
— Esse ano está tudo mais organizado, estamos mais preparados psicologicamente para ficar o dia inteiro na escola.
Essa é a expectativa da estudante Jamile Vitória Kuhn dos Passos, 16 anos, para o segundo ano em que a Escola Estadual João Pilati está sistematizada no modelo Ensino Médio em Tempo Integral (EMTI).
A instituição, em Criúva, no interior de Caxias do Sul, é um dos 296 estabelecimentos de ensino do Estado que contam com carga horária estendida.
Na Serra, nove escolas têm ensino médio em Tempo Integral (veja lista abaixo), em implantação gradativa desde 2023. O programa estreia, neste ano, em três delas: escolas Padre Efrem e Bernardina Rodrigues, ambas de Vacaria, e no Olga Ramos Brentano, em Farroupilha.
De acordo com o governo do Estado, o currículo do programa oferece componentes como projeto de vida, estudos orientados, trilha de qualificação profissional, iniciação científica, disciplinas eletivas e práticas experimentais, clubes juvenis e mentoria. Além disso, são asseguradas quatro refeições diárias para cada estudante.
— Quando vira integral, a escola passa a ter mais recursos para garantir a alimentação e as atividades pedagógicas — garante o subsecretário de Desenvolvimento da Educação, Marcelo Jeronimo Rodrigues Araújo.
Após um 2024 de "sobrevivência" na Escola João Pilati, como define a diretora Greici Lorandi, em razão da necessidade de adaptação de alunos, professores e pais, a promessa é por mais fluidez nas atividades em 2025, com a integralização, também, do segundo ano do Ensino Médio. Em 2026, será a vez de incluir o "terceirão". Ou seja, a implantação é progressiva.

O dia a dia
No ensino integral, são nove períodos diários de 55 minutos: a aula se inicia às 7h30min e se encerra às 16h45min. De manhã, o estudante da Escola Estadual João Pilati Lucimar dos Reis Machado, 16, acorda ainda mais cedo, porque mora a 40 minutos de distância, na comunidade de São Francisquinho. Para o deslocamento, ele — e os alunos que necessitam — contam com transporte gratuito fornecido pela escola.
— Me sinto bem, não é ruim ficar o tempo inteiro na escola. Tem que ajudar o pai em casa, mas ele entende que ficar mais na escola é melhor — diz.

A disciplina projeto de vida é o carro-chefe do Ensino Médio em Tempo Integral, segundo a diretora Greici. Os adolescentes são provocados pelos professores a refletirem sobre quais são seus sonhos. Após escritos em papéis, são colados na "árvore dos sonhos". A partir daí, as metas dos estudantes são trabalhadas como complemento das atividades.
— Pegamos os sonhos deles e trazemos como aliados da escola — destaca a educadora.
Já no primeiro ano, os jovens precisam escolher uma trilha de aprofundamento curricular para trabalhar nas séries posteriores, dentro das áreas do conhecimento de linguagens, matemática, e ciências humanas e da natureza. Há opções ligadas ao empreendedorismo, sustentabilidade e educação financeira, por exemplo.
Ainda, a João Pilati dispõe, conforme Greici, de uma trilha de qualificação profissional de agricultura, que se encaixa com a realidade da instituição, inserida em uma área rural. Está sendo preparada, inclusive, uma lavoura aos fundos para atividades práticas.
Para a Ana Caroline Camello, 16, são oportunidades de aprendizagem para aplicação na vida adulta:
— Vamos plantar mudas, cultivar sementes. Vai ser mais prático, que é o que estamos acostumados no nosso dia a dia em casa. A maioria dos estudantes daqui trabalha no ambiente rural, e praticar isso dentro da escola vai ser muito importante.

Atividades práticas e esportivas
Uma das novidades bem avaliadas pelos estudantes no ensino integral são as disciplinas eletivas. De acordo com o governo do Estado, é ofertada nesse segmento a investigação de temas, de conteúdos e de áreas que colaborem com os componentes curriculares obrigatórios e com os itinerários formativos.
A estudante Jamile Vitória lembra que, no ano passado, ela e os colegas fizeram vasos e potes de argila, dentro da eletiva Do barro ao jarro.
— Cada eletiva é uma emoção. Aprendemos muito — revela a adolescente que quer ser agrônoma ou psicóloga.

Os esportes não ficam de fora. Na João Pilati, há clubes juvenis dedicados ao futebol e ao vôlei. Cada time tem o seu uniforme próprio, treina todas as semanas e participa de campeonatos na região.
O Lucimar integra a equipe de futebol, enquanto a Maria Luiza Soldera, 16, e a Jamile defendem o time de vôlei.
— Os clubes e as eletivas são o que mais gosto na escola integral, porque temos contato com atividades práticas. Se não, seria aula o dia inteiro — reflete Maria Luiza, que pretende seguir na área da biologia ou da pedagogia.
A diretora Greici complementa:
— A escola integral tem que entregar para a sociedade um jovem competente, autônomo e empático, não basta apenas trabalhar conteúdo de sala de aula.
Desafio aos professores
Atualmente, o quadro de professores da João Pilati conta com 24 profissionais. Greici garante que não houve aumento da carga horária quando a escola se tornou integral:
— Eles não tiveram aumento na carga horária. Todos os professores da rede estadual trabalham 32 períodos em sala de aula e eles têm oito períodos de atividade na escola e mais 10 períodos, em um dia, para atividades em casa.
A maior dificuldade, por outro lado, está ligada à permanência de professores que não moram em Criúva — região que fica a mais de uma hora de distância do centro da cidade.
— Os professores que não são da vila são os que mais sentem. A maioria não é daqui, vem de São Marcos, de Caxias, então acho que o que eles mais sentem é o fato de ficar o tempo todo na escola — conta.
Para dar conta do Ensino Médio em Tempo Integral, os colaboradores recebem capacitação do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE). A instituição de ensino integralizada também tem apoio de um profissional da 4ª Coordenadoria Regional da Educação (CRE), a cada 15 dias, que avalia e orienta o trabalho.
O que dizem as diretoras

Jussára Biscoli De Pizzol, diretora do Colégio Olga Ramos Brentano, em Farroupilha, explica que a implementação foi precedida por uma consulta à comunidade no final de 2024, na qual a maioria dos moradores manifestou apoio à nova modalidade.
— O novo modelo permite uma abordagem mais abrangente do desenvolvimento dos adolescentes, oferecendo não apenas preparação acadêmica, mas também qualificação para o mercado de trabalho e fortalecimento das relações interpessoais — avalia.

Marister Caon Borges Rodrigues, diretora da Escola Técnica Bernardina Rodrigues Padilha, em Vacaria, também confirma que a proposta foi bem recebida pela comunidade escolar, especialmente pelas famílias:
— Muitos responsáveis trabalham no agronegócio e permanecem afastados de casa durante grande parte do dia, e, por isso, sentem-se mais tranquilos ao saber que seus filhos permanecem na escola em segurança por um período estendido. A experiência tem revelado avanços importantes no envolvimento dos alunos, que demonstram interesse pelas novas práticas pedagógicas. Ao mesmo tempo, a implementação de um novo modelo educacional exige o enfrentamento de desafios.

Vera Regina Zanotto e Silva, diretora da Escola de Ensino Médio Padre Efrem, em Vacaria, está confiante com o processo.
— Notamos que está sendo muito bom e aceito, não estamos tendo problemas de disciplina na escola, os alunos estão sempre envolvidos em alguma atividade. Os pais estão gostando porque os alunos vão levar uma carga maior de conhecimento para a vida. Ficamos com medo, no início, de ter a resistência do aluno porque eles estão numa fase em querem estudar em um turno e trabalhar no outro, porque precisam de dinheiro. Mas com essas bolsas que o governo está dando, está ajudando — diz.
Escolas estaduais integralizadas na Serra
4ª CRE, com sede em Caxias do Sul
Quatro escolas:
- Colégio Estadual Olga Ramos Brentano, em Farroupilha - Implementação em 2025
- Escola Estadual de Ensino Médio João Pilati, em Caxias do Sul - Implementação em 2024
- Escola Estadual de Educação Básica Neusa Mari Pacheco, em Canela - Implementação em 2023
- Colégio Tiradentes Caxias do Sul - Implementação em 2023
23ª CRE, com sede em Vacaria
Três escolas:
- Escola Estadual de Ensino Médio Padre Efrem, em Vacaria - Implementação em 2025
- Escola Técnica Estadual Bernardina Rodrigues Padilha, em Vacaria - Implementação em 2025
- Escola Estadual de Ensino Médio Padre Pacífico, em Vacaria - Implementação em 2024
16ª CRE, com sede em Bento Gonçalves
Duas escolas:
- Colégio Estadual São Luiz Gonzaga, em Veranópolis - Implementação em 2024
- Colégio Estadual Landell de Moura, em Bento Gonçalves - Implementação em 2024