Pouco mais de três meses após a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil, boa parte dos cidadãos já assimilou que uma das principais medidas de proteção é manter a distância de outras pessoas sempre que possível. Em Caxias do Sul, contudo, muitos passageiros do transporte coletivo não estão conseguindo cumprir essa regra básica. O motivo é o excesso de passageiros em algumas linhas, principalmente em horários de pico.
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Diante das reclamações de passageiros, a fiscalização da Secretaria de Trânsito tem acompanhado diariamente a situação há pelo menos um mês. Até agora, porém, a força-tarefa não conseguiu solucionar o problema. Passageiros ouvidos pela reportagem na manhã desta terça-feira (9) nas estações Óperas e Catedral, duas das principais da área central, disseram enfrentar ônibus lotados diariamente.
Das cerca de 30 linhas observadas entre 6h e 7h30min, foi possível perceber todos os bancos ocupados e passageiros em pé em apenas dois ônibus: o Troncal, que chegou na Praça Dante Alighieri às 6h20min, e o veículo da Linha Ana Rech que passou pelo mesmo terminal às 6h55min. O Troncal que chegou à estação Ópera por volta das 7h05min também tinha passageiros em pé, mas menos que nos demais. Ainda assim, em nenhum dos casos os usuários se espremiam nos corredores.
As regras do decreto municipal permitem que ônibus rodem com todos os assentos ocupados e 10 pessoas em pé, no caso dos veículos tradicionais, ou 15 em pé, no caso dos articulados. Somente depois disso é que os fiscais consideram como excesso.
O cenário observado pela reportagem nesta terça, contudo, é bem diferente do descrito pelos passageiros. Conforme o metalúrgico Raimundo Fernandes, 43 anos, é rotina o ônibus Troncal, que sai da EPI Floresta às 6h, ter mais passageiros que o ideal.
— Tem muita gente de pé no corredor, e hoje ainda estava atrasado. Já peguei até gente sem máscara dentro do ônibus, sentada do meu lado — relatou enquanto aguardava a linha Ana Rech/Salgado Filho, que também tem problemas, segundo ele.
Já o soldador Silauce Lozin, 42, costuma enfrentar o problema no fim da tarde, na linha que atende o Centenário II. Já na linha Ana Rech, que utiliza para chegar ao Diamantino, diz que costuma ter mais gente.
— Hoje eu peguei o Centenário às 5h40min e tinha nove pessoas dentro, mas ontem peguei às 17h e estava cheio de gente. O Ana Rech pego às 6h15min e tem muitas pessoas. Hoje está atrasado, não sei como vai estar — relata o haitiano.
Preocupação também demonstra a técnica de enfermagem Deise Oliveira, 25, que enfrenta excesso de passageiros na linha Planalto/São Victor.
— Hoje peguei o Troncal e estava tranquilo, mas normalmente o São Victor está cheio e ali por 13h é a mesma coisa. Não tem como se proteger, todo mundo se encosta — relata a profissional da saúde que já precisa lidar com o risco de contaminação no hospital onde trabalha.
Secretaria diz que é difícil prever a demanda diária
Conforme o diretor da Secretaria de Trânsito, Jorge Catusso, todas as linhas em que é identificado excesso de passageiros são planilhadas e a Visate é acionada para resolver a situação. No entanto, segundo ele, o comportamento da população varia a cada dia e é difícil prever a demanda para cada linha. Atualmente, o sistema opera com com uma faixa entre 50% e 60% da demanda e 60% a 65% da frota.
— Ontem (segunda-feira) foi um dia atípico. Durante toda a manhã e durante o dia não tivemos problemas, mas tivemos no retorno, no final da tarde e noite. A conclusão é que as pessoas foram ao Centro de forma diluída e voltaram ao mesmo tempo devido ao dia de pagamento. Não é uma matemática exata e a secretaria está fazendo um trabalho nunca feito. É natural que as pessoas sintam medo e muitas vezes as reclamações são pertinentes. No nosso entendimento, temos sob controle e com o trabalho geral, nas última semanas, conseguimos buscar o equilíbrio entre oferta e demanda, com exceção de alguns casos. É um processo lento e a pergunta que fica é se a demanda vai ser a mesma que era antes — observa Catusso.
Ainda de acordo com Catusso, a Visate tem atendido a todas as solicitações da secretaria e a conversa com a empresa tem sido diária. As linhas que mais tiveram problemas são as que atendem as zonas norte e sul, embora elas variem a cada dia. Conforme o diretor, a presença dos fiscais é mais forte entre 6h e 8h30min e das 17h às 20h.