O encerramento das atividades do Instituto de Educação Cenecista Santo Antônio, anunciado no dia 15 deste mês, ocasionou uma série de transtornos para a comunidade escolar, além de representar o triste desfecho de uma instituição com 54 anos de história. Um dos grandes entraves diz respeito à continuidade dos estudos dos alunos inscritos no magistério _ além do Santo Antônio, a única escola que oferece o curso Normal em Caxias é o Cristóvão de Mendoza, colégio estadual que já opera com grande número de estudantes.
Como a inserção das matrículas vindas do Cenecista não estava prevista no cronograma do Cristóvão, alunas do Santo Antônio que estão em fase de estágio correm o risco de poder frequentar novamente uma sala de aula somente a partir do segundo semestre de 2017.
– Nós vamos recebê-las sim, só não sabemos se será no primeiro ou segundo semestre. Não podemos simplesmente parar o ensino delas, é uma questão de bom senso, mas temos limitações – explica a diretora do Cristóvão, Fabiana Simonaggio.
Quem sente na pele os reflexos do encerramento das atividades são pais e alunos, mobilizados desde o anúncio do fechamento. Além de buscar respostas para entender porque não poderão concluir os estudos ali, eles lidam com a frustração de não conseguir um diploma de colégio particular.
– Não é preconceito com os outros colégios, ou com o ensino estadual. É que foram investidos mais de R$ 30 mil para chegar no fim e termos nosso diploma e formaturas negados – desabafa Emanuela Borges Antunes, 17 anos.
A sensação é compartilhada pela colega Stefany Roveda Rodrigues, 17, que já planejava a festa de formatura. Stefany optou por não se matricular no curso de História mesmo após passar no vestibular, pois seria inviável bancar a mensalidade de uma faculdade e a do estágio, que custaria mais de R$ 500.
– É revoltante e muito triste. Eu sonhei desde criança em ser professora, e meus pais fizeram um grande esforço para eu estudar aqui. A notícia veio um dia antes de acabarem as aulas, estamos sem saber o que fazer – afirma a jovem.
Executiva diz que muitos alunos se desmatricularam
O Instituto de Educação Cenecista Santo Antônio justificou o fechamento por operar no vermelho nos últimos anos, garante a secretária executiva da rede Cenecista em Brasília, Gerfânia Damasceno. A tomada de decisão, segundo ela, ocorreu após um grande número de alunos pedir transferência para outras escolas no término deste ano letivo. Os que restaram, teriam se negado a pagar o reajuste de 14,8% no valor da mensalidade.
– O número de alunos, o valor da mensalidade, a inadimplência e o custo da folha de salários fez com que o Santo Antônio fosse bancado pela rede Cnec nos últimos anos – revela Gerfância.
Segundo a secretária, o colégio atendia atualmente 350 alunos. O reajuste proposto para 2017 conseguiria equilibrar as contas mas, com a rematrícula de um número muito inferior ao esperado, a saída foi fechar as portas.
– Compreendemos a tristeza e sabemos que há ali uma comunidade que deixa de ser atendida. Mas quando uma escola funciona pela iniciativa privada, é preciso de recursos para se manter. E isso parece que a comunidade não está entendo – critica.
Menos empregos na rede privada
Além da preocupação com os alunos, estima-se que ao menos 60 profissionais ficaram sem emprego com o fechamento do Instituto Santo Antônio. A preocupação do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Privado (Sintep) é com o pagamento dos encargos trabalhistas. Segundo a entidade, durante 2016, foram necessárias quatro intervenções judiciais para garantir que o colégio pagasse salários em dia, férias ou 13º salário.
– Houve uma assembleia de pais em que o fechamento foi comunicado, mas somente para cumprir a formalidade. Não houve diálogo, nem chance de ouvir os alunos – rebate o diretor administrativo do Sintep, Ademar Sgarbossa.
O Santo Antônio é a segunda unidade da rede Cenecista a fechar na Serra Gaúcha. Em dezembro do ano passado, Instituto de Educação Cenecista Antônio Prado encerrou as atividades, também por problemas financeiros. Por lá, segundo a secretaria de Educação, pais se uniram para solicitar que uma nova rede de ensino assumisse o serviço, ofertado a 145 alunos. Desde então, a Escola Interativa, único estabelecimento particular com Ensino Fundamental em Flores da Cunha, passou a atuar também em Antônio Prado.