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No primeiro ano em que mulheres podem se inscrever para o alistamento militar voluntário, as jovens caxienses Sofia Helena Andrade e Karoline Angenendt de Candido terminam o Ensino Médio no Colégio Tiradentes da Brigada Militar, em Caxias do Sul. Para as duas, a possibilidade inédita é a realização de um sonho.
Até esta quinta-feira (6), 1.493 gaúchas se inscreveram no alistamento militar voluntário feminino no Rio Grande do Sul, de acordo com dados divulgados pelo Comando Militar do Sul. O total de vagas destinadas para o Estado é de 141. No Brasil, foram registradas pouco mais de 23 mil inscrições, com 1.465 vagas ofertadas.
Apesar de o recrutamento ter iniciado em 2025, a incorporação das soldados ocorrerá somente a partir de 2026. Por isso, as duas jovens caxienses que terminam o Ensino Médio neste ano já vislumbram a possibilidade de emendar o fim dos estudos com a carreira no Exército.
— É uma sensação muito boa de ser exatamente no ano que a gente vai sair do colégio. Para mim, desde criança, sempre achei triste não poder entrar direto no quartel igual aos meninos. A gente teve uma palestra com tenentes da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e elas falavam que são tratadas exatamente como os homens lá e acho que isso é muito importante — comemora a estudante Sofia Andrade.
Para a colega Karoline, a possibilidade de se alistar se traduz no sentimento de ser capaz:
— Ser tratada da mesma maneira já é um grande passo.
O serviço militar não será obrigatório ao público feminino, mas passa a permitir a inscrição de jovens que completarem 18 anos entre janeiro e junho do ano vigente. A regulamentação assinada pelo presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, e pelo ministro da Defesa, José Múcio, em agosto de 2024, alterou a regra anterior que não permitia o alistamento militar feminino. Até então, para ingressar no serviço e seguir carreira, as mulheres precisavam prestar concurso público em órgãos das Forças Armadas como Marinha do Brasil e Aeronáutica, por exemplo.
— A gente quer estar no meio militar. Tem vários exemplos ao nosso redor de mulheres que, a todo momento, estão subindo cada vez mais (na carreira militar). Eram soldados e se tornaram sargentos. O céu é o limite, né? — diz Karoline.
As duas ainda têm dúvidas em relação a escolha entre o Exército Brasileiro e a Brigada Militar, mas como já têm a experiência da BM por meio dos três anos de estudos no Colégio Tiradentes, o alistamento será uma possibilidade de conhecer mais os processos das forças de segurança nacionais.
— Por conta do colégio, o pessoal do quartel, às vezes, vem aqui. Para mim é muito bonito, tanto a farda deles, como a forma como eles agem. Então, além de querer descobrir o que eu quero, acho isso tudo muito interessante — diz Sofia.
A transição entre o Colégio e a carreira nas Forças Armadas não deve ser tão impactante para as duas, já que a rotina, segundo as estudantes, tem semelhanças:
— Aqui a gente é um pequeno quartel. Acho que a gente já está meio habituada com eles. Muitas pessoas perguntam se quando saímos do colégio já somos militares, mas como todo mundo, a gente tem que prestar concurso. Acho que o nosso diferencial é que já estamos habituados com os ritos militares, com a rotina. Acordar cedo, disciplina, a farda. A gente não sai militar, mas sai com os mesmos princípios que eles — afirma Karoline.
Critérios
Ao se alistar, as voluntárias serão submetidas ao processo seletivo militar. Nesta etapa, testes físicos, psicológicos, de cultura e moral são aplicados.
Também há possibilidade de uma nova etapa de inspeção de saúde, com avaliações de exames clínicos e laboratoriais. O objetivo é atestar que a voluntária pode exercer o serviço militar sem limitações.
Voluntárias que não comparecerem em alguma etapa do processo seletivo serão consideradas desistentes da vaga. Caso selecionadas, após concluírem o serviço militar, as mulheres passarão a compor a reserva não remunerada das Forças Armadas, sem estabilidade da carreira militar.
Como se alistar
A primeira fase do processo é o alistamento. Depois disso, as candidatas ainda vão passar por outras quatro etapas: seleção geral, seleção complementar, distribuição e incorporação. Quem for selecionada vai ingressar no primeiro ou segundo semestre de 2026.
A duração do serviço militar será de 12 meses, podendo ser prorrogada por até oito anos.
As jovens interessadas podem se inscrever até 30 de junho de forma online, por meio do site do Ministério da Defesa, ou presencialmente, em uma das 28 Juntas de Serviço Militar localizadas em 13 Estados e no Distrito Federal.
Para fazer a inscrição, a candidata deve morar em um dos municípios contemplados com vagas, apresentar a certidão de nascimento ou prova de naturalização, um comprovante de residência e documento oficial com foto, como a identidade ou carteira de trabalho.
Atualmente, as Forças Armadas têm 37 mil mulheres, cerca de 10% do efetivo.
São 141 vagas no Rio Grande do Sul para alistamento militar de mulheres. As posições previstas para o Estado estão concentradas em unidades militares de Porto Alegre, Canoas e Santa Maria.