Ruas alagadas, um forte cheiro de peixe, móveis boiando e muita lama e lixo. Esse era o cenário em São Sebastião do Caí na manhã desta quinta-feira (9). Com vassouras e mangueiras, os moradores aproveitaram o sol que surgiu depois da chuva intensa dos últimos dias para limpar as casas e ver o que pode ser salvo depois da enxurrada.
Na Avenida Osvaldo Aranha, na entrada da cidade, a água do Rio Caí se encontrou com a de um arroio. Os pátios estavam embaixo d'água.
- Essa foi uma das maiores enchentes da história de São Sebastião do Caí. Aqui na frente veio água do rio e, atrás, do arroio. A água subiu em lugares que nunca tinha chegado antes - conta Lisandra da Cruz, 33 anos.
A avenida fica a cerca de dois quilômetros do rio. Na casa de Valdir Kunrath, 48, o pátio estava alagado.
- Tem que passar dos 13 metros para entrar água aqui em casa. Já conhecemos o volume de chuva, nos preparamos e erguemos tudo o que dá. É a única coisa a fazer.
Na casa de Andreia Schavini, 48, a força da enchente trouxe uma caixa d' água.
- Encheu muito rápido. A força da água é algo assustador. É triste - lamenta ela, mostrando que a água tapou parte da janela do térreo da moradia.
Recomeçar
A casa de João Carlos Ledur, 59, fica a 400 metros do Rio Caí, na Rua Treze de Maio. A moradia foi construída há 30 anos, levando em conta as enchentes do rio. Na rua dele, havia um carro completamente coberto pela água. Nesse ponto, três jovens atravessavam de um lado a outro de caiaque.
- Já entrou água muitas vezes. Não há o que fazer. Temos que esperar a natureza seguir seu rumo e o rio voltar. Modificamos o meio ambiente e vem a consequência. Salvamos o que dá e seguimos em frente. A chuva foi atípica. Tinha pouco vento, mas uma chuva que não parava. Fomos avisados e nos prevenimos, mas não tem o que fazer. Ficamos nos fundos, num lugar mais seguro, para evitar o pior - conta ele.
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Passada uma semana, Karina Comentiol Horn, 33, estava mais uma vez fora de casa. Na cheia entre a terça e a quarta-feira da semana passada, ela também havia ficado desabrigada:
- Essa foi pior. Eles nos tiram antes de entrar a água, mas é assustador toda vez que o rio sobe. Não ficamos ali por opção - lamenta.
Para Jéssica Souza da Silva, 30, o mais triste de conviver com as cheias é se dar conta que se acostuma a sentir medo:
- A gente se acostuma porque não temos onde morar.
Com o fiho de dois meses no colo, Taimara Teresinha Soares, 27, não tem para onde voltar:
- Além da enchente, o dono da casa me pediu para sair e eu não tenho para onde voltar.
Tais Valério Raimundo, 40, também diz que é triste se acostumar com a situação em que a população ribeirinha vive:
- Eu queria sair dali, morar em outro lugar. Na penúltima enchente a água levou o assoalho da minha casinha.
Porque alaga a cidade
O Rio Caí sobe rapidamente devido a água dos rios de Nova Petrópolis e Caxias do Sul. Mais de 1,7 mil pessoas foram afetadas pela enchente na cidade. Destas, 160 de 54 famílias estão abrigadas em um ginásio e em um salão paroquial fora da cidade, longe da água do rio. O Ginásio Navegantes, onde muitos ficaram na semana passada, ficou ilhado.
- Com a intensidade das chuvas e o volume que desagua no Rio Caí, ele sobe e transborda. Estruturalmente, não tem o que fazer. Trabalhamos preventivamente na retirada antecipada dos ribeirinhos. O Rio chegou a 14,40 metros, foi uma das maiores enchentes. Em outubro de 2016, o nível subiu a 14,66 metros e, em julho de 2011, a 14,85 metros - compara o coordenador da Defesa Civil de São Sebastião do Caí, Pedro Gribler, destacando que enquanto a água não recuar pelo menos até os 10 metros, as famílias seguirão fora de suas casas.
- Segunda-feira devemos começar a remoção. Isso se não chover no final de semana e voltar a encher.
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