Muitos imigrantes saem de seus países de origem buscando melhores condições de vida, porém, acabam enfrentando inúmeras dificuldades, principalmente pelo fato de estarem sozinhos em uma terra desconhecida. Esse é o caso de Magdala Damis, 44 anos, que veio ao Brasil em 2018 e acabou fixando-se em Bento Gonçalves. Ela estava grávida e deixou sua família no Haiti, entre eles, o marido, a filha, hoje com 21 anos e, outro filho, 10 anos.
Durante esse período, Magdala enfrentou muitas batalhas. Criou sozinha o filho caçula, Kachemi, com quatro anos, que ainda não conhece sua família. Segundo ela, o plano era ficar apenas seis meses no Brasil e depois voltar ao Haiti.
No sábado (14), no entanto, um terremoto de magnitude 7,2 atingiu o Haiti, destruindo a casa da família de Magdala. Três dias depois (17), enquanto o país ainda se recuperava desse desastre, o ciclone tropical Grace e, mais um terremoto, de magnitude 4,9, voltou a abalar o Haiti.
Em virtude disso, os parentes de Magdala ficaram desabrigados durante dias, até que se dividiram e foram acolhidos por outros familiares. Além dos desastres naturais, o Haiti enfrenta uma crise política, pois o seu presidente, Jovenel Moïse, foi assassinado em julho.
A situação delicada, enfrentada no país, aumentou a urgência de Magdala de trazer sua família para o Brasil. Porém, diz ela, os custos são muito elevados. Com a ajuda da amiga e dinda de seu filho, Thaís de Matos Magagnin, estudante de Psicologia, foi criada uma vaquinha online. A meta é arrecadar R$ 22 mil. No total, Magdala precisa de R$ 30 mil para trazê-los, mas ela já tinha um valor que vinha guardando.
— Podem doar R$ 5, R$ 10, porque bastante dinheiro eu sozinha não consigo juntar. Muito obrigada a todos que já me ajudaram, coloco essas pessoas em oração — agradece Magdala.
Além da vaquinha, Thaís está recolhendo brindes para fazer uma rifa e também pretende organizar um almoço beneficente quando a situação da covid-19 se normalizar.
Amizade verdadeira
A história de Magdala e Thaís serve de inspiração. Elas se conheceram ainda em 2018, quando Thaís estagiava no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CRAS) de Bento Gonçalves. Desde lá, o laço entre elas foi se fortalecendo e a estudante de Psicologia, percebendo as dificuldades enfrentadas por Magdala, se dispôs a ajudá-la, seja com doação de roupas e alimentos, bem como na busca por emprego e moradia digna.
— Eu vim sem conhecer ninguém, passei dificuldades, dormi na rua, na rodoviária. No ano de 2018 conheci a Thaís, boa pessoa, que me ajudou bastante — relata Magdala.
"Magdala é uma das pessoas mais guerreiras que eu já conheci, é uma pessoa que me ensinou a ter mais fé na vida e entender que realmente a felicidade está nas coisas simples"
THAÍS MAGAGNIN
Estudante de Psicologia
Foram diversas mudanças durante esse período, grande parte delas por conta do preconceito em alugar a casa para uma haitiana. Além disso, Magdala enfrentou muitas dificuldades para arrumar um emprego, pois não tinha com quem deixar o filho, porque não tinha vaga na creche para ele.
Felizmente, hoje ela tem emprego fixo na Secretaria da Cultura, em Bento Gonçalves, e seu filho vai para a escola.
— Ela fala que eu ajudei ela, mas me ajudou muito também, porque eu consegui enxergar a vida de uma forma diferente. Ela me ensinou realmente que é preciso ter fé na vida, pois mesmo com tudo acontecendo, eu chego todos os dias na casa dela e ela tá ajoelhada no sofá orando para a família dela lá, e para proteger as pessoas daqui. É uma pessoa com muita fé mesmo, que passou por muitas coisas — relata Thaís.
Dificuldades enfrentadas pelos imigrantes
Segundo a estudante de Psicologia, cidades como Bento Gonçalves não possuem uma associação que ampare os imigrantes em relação às questões documentais, por exemplo. Existe uma entidade em Porto Alegre, com essa finalidade e, há também o Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), em Caxias do Sul.
— Vejo que eles têm uma dificuldade maior, pois muitos municípios não estão preparados para a demanda dos imigrantes. Eles não têm apoio, ou um centro aonde eles possam tirar dúvidas referentes a documentação, a questões legais. Então eles têm muitas dificuldades sim. Uma, por não conseguirem falar a nossa língua e, segundo, por não terem esse apoio de alguns serviços em cada município. Não existe, por exemplo, nenhum facilitador para conseguir emprego para essas pessoas. Então eles enfrentam tudo isso, além do preconceito, que infelizmente, é muito presente — ressalta Thaís.
COMO AJUDAR
:: Os valores podem ser depositados neste link