O desenlace de uma fita verde e amarela no meio da rodovia simbolizou a inauguração da nova ponte sobre o Rio Caí na BR-116, entre Caxias do Sul e Nova Petrópolis, neste sábado (21). A antiga estrutura colapsou em maio durante as fortes chuvas que castigaram o Rio Grande do Sul, e uma nova travessia foi construída em sete meses. Ministros, governador do Estado, deputados e prefeitos acompanharam a reinauguração.
Mais do que uma cerimônia protocolar, a solenidade abriu espaço para apresentações artísticas, como uma dança alemã feita pelo grupo Lustige Volkstanzgruppe Bergtal, de Nova Petrópolis. Em seguida, o protocolo se preocupou em homenagear quem foi diretamente atingido pela obra.
Como é o caso da engenheira agrônoma Juceli Boschetti, que é vizinha da ponte. O pátio da casa dela serviu como apoio aos trabalhadores, assim como o cômodo de um imóvel abrigou o escritório da construtora responsável pela obra.
Durante o discurso, para além da importância econômica da obra, ela lembrou que a ponte também é necessária para aproximar famílias. Ela esteve em outras oportunidades com o ministro dos Transportes, Renan Filho, que prometeu que iria entregar a obra antes do prazo previsto.
— É muito emocionante estar aqui. Estou representando a minha família e também a comunidade da região. Quando se fala em ponte, se fala muito em turismo, em comércio, em transportes. Mas esqueceram de falar do sentimento das pessoas, de como isso impacta nos reencontros — disse ela, que recebeu uma placa e flores das autoridades.
A mãe dela, Ilse Boschetti, tinha 6 anos quando a primeira travessia entre as duas cidades foi inaugurada, ainda no governo Getúlio Vargas (oficialmente, a ponte leva o nome do ex-presidente). Ilse também acompanhou a solenidade e as duas estiveram no palco, junto com as autoridades.
Cobranças e agradecimentos
Entre os políticos, os discursos equilibravam agradecimentos, mas também cobranças. Primeiro a falar, o prefeito Adiló Didomenico (PSDB) disse que pouco acreditava que a ponte seria construída em tempo recorde e encabeçou junto com outros políticos e a iniciativa privada a construção da estrutura provisória.
Adiló pediu ao ministro Renan Filho a duplicação da BR-116 no perímetro urbano de Caxias do Sul
— Como bom gringo, não fazemos a viagem sem trazer o frete de volta. Sabemos das dificuldades que o governo federal tem e de todos os investimento que precisou fazer no Rio Grande do Sul, mas precisamos que o governo federal dê uma olhada na continuação dessa BR, que passa por dentro da área urbana de Caxias do Sul e começa a ter pontos de estrangulamento — discursou.
Em seguida, o ministro-chefe da Comunicação, Paulo Pimenta, disse que teria "ficado rico" se trabalhasse com apostas, uma vez que todas as previsões de entregas estão se confirmando, segundo ele. Reforçou que o governo federal tem cumprido com os prazos para obras de reconstrução do Estado.
Ele citou a retomada integral das operações do Aeroporto Internacional de Porto Alegre, das estações da Trensurb (as estações de trem Mercado, Rodoviária e São Pedro serão reabertas na próxima terça-feira) e agora da ponte sobre o Rio Caí.
Ele também respondeu a críticas sobre o envio de dinheiro. Segundo o Painel da Reconstrução do Grupo RBS, governo federal repassou 58% dos recursos projetados para recuperação do Estado sete meses após enchente.
— Isso é como qualquer um de nós quando vai fazer uma reforma em casa. Alguém aqui chega e dá todo o dinheiro para o pedreiro antes da obra começar? Alguém aqui quando vai reformar paga o cara que vai fazer antes de assinar o contrato? É claro que não. Temos 1,2 mil planos de trabalho aprovados para construção de pontes, viadutos, escolas, unidades de saúde — afirmou.
Pimenta disse também que vai assinar na semana que vem, junto com o ministro das Cidades, Jader Barbalho, a criação de um fundo de R$ 5,6 bilhões para construção de um sistema de prevenção de enchentes no Rio Grande do Sul.
"O presidente dá condições"
Espécie de anfitrião do evento, o ministro Renan Filho fez uma série de elogios ao governador Eduardo Leite (PSDB) e relembrou que já foi algum dia, assim como o tucano, o governador mais jovem do país. Falou que foi possível entregar a nova ponte em menos tempo previsto devido à agilidade no repasse de recursos.
Segundo ele, a travessia na Serra é a maior obra de reconstrução do RS entregue pelo governo federal até o momento.
— O presidente dá condições, cobra, e os ministros de Estado têm a responsabilidade de estabelecer cronograma, de ter competência e vir aqui entregar as obras — falou, sob aplausos.
Renan Filho também criticou a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele elencou uma série de obras em andamento em estradas do Estado nos últimos anos, como a BR-116 em Nova Petrópolis, na BR-470, na BR-290, e disse que o governo Lula investiu mais do que no período de Bolsonaro.
— Nos transportes, aqui no Rio Grande do Sul, o governo anterior investiu em 2022, ano da eleição, cerca de R$ 500 milhões. Em 2023, primeiro ano do presidente Lula, investimos R$ 1,1 bilhão. Neste ano de 2024, vamos ter um investimento R$ 1,5 bilhão — disse.
Ultimo a discursar, o governador Eduardo Leite fez uma espécie de balanço das dificuldades enfrentadas durante o ano. Agradeceu o empenho do governo federal, mas disse que vai continuar demandando "e por vezes reclamando", mas que sabe que encontra do "outro lado a disposição para o diálogo".
— A gente encerra esse ano não ficando com a marca da desesperança, do desalento ou da dor. Vamos encerrando com o sentimento mais profundo de capacidade de superação. E essa capacidade vem porque teve união de esforços. Do governo federal, do governo do Estado, os municípios e a comunidade. Isso fez a diferença para salvar vidas, amparar e reconstruir — afirmou.
Por fim, todas as autoridades fizeram um passeio pela nova ponte. Os ministros e o governador atenderam a praticamente todas as solicitações de fotos com a comunidade, que também assistiu a solenidade.
Apesar disso, o trânsito no local não foi liberado de imediato devido à necessidade de desmontagem da estrutura da solenidade. A previsão é que circulação de veículos comece às 17h.
Mais de 70 homens trabalharam na obra
A ponte foi reconstruída em 198 dias. Durante a solenidade, um vídeo com velocidade avançada mostrou em segundos como foi a obra, realizada pela Construtora Cidade.
De acordo com o sócio-diretor da empresa Roberto Leitão, cerca de 70 profissionais trabalharam na nova ponte, em uma escala de trabalho que chegou a ser de 24 horas por dia. Na reta final, equipes de uma obra em Belém (PA) foram chamados para dar celeridade aos trabalhos.
Segundo ele, o empreendimento é mais robusto que a ponte anterior, inaugurada na década de 1940.
— O mais difícil foi a fundação. Tivemos que trazer equipamentos de São Paulo porque a profundidade é muito grande, são 30 metros até chegar na rocha e conseguir penetrá-la. As fundações da ponte antiga eram apenas no cascalho, uma etapa anterior. Foram quatro meses somente nesta função — explicou.
Relembre
A destruição da ponte na BR-116 foi uma das marcas das forte chuvas que castigaram o Rio Grande do Sul. Na noite de 12 de maio, após um fim de semana de chuva volumosa, uma das pilastras centrais que sustentavam a estrutura rachou, provocando o colapso de toda a extensão da ponte.
Inicialmente, uma passadeira de metal foi instalada pelo Exército para poder cruzar o rio. Pouco mais de um mês depois, a estrutura foi implodida para dar lugar à nova estrutura.
Ainda em maio, Dnit sinalizou a construção de uma nova ponte definitiva em até oito meses e outra provisória, que depois foi descartada meses depois.
Temendo ficar muito mais tempo sem uma ligação, os municípios e a iniciativa privada construíram e inauguraram em setembro uma estrutura temporária sobre o Rio Caí, que conecta Linha Sebastopol, em Caxias, a São José do Caí, em Nova Petrópolis. Essa estrutura recebeu o nome de Ponte da Cooperação.