Eu havia prometido a mim mesmo que jamais voltaria a esse tema aqui nessas mal-digitadas semanais, porém, não consegui me conter e lá vamos nós de novo, madama, mergulhar na retomada da polêmica do sagu. Mas, também, pudera: como calar quando me chega ao conhecimento, lendo notinha publicada dia desses na coluna “Caixa-Forte”, aqui neste mesmo periódico, divulgando que determinada empresa situada no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, resolveu inovar e passar a vender picolé de sagu? A senhora acredita nisso? Só vendo? Sim, madama, eu também. E vou além: só vendo e lambendo.
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Tempos atrás, ousei revelar aqui minha incapacidade em modelar meu (discutível) gosto gastronômico e equalizá-lo na frequência necessária para conseguir apreciar a sobremesa conhecida como sagu quando servida em temperaturas que variam do morno ao quente, conforme parece ser apreciado pela esmagadora maioria dos nativos e habitantes da Serra Gaúcha. Vi-me praticamente sozinho emparedado na minha estranha preferência por sagu frio e/ou gelado, o que, conforme os relatos que recebi, reveste-se em atitude reveladora de gosto estragado. “Sagu se come quente, senhor cronista”, foi o que aprendi ao meter a mêscola onde não era chamado. Fiquei pensando com os botões de minha manga de camisa que existe uma incoerência nisso, uma vez que, em todos os restaurantes e bufês da região em que a sobremesa de sagu é disponibilizada, ela se apresenta fria, jamais sendo mantida aquecida sobre um réchaud fumegante, e parece ser assim consumida por todos, mas, enfim, havia decidido deixar isso para lá.
Pois bem, mas agora, surge, de dentro das entranhas da Serra Gaúcha, a novidade do picolé de sagu, que, a julgar pelo que se pode depreender pelo uso da lógica e da razão, haverá de ser servido gelado aos consumidores. Bom, se depender dos nativos, vai ser um fracasso. Quem vai chupar picolé de sagu gelado? A gente quer sagu quente, conforme tento aprender, ora, pois, direis bolotas de mandioca! Correm os inovadores gastronômicos do Vale dos Vinhedos o risco de verem a picolezada encalhar nos freezers e derreterem ao abandono.
Ou isso, ou a novidade é mesmo revolucionária: compre o picolé e exponha-o ao sol por trinta minutos, na tentativa de aquecê-lo e torná-lo próprio para o consumo. Ahá! Agora sim, entendi. Porque sagu, né, madama mia, saboreia-se quente ou morno! Quente ou morno! Quente ou morno, sim, sim, entendi! De minha parte, cabeçudo como sou, vou mesmo ver para crer. Degustarei meu saguzinho ao palito devidamente gelado!