
A professora Liliana Portal Weber, coordenadora do curso de biomedicina da Universidade de Caxias do Sul (UCS), apela para que a comunidade caxiense receba os pesquisadores que estão realizando um levantamento científico sobre o coronavírus. O trabalho ocorre em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que promove a pesquisa em nove cidades do Rio Grande do Sul e tem o objetivo de mostrar o quanto a covid-19 atinge a população do Estado — revelando, por exemplo, percentual de infectados, velocidade de expansão da doença e porção de infectados que não desenvolvem sintomas. Com os dados, será possível analisar também o percentual de infectados que precisará de internação em UTI e ventilação mecânica, embasando discussões e decisões sobre graus de isolamento social.
A primeira rodada da pesquisa ocorreu no último fim de semana. Em Caxias do Sul, entrevistadores visitaram 500 residências por sorteio em diversos bairros da cidade. Em entrevista ao programa Gaúcha Hoje da rádio Gaúcha Serra na manhã desta terça-feira (14), Liliana contou que houve casos de recusa por parte dos moradores:
— As reações (ao receber os pesquisadores) foram as mais variadas. Algumas pessoas não estavam sabendo do estudo e houve uma série de recusas por uma questão de desconfiança.
Ouça a entrevista na íntegra:
Conforme a professora, os pesquisadores não usam crachá por uma questão de biossegurança, já que poderia haver contaminação por meio desse objeto. Mas eles possuem um certificado e identificação, no carro, do Instituto Pesquisa de Opinião (IPO) e da UFPel.
Liliana explica que haverá mais três rodadas do estudo para analisar a evolução da prevalência, isto é, da proporção de pessoas infectadas na população. Nas visitas, os pesquisadores coletam uma amostra de sangue no dedo da pessoa e, enquanto aguardam o resultado do teste, que leva de 15 a 20 minutos para ficar pronto, fazem um questionário. Ao fim das perguntas, a pessoa testada pode conferir o resultado junto com o entrevistador.
O teste aponta se a pessoa tem anticorpos, que são defesas do organismo desenvolvidas por pessoas que foram infectadas. Com isso, é possível detectar, por exemplo, pessoas que tiveram sintomas muito leves ou sequer apresentaram qualquer sintoma do contágio, mas que desenvolveram as defesas naturais contra o coronavírus. É por isso que o teste poderá servir também para determinar se uma pessoa voltaria ao trabalho de forma segura em relação à covid-19. A pesquisa servirá também para demonstrar o grau de precisão dos testes rápidos utilizados — que, em princípio, é de 86%.
— Trabalho há muitos anos na área do diagnóstico e, nesse caso da covid-19, o que é importante, e temos acompanhado em outros países também, é testagem, testagem, testagem. É através desses testes que vamos conhecer a nossa população — observa Liliana.
A coordenadora do curso de biomedicina da UCS destaca também que este ainda não é o momento de uma liberação geral de atividades na sociedade.
— Não temos garantia de que pessoas que não são de grupos de risco vão ter infecção e ficar bem. Sabemos que tem a questão econômica e social acontecendo mas, neste momento, é muito importante que a gente segure (as medidas de isolamento), para que a gente conheça a população e saiba como esse vírus está se comportando no nosso Estado e nos diferentes municípios. E, em cima de dados, em cima de pesquisas científicas, a gente consiga fazer essa adequação para a população. Tem sido um momento muito tenso, mas é muito importante esse isolamento social — defende.