No segundo mandato como vereador, professor da rede municipal, filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) desde os 16 anos e com uma trajetória marcada pelo movimento estudantil, Lucas Caregnato assumiu o cargo de presidente da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul no dia 1º de janeiro. Em entrevista para o programa Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha Serra, o vereador Lucas Caregnato falou sobre a abertura do ano legislativo, nesta terça-feira (4), e como irá conduzir os trabalhos na Câmara de Vereadores durante a sua gestão na presidência da mesa diretora. Confira a entrevista:
Gaúcha Serra: Qual marca pretendes dar para a sua gestão na condução dos trabalhos ao longo deste ano?
Lucas Caregnato: Assumimos este desafio de presidir a segunda maior casa legislativa de vereadores do Estado do Rio Grande do Sul, e, com muito afinco, desde o dia 1º de janeiro, estamos trabalhando. Muitas demandas da Casa, de infraestrutura, de organização, questões burocráticas, estavam pendentes. Assumimos e, juntamente com a direção-geral, o meu diretor Ricardo Barazzetti, e os servidores, a quem eu agradeço imensamente, estamos organizando a Casa a fim de bem receber os vereadores da 19ª legislatura. E que todos e todas possamos desempenhar nossos papéis. Sou vereador de segundo mandato, tenho uma trajetória no movimento estudantil, sou professor da rede municipal, filiado ao meu partido desde os 16 anos, e a minha formação fez eu chegar até aqui, valorizando imensamente a democracia. Por mais que pareça algo clichê, é importante, em tempos de uma certa tendência a setores da sociedade aviltarem a democracia, é importante que o parlamento seja um espaço de diálogo, da construção de consensos. E que nas divergências o respeito seja mantido. É esse o tom. Desde o primeiro dia, recebemos muitas entidades representativas de sindicatos patronais, dos trabalhadores, religiosas, educacionais, da sociedade civil, demonstrando o interesse que temos em ouvir e construir as melhorias que a cidade necessita. Vamos anunciar que iremos fazer uma rodada de idas da Câmara aos bairros da cidade. Estaremos pautando temas que a cidade precisa se debruçar, tendo em vista o futuro incerto que se apresenta nas questões climáticas, relacionadas à saúde e tantas outras. Caxias, pela potência que tem, precisa estar preparada para enfrentar todos esses desafios.
Esse é um projeto aos moldes Câmara vai aos bairros, como a Casa já promoveu em anos anteriores?
Estamos remodelando essa ideia, mas entendemos que o Parlamento é um espaço tão importante. Sou professor da rede municipal, já trabalhei no Ensino Médio, no Ensino Superior, mas quando conversava com os meus alunos lá do Ensino Fundamental dizia a eles que, por mais que não entendessem, ou que eles ou os pais não gostassem da Câmara, decisões como a questão da saúde, o médico no postinho, o ônibus, a UBS, o professor da escola, tudo isso passa também pela Câmara de Vereadores. Temos que fazer um movimento ao inverso. Em vez de esperar que as pessoas se dirijam até a Câmara, o Parlamento precisa estar nos bairros. Vamos fazer esse movimento, da estrutura da Câmara cobrir as regiões da cidade. Ontem (segunda, 3) nós divulgamos um texto que foi publicado no jornal Pioneiro, e no título do texto nós escrevemos: "Parlamento caxiense: espaço da participação popular e dos grandes debates". A campanha eleitoral de 2024, por meio de todos os candidatos à prefeitura, inclusive o prefeito reeleito, falaram que a cidade precisa retomar o seu espaço. Caxias parece que foi se apequenando, caminhando cada vez mais devagar. E para essa Caxias, que precisa se agilizar, ter políticas públicas que deem conta de atender saúde, educação, transporte público, ser catalisadora de grandes debates, relacionada com o governo do Estado, com o governo federal, com o Poder Judiciário. Brevemente apresentaremos um calendário, fazendo uma relação com os outros poderes e com os outros entes federados, para pensar em questões estratégicas que a cidade precisa.
O que se projeta ao longo do ano como principais temas que precisam ser debatidos?
Eu circulo muito nos bairros, e questões fundamentais do dia a dia das pessoas não estão resolvidas. O transporte público é um problema já de alguns anos, em que faltam linhas, horários, as pessoas se atrasam. Imagino que o transporte público seja um deles. A saúde nem se fala, temos filas imensas para as consultas especializadas, as UBS com problemas estruturais, falta de médicos e remédios, bem como a educação. Logo mais teremos o início do ano letivo e a falta de vagas volta a continuar. A Câmara de Vereadores, na sua responsabilidade fiscalizatória, vai precisar cobrar do Poder Executivo que tome ações ágeis, para garantir que a população tenha políticas públicas básicas para que possam viver em harmonia na nossa cidade. Essas são questões fundamentais, mas, além dessa, eu tenho me reunido com o prefeito constantemente, ontem (segunda, 3) estivemos juntos na posse do deputado Pepe Vargas, aliás, a primeira vez na história que temos o presidente da Assembleia Legislativa e da Câmara de Vereadores da mesma cidade e do mesmo partido aqui em Caxias do Sul. Mas falava com o prefeito Adiló (Didomenico) para a questão do Magnabosco, tem a questão de Vila Oliva, em razão das chuvas, das questões climáticas, várias áreas de risco na cidade que precisam de investimento. Na próxima semana iremos a Brasília para várias reuniões, tem no Ministério das Cidades para tratar das áreas de risco. Reuniões articuladas pela deputada Denise Pessôa. Várias outras de áreas relacionadas a saúde, educação, infraestrutura. A Câmara, como espaço representativo das diferentes forças políticas, estará trabalhando muito, dialogando sempre que solicitada pelo Poder Executivo, para contribuir na construção de uma cidade melhor para todas as pessoas.
É uma tendência de que o ano no Legislativo tenha assuntos mais fortes, mais polêmicos. Como serão lidadas essas questões?
Já de uma legislatura em que vários momentos de tensão aconteceram, e faz parte da política a divergência, tendo em vista as diferentes correntes ideológicas. Fui muito questionado pela imprensa sobre como me sentia sendo presidente da Câmara de um partido de oposição ao prefeito Adiló. Sei que ele foi questionado também. Na democracia isso deveria ser entendido como absolutamente normal, faz parte, temos poderes harmônicos, mas independentes entre si. Bem como essas discussões ideológicas que fazem parte do dia a dia. Todas essas discussões precisam se relacionar com as necessidades da cidade. Na função de presidente, vamos seguir o regimento, pautar as discussões dentro daquilo que a legalidade determina, cobrando sempre o respeito e, enfim, que o rito seja respeitado. Eu sempre tive uma posição, enquanto vereador na legislatura passada, a minha primeira, de estar atento aos temas mais macros. Para mim, eles não estão fora das questões da cidade. A questão federal, a internacional, a macroeconômica, tudo faz parte, está relacionado às questões do bairro e do dia a dia das pessoas. Enfim, isso tudo precisa acontecer dentro da normalidade, mas, acima das nossas divergências, o Poder Legislativo precisa se fortalecer em todas essas pautas.
Com o início de uma nova legislatura, como foi o primeiro mês de receptividade dos novos vereadores?
Tivemos uma sessão extraordinária em janeiro e recebi vários dos colegas vereadores trabalhando. São os colegas de trabalho acima de tudo. Vários reuniram comigo tirando dúvidas, solicitando questões internas da Casa. Temos um número muito significativo de indicações. Indicações são possibilidades regimentais onde o vereador ou a vereadora solicita ao Poder Executivo explicações ou melhorias em determinados assuntos da cidade. Isso demonstra que todos os colegas vereadores têm trabalhado muito e estão aí atuando nas respectivas frentes, nos bairros que têm relação, nos temas. Estou muito otimista e penso que vamos ter uma legislatura muito profícua pensando na resolução dos problemas que a nossa cidade tem.