Até março, mês do aniversário de Porto Alegre, vamos contar, uma vez por semana (aqui, no Perimetral Podcast, na Rádio Gaúcha, em ZH e nas redes sociais), histórias e curiosidades por trás de canções que se tornaram símbolos da capital gaúcha.
A série Hinos de POA começou com Flávio Bicca Rocha, autor de Horizontes, canção que surgiu na peça Bailei na Curva. Agora, é a vez de Amigo Punk, escrita por Frank Jorge e Marcelo Birck, da banda Graforréia Xilarmônica.
Antes de seguir lendo, uma dica: Frank se apresenta na noite desta sexta-feira (7), a partir das 19h, no Bar do Alexandre (Rua Saldanha Marinho, 132, bairro Menino Deus), em Porto Alegre. No sábado (8), às 22h, o artista estará com Maurício Chaise no palco Ulbra Multi RS, do Las Ramblas, em Atlântida, no Litoral Norte.
A história da canção "Amigo Punk"
A duvidosa imagem de um punk montado a cavalo, com uma chinoca na garupa, atravessando a Avenida Osvaldo Aranha, virou um brasão sentimental do underground porto-alegrense. Mais do que isso: tornou-se um hit gaúcho.
Gravado pela Graforréia Xilarmônica pela primeira vez em 1987 (em uma fita K7 no extinto bar Vortex, dos Replicantes), o causo nonsense saiu da cabeça de Frank Jorge, em parceria com o músico Marcelo Birck, companheiro de banda.
— Lembro que a gente tocava na lavanderia da casa, na Rua Carlos Trein, e tentava de tudo. Até que um dia minha irmã disse: "Vocês estão por fora, têm de fazer como o Renato Borghetti". Fiquei com aquilo na cabeça, então decidi juntar a música tradicional, que a gente ouvia em casa, com uma cena improvável da boemia porto-alegrense — conta Frank.
Desde menino, Frank ouvia discos de Paixão Côrtes, que pertenceram ao falecido pai, e canções de tango, as preferidas da mãe. Essa bagagem foi decisiva para o nascimento da milonga roqueira que viria a se tornar o maior sucesso do grupo.
— A gente curtia o som tradicional, mas também ouvia rock e frequentava os bares da Osvaldo Aranha. Ali existiam muitas tribos. Eu tinha amigos punk e queria muito fazer uma letra que tivesse uma narrativa, como na Jovem Guarda, como Os Sete Cabeludos e Feio (gravadas por Roberto Carlos). Então eu imaginei essa história — recorda o artista.
Depois que Frank concluiu o rascunho original, Marcelo complementou a letra (inserindo, por exemplo, o trecho sobre Woodstock). Embora tenha sido registrada em 1987, a canção só estourou mesmo na década de 1990, com o lançamento tardio do primeiro disco da banda (Coisa de Louco II, em 1995).
Desde então, Amigo Punk entrou para a galeria dos clássicos e é até hoje entoada nas rodas de violão. O motivo? Frank arrisca uma resposta:
— O gaúcho, de um modo geral, tem ânsia de urbanidade, de cosmopolitismo, mas tem uma saudade rural, da querência. Acho que a música, tocada com baixo, guitarra e bateria em um ritmo latino-americano, une essa coisa cosmopolita com a permanente saudade rural, do cheiro da querência, do pago.
Formada por Frank (baixo e voz), Marcelo (guitarra e voz), Carlo Pianta (guitarra e voz) e Alexandre Birck (bateria e voz), a Graforréia continua curtindo a velha “cordeona” e segue firme, desde sempre, detonando o seu eterno e genial hardcore.
A letra
Amigo Punk*
Amigo punk
Escute este meu desabafo
Que a esta altura da manhã
Já não importa o nosso bafo
Pega a chinoca, monta no cavalo
E desbrava esta coxilha
Atravessa a Osvaldo Aranha
E entra no Parque Farroupilha
Amanhecia e tu chegavas em casa com asa
A tua mãe dá bom dia
E se prepara pra marcar
O gado com o ferro em brasa
E não importa se não tem lata de cola
Eu quero agora é sestear nos meus pelego
Com meu cavalo galopando campo afora
O meu destino é Woodstock, mas eu chego
Aonde eu ouço a voz da cordeona
Já escuto o gaiteiro puxando o fole
Vai animando a gauderiada no bolicho
Enquanto eu sigo detonando o hardcore
* Frank Jorge e Marcelo Birck