
O pontificado do primeiro latino-americano a comandar a Igreja Católica chegou ao fim. O Vaticano informou, nesta segunda-feira (21), a morte do 266º papa da história, Francisco, aos 88 anos. O pontífice esteve internado devido a uma dupla pneumonia por 37 dias no hospital Gemelli, em Roma. Ele recebeu alta em 23 de março e se recuperava no Vaticano.
No Domingo de Páscoa, Francisco apareceu na sacada da Basílica de São Pedro, no Vaticano, para dar a tradicional bênção Urbi et Orbi (à cidade de Roma e ao mundo). Após o discurso, o Papa ainda fez um passeio surpresa pela Praça de São Pedro em seu papamóvel para cumprimentar os fiéis. Ele circulou pela praça por alguns minutos e abençoou alguns bebês, escoltado por vários guarda-costas.
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Na manhã desta segunda, o bispo diocesano de Caxias do Sul, dom José Gislon conta que recebeu a notícia da morte com muita tristeza, destacando que, mesmo na sua doença, Francisco nunca deixou de olhar a realidade da igreja:
— Foi um homem que lutou e serviu a igreja até o fim. Seguramente, ele marcou muito a vida da igreja, a comunidade católica, mas também as instituições, o mundo, pela sua liderança, por essa capacidade de olhar as periferias do mundo, as realidades do mundo de hoje, onde vemos tanta degradação do lado humano, degradação da natureza, e, acima de tudo, esse risco de violência que perpassa também pelas nações. É uma grande perda, mas, ao mesmo tempo, ele deixa um legado que fez história.
Ouça a entrevista completa com o bispo dom José Gislon:
Bispo lembrou da visita do Papa a Caxias do Sul
Em maio de 2022, a sala Paulo VI, também conhecida como Salão das Audiências Pontifícias, no Vaticano, sediou um encontro entre o papa Francisco e 23 representantes de dioceses e arquidioceses do Rio Grande do Sul. À época, mesmo com dificuldade de locomoção, causada por uma lesão no ligamento de um dos joelhos, o pontífice apareceu em cadeira de rodas e conversou com a comitiva de religiosos gaúchos durante cerca de duas horas. O ato integrou a programação da chamada Visita ad limina Apostolorum, realizada pelos religiosos gaúchos que integram o Regional 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O bispo dom José Gislon era presidente do Regional 3 e, na ocasião, abriu as celebrações da programação. Naquela manhã, na audiência com o Papa, ele falou sobre a realidade da igreja no RS e pediu bênçãos ao povo gaúcho. O pontífice relembrou de visitas ao Estado, mencionando um tio de Pelotas, uma ida a São Leopoldo e outra a Caxias do Sul. Ele não mencionou quando visitou estes locais, mas destacou com carinho o fato de ter encontrado, na cidade serrana, muitos moradores que conversavam no dialeto vêneto.
— Foi um momento muito fraterno. O Papa Francisco era um homem que conhecia as nossas realidades, inclusive ele lembrou que ele já esteve aqui em Caxias, e mencionou que tinha visitado a Catedral de Caxias. Então, foi um homem que tinha muita ligação histórica com a nossa realidade — relembrou dom José Gislon.
Ao final da audiência, dom José Gislon entregou uma bandeja com a gravação do mapa do Rio Grande do Sul fabricada por uma empresa da Serra ao representante maior da Igreja Católica.
Legado de Francisco
Para o bispo diocesano de Caxias do Sul, o Papa Francisco deixa um legado e ensinamentos de que a igreja sempre deve ter um olhar fundamentado no Evangelho de Jesus Cristo.
— Ele sempre pensou no princípio de olhar a realidade dos menos favorecidos, de toda a realidade da violência e das guerras. O Papa sofreu muito com as guerras da Palestina e da Ucrânia, com a multidão de refugiados. Ele era muito sensível a isso. E eu acho que essa é uma lição que nós não devemos esquecer — diz.
Outro importante legado do papado de Francisco, segundo o bispo, foi em relação ao diálogo inter-religioso, quando escreveu a Fratelli tutti, sua terceira encíclica:
— Ele lembrou que somos todos irmãos e irmãs, no princípio da criação, e depois também a situação do cuidado com a ecologia, a casa comum, quando ele aborda de forma científica a realidade ecológica, e que nós temos que ter consciência e cuidá-la, para que a vida possa ser possível no planeta. Ele foi um Papa muito ligado à realidade da vida de hoje, do povo de Deus.