Depois de quase um mês de internação hospitalar, a vontade de um paciente pode ser a de comer um bife à milanesa, sopa de agnoline, pizza ou um pudim. Ou ainda a de cortar os cabelos e pintar as unhas ou rever o animal de estimação, como escolheram alguns dos internados no Hospital da Unimed, em Caxias do Sul, nesta quinta-feira (5).
A instituição promove, desde 2016, o Dia do Desejo, quando realiza os pedidos dos pacientes, para, segundo o grupo de humanização, responsável pela iniciativa, tornar o ambiente mais acolhedor e contribuir para a recuperação. Normalmente participa da ação quem está há mais tempo internado.
Nesta quinta-feira (5), um deles, entre os 11 realizados neste ano, chamou a atenção. A professora aposentada Maria Luiza Soares Mendes, 82 anos, desejava andar de moto, como fez até pouco tempo em Santana do Livramento, sua cidade natal.
A "formiga atômica", como é chamada pela família, pilotou até os 77 anos, mas precisou desacelerar. Há cerca de 50 dias, uma inflamação em um dos ombros e complicações pulmonares lhe fizeram baixar no hospital. Lá se vão quase dois meses de rotina hospitalar quebrada nesta quinta-feira com a visita (e barulho) do Motogrupo HD Caxias.
Fora do quarto 115B, de casaco de couro e óculos de sol — e sempre acompanhada de um cilindro de oxigênio — Maria Luiza pôde, então, subir novamente em uma motocicleta e sentir o vento no rosto, mesmo que em um passeio rápido pelo estacionamento do hospital.
— Eu fazia tudo de moto, ia muito para o Uruguai fazer compras. Aprendi a pilotar sozinha, do mesmo jeito que aprendi a andar de carro. Meu marido saía e eu pegava a moto sem ele saber. Quando ele soube eu já andava com as crianças pra lá e pra cá — relembra a aposentada, que não tem previsão de alta.
Antes do passeio de Maria Luiza, um quase filó, com música, polenta e salame já tinha ocorrido em um dos quartos do hospital para tornar realidade o desejo de outro paciente. E mal Maria Luiza descia da moto, um grupo de música tradicionalista se preparava para dançar e tocar gaita a pedido de outro paciente que receberia a visita da neta.
Tudo isso com o aval da chefe da UTI adulto, Ângela Susin, a responsável por pedir aos internados o que de mais importante gostariam de realizar antes do Natal:
— A presença da família é muito importante na recuperação, deixar a família mais tempo com eles ajuda. O que mais pedem são alimentos que não podem comer no hospital e banhos de chuveiro para quem se higieniza na cama, por exemplo. São coisas do dia a dia que não damos importância na nossa rotina, mas que para eles, nessa situação, ajuda muito.
24 dias sem a "Fofa"
Esse foi o tempo que Pedro Otávio Deves, 12, ficou sem ver a cachorra de estimação. Foi o maior período longe, desde que tinha cinco anos, quando Fofa, a fiel companheira, chegou para fazer parte da família.
De surpresa, o pai de Pedro, Fábio Deves, levou o pet ao hospital nesta quinta-feira para dar conforto ao filho e tentar fazer o tempo passar mais rápido.
— Ele quebrou o braço em março e contraiu uma bactéria, agora precisou internar para administrar os antibióticos. Já são 25 dias no hospital, temos que nos reinventar todos os dias pra distrair ele — diz.
A visita de Fofa já estava nos planos da família, que tinha pedido autorização do hospital:
— Antes do Natal ele deve estar em casa, agora renovou o espírito com a visita da amiga.
Desde que foi idealizado pela enfermeira Marice Boeira, o Dia do Desejo no Hospital da Unimed só não ocorreu durante a pandemia. Nesta sexta-feira (6), o complexo completará 20 anos da sua inauguração.