Poucos estão adotando regras básicas de prevenção ao coronavírus em áreas públicas de Caxias do Sul. Nesta terça-feira (21), feriado de Tiradentes, foi possível constatar que os cuidados recomendados pelas autoridades sanitárias são ignorados mesmo com o aumento da aglomeração de pessoas e a possibilidade maior de contágio. Vale tudo: circular sem máscara, manter conversas ou fazer caminhadas desrespeitando a distância mínima recomendada, usar bebedouros, praticar atividades esportivas em grupos e outros tantos exemplos considerados de risco.
O que se pode perceber é que muita gente não sabe exatamente qual é o nível de exposição ao vírus quando se utiliza de um assento da praça ou se passeia a pé. Mas o perigo existe, segundo a infectologista Giorgia Torresini. Veja as orientações da médica abaixo.
As situações constatadas em área pública são de difícil fiscalização, uma vez que o comportamento da população passa mais pela conscientização - a prefeitura de Caxias do Sul cogita tornar obrigatório o uso de máscaras na próxima semana.
Um dos bons exemplos, que destoava de grande parte do público, pôde ser visto no Parque da Lagoa, no Desvio Rizzo. Sentada numa cadeira de praia e afastada de aglomerações, a supervisora de cadastro Patrícia Dossin, 43 anos, acompanhava, a distância, o filho Lucas, sete, brincar no balanço e no escorregador. A diferença em relação a outras crianças é que o menino usava uma máscara. Lucas manuseava os equipamentos que outros adultos e crianças tocaram, mas como ele estava com a proteção no rosto, Patrícia acreditava que a barreira impediria que o filho colocasse a mão na boca e levasse o vírus para o organismo.
- Eu havia deixado que o meu filho optasse ou não pela máscara, mas ele fez questão de usar - disse Patrícia.
No primeiro passeio num parque após 30 dias de distanciamento, a auxiliar de financeiro Marilize Machado, 33, estava diante de uma missão mais complicada. Era impossível limitar as brincadeiras do filho Benjamin, três. Obviamente, a criança tocava em todos os objetos do parquinho e Marilize deixaria a higienização para depois, com direito a banho em casa. O álcool gel e as máscaras estavam no carro.
No Parque dos Macaquinhos, a situação não era diferente. Muitas pessoas passeando ou conversando sem nenhuma prudência. A corretora de imóveis Daniela Curzel, 38, e a amiga dela, a administradora Cíntia Crema, 36, acharam um canto afastado para poder relaxar com os filhos. Como estavam numa área sem pessoas ao redor, se deram ao direito de tirar a máscara, mas deixaram o álcool gel ao lado. As duas pretendiam ficar cerca de 30 minutos para aproveitar o sol e voltariam para casa.
- Não acho exagerado o que vem sendo dito sobre os cuidados. Os dados na cidade fazem com que as pessoas fiquem na zona de conforto. Mais ou menos dias, vai estourar - ponderou Daniela.
Perto dali, um grupo de amigos, na faixa dos 15 a 18 anos, praticava manobras de bicicleta e não praticava o distanciamento mínimo. Eles não usavam máscara ou carregavam álcool gel, mas afirmavam saber dos riscos. Em outros momentos, a turma chega a reunir mais de 20 jovens no Parque dos Macaquinhos.
- Andar de bicicleta e usar máscara é ruim. Mas usamos máscaras quando vamos ao mercado - disse Fernando Scopel, 18.
PREVINA-SE
A médica infectologista caxiense Giórgia Torresini explica os riscos de contágio oferecidos por diversas situações cotidianas que voltam a ocorrer com a aparente situação de normalidade após o relaxamento das medidas de isolamento social. Confira:
Parques
- A gente não pode esquecer que o vírus é transmitido através de gotículas, cujo alcance é de um metro. Mesmo ao ar livre, tem que ser respeitado o uso da máscara e também a distância de um metro da outra pessoa. Caminhar próximo ou ao lado de outras pessoas, dividir o banco, tudo isso é risco, porque o ato de falar, de gargalhar ou de tossir involuntariamente, são ações que espalham essas gotículas que transmitem o vírus.
Parquinhos
- Funciona da mesma forma, e ainda cai em outra questão. Se a criança está sem máscara, e ela fala ou baba, aquele brinquedo que ela está usando pode ficar com o vírus. Se outra criança toca no brinquedo, com a mão ela pode levar o vírus para a boca, nariz, olhos e vai se contaminar. Ainda que as coisas estejam voltando a abrir, não dá para dar bobeira e achar que a situação está normal. O recomendável é só sair em caso de extrema necessidade e evitar toda atividade em grupo.
Academias
- A abertura das academias é um horror. Não adianta, com a volta da normalidade, relaxar nos cuidados. Se não atender a todas as orientações, tu vais se contaminar. Elas têm de entrar em uma rotina, um comportamento novo: manter o distanciamento, usar máscara e saber que todo contato físico é perigoso. A questão a ser feita é: a opção municipal foi abrir parcialmente. Mas será que eu quero me expor e correr em grupo, voltar para a academia?
Esportes ao ar livre
- Praticar esportes em grupo é perigoso porque as pessoas falam e, eventualmente, se tocam. Com a volta da normalidade, muito mais por uma razão de sobrevivência da economia, a preocupação vai acabar sendo individual. Vai ser uma opção sua se expor ou não. Embora estar ao ar livre seja bom para renovar as partículas respiratórias, é perigoso estar ao ar livre com outras pessoas. E por isso é muito desaconselhável praticar esportes em grupo.
Restaurantes
- Ir naquele restaurante que tem o bufê, por exemplo, que é bem perigoso. Ou ir naquele que não obedeceu o que pedem as normas de distanciamento das mesas e utilização de máscaras pelos funcionários. Mesmo assim há riscos, como utilizar um copo que pode conter a saliva de outra pessoa que o utilizou antes. É bom enfatizar que, com a abertura, a gente tem que priorizar e fazer valer aqueles estabelecimentos que estão de acordo com as normas de segurança e sejam confiáveis quanto à higiene. E também é preciso confiar que a fiscalização esteja sendo feita.
Shoppings
- No shopping, se tu fores caminhar nos corredores com a tua máscara, numa situação em que todos estão usando, assim como os funcionários das lojas, não tem problema. Mas se tu vais no shopping e não estão obrigando a utilização e as pessoas estão sem máscaras, bom... esse lugar não é seguro. Vai ser muito mais uma opção e cuidados teus. As orientações de higiene funcionam, não são perda de tempo. Passar álcool, lavar as roupas que usamos na rua ao chegar em casa, são questões que fazem a diferença.