A primeira manifestação da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne) após a decisão do Governo do Estado de manter a bandeira preta até 14 de março é um indicativo da preocupação com a situação crítica da saúde na região. Uma das principais vozes na defesa de medidas menos restritivas quando a Serra foi classificada em outros períodos na bandeira vermelha, a entidade agora apoia o entendimento do Piratini.
O presidente da Amesne, José Carlos Breda, ainda antes de conversar diretamente com os prefeitos após o anúncio do governador Eduardo Leite, disse que, de uma maneira geral, os gestores municipais estão alinhados no entendimento de que o momento é delicado para a saúde:
— Dentro da circunstância, acredito que é necessário (manter a bandeira preta), embora alguns prefeitos gostariam de abrir, mas a maioria permanece firme na necessidade de fazer as restrições.
Breda explica que ainda existe uma mobilização para que a cogestão seja novamente adotada, o que permitiria flexibilizar protocolos da bandeira preta em algumas situações nos âmbitos municipais ou regionais. Segundo ele, isso segue em discussão.
A vontade de reduzir as restrições, no entanto, vai na contramão do entendimento de cientistas sobre o que é necessário neste momento. O coordenador na Rede Análise Covid-19, o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, diz que, pelo contrário, o ideal para reduzir os casos em um período mais rápido é aumentar as medidas que impeçam o contato e a circulação de pessoas. Mesmo assim, ele considera que a extensão do prazo da bandeira preta pode ajudar a melhorar o cenário caótico na área da saúde nos últimos dias, com esgotamento dos leitos de UTI:
— Agora, sim, com 14 dias de restrições e com adesão plena da população às restrições, a gente vai começar a ver essa subida de casos e internações do Estado estabilizar. Vamos ver o índice ir para o lado no gráfico, ao invés de ir pra cima. Aí, a gente vai ter que o tempo que ela leva para cair.
De acordo com Schrarstzhaupt, a velocidade dessa queda vai depender de qual é a quantidade de infecções no pico da pandemia: quanto maior esse número, mais lenta será a redução de casos e internações. Por outro lado, ele explica que as mortes ainda devem continuar a crescer nas próximas semanas, porque os pacientes internados antes das restrições permanecem sob cuidados. Quer dizer, a intervenção feita agora vai demorar de cinco a 11 semanas para gerar efeitos na redução de mortos pela covid.