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Caxias do Sul está entre os 124 municípios brasileiros que integram uma pesquisa nacional sobre a saúde e a nutrição de crianças de até seis anos. Nomeada como Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani 2024), a iniciativa pretende reunir informações sobre as práticas de aleitamento materno, os hábitos alimentares, o peso, a altura e possíveis deficiências de vitaminas e minerais de 280 crianças caxienses.
Desde novembro do ano passado, após a fase de mapeamento das moradias, cinco entrevistadores identificados com crachá e camiseta do Enani estão visitando famílias do município. Apesar de a participação ser voluntária, eles têm enfrentado recusas de alguns pais em responderem ao estudo.
Segundo a supervisora da pesquisa no Estado, Carla Adriana Araújo, no primeiro encontro são realizadas perguntas que envolvem, por exemplo, a alimentação da criança no dia anterior, como foi o período de amamentação, entre outras questões também sobre a mãe ou cuidador. A partir daí, é agendada a coleta de sangue domiciliar para as crianças. Carla afirma que esse é ponto que gera receio dos pais, mas reforça que a ação é realizada por um laboratório conveniado e por pessoas especializadas.
— Estamos enfrentando um pouco de resistência das pessoas justamente por essa coleta de sangue, porque as mães ficam um pouco receosas. Mas reforçamos que a coleta de sangue não é feita por qualquer pessoa, e sim por um laboratório credenciado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), e por uma pessoa capacitada. No caso de Caxias, fizemos uma parceria com o laboratório do Hospital Virvi Ramos — afirma.
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Conforme o coordenador da pesquisa no RS, Ernesto Saraiva, após 60 dias da coleta de sangue, as famílias têm acesso aos resultados dos exames gratuitamente. Serão realizados hemograma completo e análise de marcadores de deficiência de vitaminas e minerais, como ferro e vitamina A. Além disso, se for identificado algum problema de saúde, a criança é encaminhada para atendimento na unidade básica de saúde (UBS) de referência.
Na última terça-feira (18), o coordenador e a supervisora da pesquisa no RS se reuniram com representantes da secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Caxias e solicitaram apoio na divulgação do estudo.
O levantamento também ocorre em Porto Alegre, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Canoas, Viamão, Gravataí, Pelotas, Rio Grande e Santa Cruz do Sul. A expectativa da organização é que sejam aplicadas 1.060 entrevistas no RS. Saraiva afirma que, das 10 cidades gaúchas que participam do estudo, Caxias é a mais atrasada até o momento, sendo que apenas cerca de 20 entrevistas foram realizadas. A previsão é que o processo seja finalizado até maio, com apresentação dos resultados até o fim do ano.
A pesquisa é do Ministério da Saúde (MS), sendo conduzida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo o MS, outro objetivo é conhecer o cenário alimentar e nutricional das crianças brasileiras depois da pandemia de covid-19. Os dados informados são sigilosos e, quem tiver dúvidas, pode entrar em contato pelo 0800 888 0022 ou pelo site do Enani.
Quem aplica a pesquisa
Os domicílios visitados pelos entrevistadores foram sorteados a partir dos registros do Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e ficam em diversos bairros. Segundo o coordenador da pesquisa no RS, os pesquisadores são as pessoas que mais se destacaram como recenseadores do Censo. Em todo o Estado, são 19.
Na manhã da última quarta-feira (19), a entrevistadora Eronita Paim foi em residências do bairro Fátima. Ela destaca que, quando as mães aceitam serem entrevistadas, ela é bem recebida. Além disso, reforça que todas as respostas informadas pelos pais são mantidas em sigilo.
— A pesquisa é extensa, demora de duas horas e meia a três horas, dependendo das famílias, pois ela é bem específica sobre a alimentação das crianças. A única coisa que nos deixa chateados é a questão das recusas — sintetiza a pesquisadora.
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A dona de casa Ivonete Ribeiro de Carvalho, 40 anos, mãe da pequena Kemilly Vitória, cinco, foi uma das pessoas que aceitou receber a entrevistadora:
— A minha menininha come bastante arroz e feijão, então eu acho bem importante essa pesquisa, até para nos ajudar a cuidar da alimentação das crianças para que, ali na frente, elas não tenham nenhum problema de saúde.
Resultados da primeira edição
Em 2019, na primeira vez em que foi realizado, o estudo fez uma análise sobre a deficiência de vitaminas e minerais e identificou que 10% das crianças brasileiras têm anemia. A partir desse resultado, o Ministério da Saúde reformulou o Programa Nacional de Suplementação de Ferro.
A pesquisa também mostrou que uma em cada quatro crianças de até cinco anos não come frutas diariamente e que nove em cada 10 crianças mantém uma dieta em que os alimentos ultraprocessados estão presentes, o que pode levar a problemas de saúde na infância e na vida adulta, como obesidade, hipertensão e câncer.
O Enani 2019 revelou também que metade das famílias brasileiras com crianças na faixa etária do estudo vivia em insegurança alimentar. Para este ano, a meta da pasta é atualizar essas informações e aprofundar o estudo.