Uma ideia que surgiu meio despretensiosa está tomando uma proporção que tem assustado até mesmo os seus idealizadores. O caxiense Leonardo Leiser deu o start a um projeto que promete fazer com que o álcool gel chegue às mãos do consumidor por um preço bem mais acessível do que os que estão sendo praticados atualmente. Esse, aliás, é o único requisito exigido das empresas que se interessarem pela “nova fórmula” elaborada pelo trio para o produto mais requisitado no país e no mundo.
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Proprietário de uma empresa de importação de produtos de tendência, Leiser afirma ter sido procurado por mais de 200 empresas nos últimos tempos interessadas na cotação do carbopol, espessante utilizado para transformar o álcool líquido em gel. O susto foi grande.
– A China é detentora da maior produção, apesar de a maior indústria de carbopol ficar na França. Mas é a China que detém o monopólio da fabricação. Esse produto está em falta no mundo inteiro. É um produto que custava de R$ 12 a R$ 25 o quilo. Agora, tá saindo da China a R$ 180 o quilo, em média, fora as taxas de importação. E, no Brasil, quem ainda tem estoque, está vendendo por até R$ 1 mil o quilo – relata o empresário.
Assim, veio o clique. Leiser conversou com Fábio Martins, parceiro comercial em Santa Catarina, que tinha um amigo engenheiro químico. Rudney Herkenhoff, de Blumenau, entrou na história. E comprou a ideia. O trio começou a estudar alternativas para substituir o carbopol da fórmula original do álcool gel. Foram cinco dias, madrugadas e mais madrugadas acordados e mais de 30 testes com diversas substâncias até chegar a um denominador comum.
– Conseguimos uma fórmula, com um carbômero nacional, utilizado na indústria de alta tecnologia, com o qual podemos pensar em produção em massa, sem comprar o carbopol pelo preço absurdo que está hoje e sem precisar de uma importação, que pode levar até 60 dias. A estrutura química do produto segue igual. Hoje, essa substância que encontramos custa R$ 170 o quilo. Talvez por isso ela não tenha sido usada, pois o carbopol até então era barato. Claro que, à medida que o valor do carbopol voltar ao normal, ele fica bem mais em conta – relata Leiser.
O objetivo, após a aprovação da nova fórmula, passou a ser encontrar parceiros interessados em produzir o álcool gel em larga escala. Esta semana, o trio fechou contrato com uma empresa de sanitizantes de Passo Fundo, que iniciará a produção em breve. Além disso, Leiser ter recebido muitas ligações de todo o Brasil. Como a da prefeitura de uma cidade do Nordeste, que já queria encomendar 15 toneladas do produto. Tá, mas o que isso tem a ver com solidariedade?
– O que pensamos, nesse primeiro momento, é baratear o custo. Se as empresas quiserem ganhar em cima, não fechamos negócio. Infelizmente, hoje não temos capital para distribuir gratuitamente. Nosso maior sonho seria encontrar empresas que tivessem essa possibilidade. A ideia é que o preço final seja de R$ 25 o litro. Temos visto casos de venda de 300 gramas de álcool gel por até R$ 28 – diz Leiser.
– Vamos colocar no mercado entre 150 e 200 toneladas.
Luxo e solidariedade
A procura por álcool gel disparou, realmente, em tempos de coronavírus. A Companhia Nacional de Álcool (CNA), líder do setor, viu a demanda pelos produtos subir 6.500% só este mês. Para dar conta da demanda, foram abertos três turnos de trabalho, inclusive aos finais de semana.
Diante da escassez, a Associação Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permitiu a companhias não apenas do setor farmacêutico, mas de cosméticos, a fabricarem o produto. Cimed, Natura e Granado são algumas marcas que passarão a produzir o produto.
Na França, a LVMH, conglomerado de empresas da marca Louis Vuitton, também anunciou a produção de álcool gel em grande escala nas fábricas de cosméticos Christian Dior, Guerlain e Givenchy. O gel será entregue sem custos às autoridades de saúde francesas.