A dor de saber que uma pessoa querida está em estado grave por contaminação de coronavírus pode ser ainda maior quando o familiar percebe que, a partir da internação, deixará de vê-la por tempo indeterminado. Pensando nisso, o setor de Psicologia do Hospital Geral (HG) comanda uma das iniciativas mais acolhedoras em tempos de pandemia. Mesmo que seja dolorido visualizar alguém acamado e apenas por meio de uma tela, as visitas virtuais se mostram eficientes para aliviar a angústia de amigos e parentes.
Em uma sala improvisada dentro de um ônibus da Universidade de Caxias do Sul (UCS), uma média de 35 pessoas por semana conseguem realizar pelo menos o desejo de ver o familiar internado em UTI-Covid e, às vezes, até conversar, dependendo do estado clínico do paciente. A ideia foi pensada pela direção hospitalar depois que o ônibus foi colocado no lado externo do hospital para receber pessoas com suspeita de covid-19. Como os familiares de pacientes em UTI também podem estar contaminados, o mesmo lugar foi aproveitado para essa aproximação, mas utilizando roupas e equipamentos de proteção a cada entrada.
Todos os interessados fazem a visita virtual com acompanhamento de uma das três psicólogas que atuam no serviço. Uma dessas profissionaiks é Paula Moreira, 28 anos.
— Foi pensado justamente em diminuir a angústia dos familiares e em aproximar, ter essa conexão. Esta é uma forma de garantirmos o atendimento humanizado que o HG preza — afirma.
Há casos, mesmo que a minoria, de famílias que preferem não participar. Isso acontece geralmente quando o paciente está sedado.
— É um momento difícil para nós profissionais também. É um momento extremamente desafiador participar disso, mas ao mesmo tempo essas famílias estão dividindo a situação conosco e isso é importante — diz.
As visitas são uma alternativa oferecida pelo próprio hospital assim que ocorre a internação em um dos 38 leitos de UTI-Covid. O limite para as conversas varia entre 5 e 10 minutos e o encontro virtual pode ocorrer de uma a duas vezes por semana. A conexão do notebook instalado no ônibus é feita com um celular da própria da UTI onde outra equipe coloca o paciente em frente à câmera. De julho a dezembro de 2020 - quando o processo se iniciou na prática - 570 visitas virtuais ocorreram. De janeiro a março deste ano, são 230 participações.
Um alívio para a família de Maria Catarina
O acompanhamento da família de Maria Catarina de Lima, 70, foi frequente durante a internação de 19 dias em dezembro de 2020. Após ser atendida na UPA Central de Caxias, o neto Lucas Vinícius da Silva, 26, ficou assustado com a informação de que ela havia se contaminado por covid-19 e que precisaria de cuidados mais intensivos.
— Ela já entrou entubada no hospital! Mesmo que por vídeo, poder ver ela foi algo que nos trouxe tranquilidade em um momento onde ficamos muito nervosos e angustiados. Saber que tinha essa opção nos tranquilizou. A sensação foi de que não ficamos tanto tempo sem vê-la porque íamos duas a três vezes por semana (aos encontros virtuais) — conta.
Lucas e integrantes da família mantinham o contato online mesmo que Maria Catarina não conseguisse interagir — ela estava sedada.
— Tudo que a gente falasse naquele momento, passava pra ela algum sentimento e ela não se sentia sozinha — acredita.
Lucas mora com a avó e a mãe, Simone, e por consequência, os dois também foram contaminados pela covid-19, mas apresentaram sintomas leves. Segundo Lucas, em nenhuma visita online Maria Catarina conseguiu conversar porque depois da última videochamada, ela havia sido encaminhada para o quarto, já em situação estável. Atualmente, a avó está em casa e se recupera aos poucos — ela é grupo de risco e convive com os tratamentos para diabetes e pressão alta.
— Me sinto bem, estou me recuperando a cada dia! Nas chamadas eu não ouvia, mas sei que no meu subconsciente eu sentia que tinha alguém ali comigo — lembra Maria Catarina.