiano Giovanni Angelo Becciu, condenado a cinco anos e seis meses de prisão e destituído de seus privilégios por ordem do papa Francisco, desistiu de tentar participar do conclave que elegerá o novo pontífice. A informação foi divulgada pela imprensa italiana nesta segunda-feira (28).
Em dezembro de 2023, Becciu foi condenado pelo Tribunal do Vaticano por peculato e abuso de poder, em decorrência de seu envolvimento em um escândalo de corrupção. Apesar de ter sido excluído pela Santa Sé da lista de cardeais aptos a votar, ele chegou a afirmar que participaria da escolha do sucessor de Francisco.
— Estarei lá — declarou ao jornal italiano L'Unione Sarda em 22 de abril.
Assessor próximo de Francisco
Aos 76 anos, Becciu já foi uma das figuras mais influentes do Vaticano. Como assessor próximo de Francisco e prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, chegou a ser considerado "papável".
No entanto, sua carreira desmoronou após a revelação de um obscuro negócio imobiliário em Londres, que o levou a ser julgado e condenado por crimes financeiros. Em 2020, o papa Francisco forçou sua renúncia e retirou seus privilégios.
Mesmo após a condenação, Becciu insistiu em sua intenção de participar do conclave, marcado para 7 de maio. No entanto, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado e um dos principais candidatos ao papado, entregou a Becciu dois documentos assinados por Francisco — um de 2023 e outro do mês passado — reafirmando sua exclusão do processo eleitoral.
Segundo o jornal Domani, Parolin também apresentou os documentos aos cardeais reunidos previamente para discutir os preparativos do conclave.
Becciu foi subsecretário de Estado entre 2011 e 2018, trabalhando diretamente subordinado a Parolin durante cinco anos. Sua queda se deu em meio às reformas promovidas por Francisco para tornar mais transparentes as finanças do Vaticano, historicamente marcadas por escândalos e falta de controle.

Compra de imóvel com dinheiro da caridade
Becciu foi citado em uma investigação sobre a compra de um edifício de luxo em Londres, na Inglaterra. Ele teria autorizado a compra do imóvel com verbas que deveriam ser destinadas a obras de caridade, apontou a apuração.
A aquisição custou aproximadamente 350 milhões de euros aos cofres da Santa Sé, aproximadamente US$ 164 milhões, ou R$ 810,1 milhões na época.
O cardeal italiano também foi acusado de desviar verbas para favorecer familiares na Arquidiocese de Sardenha, local onde nasceu. Ele foi condenado pelo Tribunal do Vaticano em dezembro de 2023, com pena de cinco anos e seis meses de prisão pelos crimes de peculato e abuso de poder.
A corte também determinou que Becciu ficaria impedido de assumir cargos públicos pelo resto da vida. Ele recorreu da decisão.
Quem é Giovanni Angelo Becciu
Natural da Sardenha, ilha autônoma italiana, Giovanni Angelo Becciu tem 76 anos — idade que lhe permitiria participar do conclave. Ele foi ordenado padre em 1972.
Becciu exerceu diversos cargos no Vaticano, especialmente como representante diplomático. Ele defendeu os interesses e representou a Santa Sé em países como República Centro-Africana, Sudão, Nova Zelândia, Reino Unido, França e Estados Unidos.
Foi nomeado secretário de Estado substituto do Vaticano em 2011, um dos cargos administrativos mais importantes da Igreja Católica, durante o papado de Bento XVI.
Foi ordenado cardeal em 2018 pelo papa Francisco, que também optou por o manter no cargo como secretário de Estado substituto. No ano seguinte, o pontífice argentino nomeou Becciu como prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.
A partir de 2018, o sacerdote atuou diretamente no despacho de ordens como secretário de Francisco e centralizou a administração de investigações e decisões sobre beatificações e canonizações de novos religiosos.
Quem são os cardeais que podem participar do conclave
O Colégio de Cardeais do Vaticano, que é responsável por escolher o próximo pontífice, tinha, até meados de fevereiro, 135 cardeais registrados na Igreja Católica e aptos a votar.
Para participar da escolha de um papa, os cardeais precisam respeitar uma única regra: ter menos de 80 anos. Durante a sua trajetória à frente da Igreja Católica, entre 2013 e 2025, Francisco nomeou 80% dos cardeais que estão aptos agora para escolher o seu sucessor.
Atualmente, a maior parte dos membros do Colégio de Cardeais tem origem europeia: são 54 europeus, o que representa 40%. Veja a composição atual, de acordo com dados da Santa Sé até fevereiro:
- África: 18
- América Central: 4
- América do Norte: 16
- América do Sul: 17
- Ásia: 23
- Europa: 53
- Oceania: 4
Oito brasileiros integram o Colégio de Cardeais atualmente, sendo que sete estão aptos para votar na próxima eleição papal. Apenas o mineiro dom Raymundo Damasceno Assis, 88 anos, não poderá participar da escolha — mas pode ser eleito pontífice.