Maior carga horária para disciplinas tradicionais e espaço reduzido para os itinerários formativos. O ano letivo de 2025 no Ensino Médio gaúcho, que começa na próxima segunda-feira (10), trará de volta o modelo de aula que prioriza a Formação Geral Básica, ou seja, mais tempo destinado para os conteúdos regulares.
A mudança, anunciada em agosto do ano passado, após o Governo Federal sancionar uma lei que reestruturou o Ensino Médio, atende a reivindicações de uma parcela da comunidade escolar, que apontava perdas de aprendizado no modelo do Novo Ensino Médio, implantado em 2021.
Na prática, serão 2.400 horas distribuídas nos três anos do Ensino Médio, entre as disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática, Inglês, Artes, Educação Física, Biologia, Física, Química, Filosofia, Geografia, História e Sociologia. Até então eram 1.800 horas reservadas para Língua Portuguesa e Matemática, conteúdos obrigatórios e outras 1.200 horas para os itinerários informativos.
Os itinerários formativos, que exploram temas direcionados, permanecerão nas grades curriculares, contudo com carga horária mínima de 600 horas. Conforme o Ministério da Educação (MEC), essas aulas servirão como aprofundamento das áreas do conhecimento que os estudantes tenham maior interesse.
Conforme o cronograma do MEC, as mudanças começam a ser adotadas no primeiro ano do Ensino Médio em 2025. No próximo ano, as alterações serão implementadas no segundo ano e, em 2027 o terceiro ano receberá as aulas com maior carga horária de Formação Geral Básica.
Consultada, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informou que uma nova matriz curricular será adotada em 2025 nos primeiros anos do Ensino Médio. Já os segundos e terceiros anos terão uma matriz de transição. Dessa forma, nenhuma escola da rede estadual gaúcha manterá o formato do Novo Ensino Médio.
Conforme a titular da 4ª Coordenadoria Regional da Educação (CRE), Viviani Vanessa Devalle, o foco desse nova fase do ensino médio é garantir o desenvolvimento das habilidades e competências, alinhadas com a nova matriz curricular.
— A estratégia foi pensada para que nenhum estudante fique prejudicado nesse período de mudanças. Todo o processo de adaptação vai acontecer focando nas especificidades de cada realidade — pontua.
Na avaliação dela, as trilhas de aprendizado representaram um papel importante no desenvolvimento dos alunos, auxiliando a aprofundar habilidade e competências interligados com os interesses dos próprios estudantes.
Impressões de quem viveu as trilhas
Educação personalizada, com protagonismo do estudante no processo de aprendizado. O Novo Ensino Médio trouxe a possibilidade de os próprios alunos escolherem as áreas que queriam aprofundar o conhecimento. Entre os estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio Rachel Calliari Grazziotin, de Caxias do Sul, a autonomia foi encarada como uma oportunidade para descobrir aptidões e começar a planejar o futuro profissional.
— No segundo ano a gente estudou sobre a área da saúde, o funcionamento da máquina humana, complementando a disciplina de biologia. Essa parte foi muito boa para mim, que penso em estudar Educação Física. Me desenvolvi pensando no futuro, no que quero fazer para a minha vida — comenta a estudante Layana Bianca dos Santos de Brito.
A aluna Rebeca da Silva Madeira compartilha da mesma experiência da colega. Contudo, sente receio com as provas do Enem e vestibular, que mantém o foco em conteúdos tradicionais, que dependendo da trilha escolhida, não foram abordados no segundo ano.
— Gostei muito do ensino com a trilha, até porque consegui aprofundar a área da saúde, que é o quero seguir. A gente ouviu algumas queixas, que faltou conteúdo para o Enem. Eu sabia que a gente precisa focar e estudar em casa, então essas coisas me deixam aflita. Acho que a trilha foi muito boa para os alunos se encontrarem profissionalmente, mas pensando no Enem e no vestibular, o modelo com os conteúdos tradicionais faz mais sentido — conclui.
Recém-formado no ensino médio, o estudante Gabriel Frigotto Venturin precisou conciliar o estudo fora da escola para prestar o vestibular e o Enem. Segundo ele, os conteúdos de química foram os mais desafiadores para dominar antes das provas.
— Senti falta de conteúdos que não tinha visto na escola. Acabei estudando por conta, com vídeos e os aulões. Por esse lado eu fui protagonista do meu ensino, tendo que ir em busca das coisas. Mas é um processo bem difícil. É um conteúdo novo, que nunca vi, então precisa de tempo para aprender. Acho que esse é o ponto de vista negativo desse formato — indica.
Para Marthina Iasmin de Campos, que neste ano cursa o segundo ano do Ensino Médio, a proposta de aulas com as trilhas tornava o estudo mais desafiador e dinâmico. Ela terá esse ano para explorar o conteúdo aprofundado, em uma das turmas com o currículo transitório.
A responsável pela 4ª Cre, Viviani, defende que as trilhas não representaram uma perda de conteúdo, mas deram espaço para potencializar o aprendizado dentro das áreas de conhecimento escolhidas.
— As trilhas ampliam a compreensão dos conteúdos, fortalecem as conexões entre teoria e prática e prepararam os estudantes para enfrentar desafios acadêmicos e profissionais de maneira mais sólida. Vimos estudantes com mais autonomia, pensamento crítico e visão ampla. Essas características de ensino serão mantidas, mas em uma parcela menor — explica.