Durante a tarde desta segunda-feira, a população caxiense, já ciente das temperaturas baixas, transitava bem munida de agasalhos. Enquanto isso, trabalhadores que atuam ao ar-livre na cidade, apresentavam camadas ainda mais reforçadas de roupas para poder enfrentar longas horas de exposição ao frio.
Frentista há 40 anos, Neide Antonio da Silva, é exemplo de preparo para encarar o ar gélido que surge de todos os lados do estabelecimento onde trabalha, entre as ruas Pinheiro Machado e Marechal Floriano. Com gorro protegendo as orelhas, três camadas de roupa e luvas, ele garante que apesar de tudo, prefere muito mais o inverno do que o verão.
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– Trabalho em dois postos. Acordo às 5h e sigo até as 22h. Por isso, sei que nos dias frios é melhor garantir até porque lido com uma extensa jornada. Mas a situação hoje em dia é bem mais tranquila, são dias isolados de frio. Uma vez durava meses – observa.
Quem transita pela Avenida Júlio de Castilhos já deve ter notado a figura de Jaime Baumgarten com o corpo sob uma placa anunciando "compro ouro". Pouco comum, entretanto, é se deparar com o trabalhador encolhido embaixo de uma marquise como na tarde desta segunda.
– Há 15 anos trabalho na rua, independente de frio, calor, chuva ou sol. Mas dessa vez precisei me abrigar aqui porque lá na esquina (entre a Júlio e a Marquês do Herval) o vento tava muito forte – justifica.
Caso parecido é o de André Ribeiro da Luz, que ajuda a divulgar uma lotérica da área central. A função exige que ele fique parado em um mesmo ponto na calçada por horas.
– Temos que duplicar todas as peças que cobrem o corpo. Sem contar a questão mental. Nestes momentos paramos para refletir "viu só, isso que dá não querer estudar" – relata em tom de humor.
Por outro lado, há quem diga que o trabalho nas ruas ajuda a amenizar o frio. Ao menos é o que assegura a gari Catiele Gonçalves.
– A gente se movimenta bastante varrendo e isso ajuda a aquecer. Mas claro que precisamos estar bem agasalhados, embora não haja proteção alguma para o rosto que fica congelado com esse vento.
O frio que anima
Para setores econômicos as temperaturas baixas representam esperança de lucro. As poucas ocorrências de frio registradas até esse momento do ano inclusive garantiram um estoque recheado em muitas lojas.
O susto causado pela queda nos termômetros, entretanto, teve impactos variados para os diferentes segmentos.
– Muita gente foi pega desprevenida. Só nesta segunda as vendas de aquecedores aumentaram entre 40% e 60%. Em um dia conseguimos alcançar quase a metade do desempenho que tivemos em toda a semana passada. E percebemos muita gente vinda de outros estados pelo sotaque. Porque pelo visto os caxienses já haviam se precavido – afirma o gerente de uma loja de eletrodomésticos, Fabiano Caetano dos Santos.
Já para o proprietário de um café próximo junto à Praça Dante Alighieri, João Luiz Barbieri, o frio representou, só nesta segunda-feira, aumento na venda da bebida em cerca de 40%.
– Normalmente repomos umas três vezes as cafeteiras, enquanto em dias como esse dobramos a quantidade. Produzimos quase 50 litros de café e ainda temos um diferencial que é a possibilidade de adição de graspa – destaca ele, ressaltando a bebida como substituto do lucro aos sorvetes.
Já para o setor de vestuário, o frio pontual ainda não surtiu efeito. Apesar de registrar aumento de vendas, o segmento ainda não se beneficiou o suficiente para criar uma perspectiva otimista.
– Pessoas procuram jaquetas forradas, casacos de lã e roupas mais pesadas. Mas ainda não sentimos um resultado tão efetivo, infelizmente o frio tá chegando um pouco tarde – lamenta a gerente de uma loja de roupas e artigos de cama, Margarete Zanoto.
O frio que castiga
Embora existam mecanismos públicos que busquem amenizar o desconforto da população de rua, muitas vezes, tanto a fragilidade física quanto mental dificultam o acesso dessas pessoas a políticas sociais.
E um dos fatores históricos que agravam a condição de quem se encontra em situação de vulnerabilidade é o frio. Em um ponto conhecido na região leste da cidade, pessoas se espalham na calçada junto a um prédio abandonado. Apesar de estarem com os corpos envoltos por cobertores, o cenário é de visível dificuldade na esquina da Rua José Bisol com a BR-116, em Lourdes.
– Tô com dois cobertores finos, mas a gente já pegou a manha. Estou há dez anos vivendo na rua, hoje já me acostumei, mas os primeiros foram bem complicados – afirma um dos moradores, Valdir Wagner.
Embora viva em condições precárias, ele afirma receber ajuda de muitas pessoas.
– Apesar de muitos ignorarem e outros nos criticarem, a gente recebe bastante ajuda e doações – complementa.