Com a chegada dos dias frios, úmidos e chuvosos, típicos do outono e do inverno caxiense, muitas famílias buscam alternativas para diminuir a exposição das crianças ao clima instável da Serra. Uma das práticas que tem se intensificado e surge como alternativa a consultórios e clínicas, muitas vezes lotados, é o atendimento domiciliar prestado por profissionais de diferentes áreas da saúde.
A fisioterapeuta Luiza De Antoni Zoppa atende o público infantil em casa, ofertando a fisioterapia respiratória. Ela conta que neste ano a demanda pelo serviço vem crescendo desde março, diferentemente do passado, quando os pequenos pacientes costumavam adoecer a partir de maio até meados de setembro. Além das consultas em casa, Luiza também presta serviços no consultório e em ambulatórios, o que lhe dá uma capacidade de avaliar todos os contextos de atendimento.
— Eu percebo que muitos pais, mesmo tendo o plano de saúde, preferem arcar com o meu serviço particular na casa deles para não expor as crianças ao frio ou mau tempo. E geralmente, são as crianças menores, os bebês, que os pais preferem que eu vá em casa e não se importam de estar pagando um valor maior por isso — detalha.
A fisioterapeuta ainda aponta outros benefícios de atender as crianças em casa, além da exposição às condições climáticas. A segurança propiciada por um ambiente já conhecido é uma das vantagens:
— Na minha área, na fisio respiratória, eu consigo ganhar um vínculo maior com a criança, brincando com as coisinhas dela, deixando ela mais a vontade no seu lar. É bacana ir para o ambiente dela, porque nós, profissionais, conseguimos estimular de acordo com a rotina da criança. E, realmente, há locais que não estão preparados para atender o público infantil, em termos de brinquedos, decoração e arquitetura. Acaba sendo tudo muito sério — avalia Luiza.
Já a terapeuta ocupacional infantil Taila Camazzola comenta que, no seu caso, a busca por atendimentos domiciliares ocorreu mais fortemente ao longo dos dois últimos anos, no ápice da pandemia, quando as famílias estavam mais recolhidas em seus lares. Agora, ela tem notado que os pais estão se sentindo mais seguros para voltar a frequentar o ambiente clínico.
Taila também aponta, contudo, que há situações em que a terapia ocupacional é desenvolvida plenamente apenas em um local adaptado.
— A domicílio eu consigo trabalhar diversas questões como, por exemplo, adaptar a rotina da criança, adequar o ambiente para deixá-la mais independente, fazer o treino das atividades diárias, como escovar os dentes e a própria alimentação. Mas, por outro lado, a minha especialização exige que eu tenha um ambiente propício, com o que chamamos de medida de fidelidade, com normas. Então, muitas coisas eu não consigo fazer em casa — comenta.
"É uma segurança gigante", diz mãe de bebê que nasceu com 700g
Para Ohana Almeida Poersch, 31 anos, o atendimento em casa ao pequeno Antony, 1 ano, é muito mais que um conforto ou uma facilidade: é uma questão de segurança. O "bebê milagre", como é chamado carinhosamente pela família, nasceu com prematuridade extrema, pesando 700 gramas e medindo 30 centímetros em 25 de abril do ano passado.
A recomendação médica, recebida na alta da UTI, é seguida a risca pela família, que conta com o atendimento a domicílio feito pela fisioterapeuta pediátrica Tatiane Paludo. As consultas compreendem os aspectos motores e respiratórios do bebê.
— Pais de UTI são cheios de sequelas e medos, e ter uma fisioterapeuta que vem em sua casa tratar do seu filho é uma segurança gigante. Ela nos auxilia nos estímulos, observa a respiração, faz exercícios para seu desenvolvimento, desde visuais até engatinhar, sentar. Na respiração, traz seus aparelhos de oxímetro, de escuta pulmonar e sempre acompanha como está o pulmãozinho. Nos ensina como lidar com este processo de desenvolvimento do Antony da maneira mais tranquila que podemos — avalia Ohana.
Além de ser uma recomendação médica, o acompanhamento em casa deixa a mãe mais tranquila quanto à exposição a doenças como gripes e resfriados.
— Um bebê prematuro extremo é muito sensível a tudo, principalmente quando envolve respiração — resume Ohana.
Com experiência de cinco anos atendendo a domicílio e, há um ano, com consultório próprio voltado para bebês, a fisioterapeuta Tatiane Paludo vê benefícios em ambas as modalidades de consulta. Ela conta que, atualmente, cerca de 10% de sua demanda é para o atendimento exclusivo em casa.
— No consultório, tenho a esteira, onde a criança pode fazer o treino de marcha, tem o balanço terapêutico, é um espaço lúdico, preparado para receber o bebê. Em casa, o terapeuta consegue avaliar o ambiente em que aquela família se encontra, consegue dar a orientação a partir daquele espaço. Muitos dos pais têm a preferência pelo atendimento a domicílio por não tirar a criança do espaço dela, mas também muitas famílias buscam o consultório para proporcionar à criança uma outra vivência. Então, hoje, existe uma demanda para ambas as formas de atendimento — pondera.
No SUS, atendimento em casa precisa atender critérios
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Caxias do Sul conta com o Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Os atendimentos são direcionados a crianças e também a adultos.
Contudo, o atendimento em casa, diferentemente dos casos arcados de forma particular, não é uma escolha da família ou do próprio paciente. É necessário atender critérios, como ser acamado (dependência total para locomoção) ou necessitar de medicamento intravenoso e sem condições de ir à Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência.
De acordo com a SMS, o paciente é encaminhado pelo hospital, por meio do médico assistente, ou via solicitação na UBS de referência. Uma visita domiciliar é realizada para confirmar a necessidade da assistência e o paciente precisa contar com um cuidador responsável.
O serviço, que é temporário, conta com uma equipe multiprofissional que presta atendimentos médicos, de enfermagem, nutrição, fonoaudiologia e fisioterapia.