Do improviso, as tradições do Rio Grande do Sul são cantadas em estrofes, com rima e ritmo e, por vezes, em resposta a uma provocação. Assim são as trovas, manifestações culturais, que, da mesma forma que as declamações, são milenares e foram incorporadas à cultura gaúcha. Contudo, a trova tem um tom mais leve e até debochado de entreter. Os trovadores são os protagonistas dessa que é uma das mais antigas expressões agregadas ao movimento tradicionalista gaúcho. Aqui no Estado, foram disseminadas pelos tropeiros em suas andanças tocando mulas, cavalos e gado.
– A trova é uma forma de poema. Os tropeiros tocavam violas e cantavam e trovavam. Faziam, na verdade, um poema rimado sempre de improviso – conta o historiador Manoelito Carlos Savaris.
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O historiador lembra que inicialmente o tradicionalismo tinha somente um tipo de trova, a Mi Maior de Gavetão, que é feita em sextilhas, ou seja, estrofes com seis versos cada. Depois, foram sendo criadas outras modalidades, como a Pajada, a trova de Martelo e a Estilo Gildo de Freitas, que recebeu esse nome em homenagem ao cantor e trovador (leia mais no quadro). Foi pelo desempenho nesse último estilo que o trovador Pedro Alaor da Silva Merchel ganhou o troféu de 3º lugar no Encontro de Artes e Tradição Gaúcha (Enart) no ano passado, representando o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Herdeiros da Tradição.
Alaor, como é conhecido, nasceu e passou grande parte da vida nas atividades do campo no interior de São Francisco de Paula.
– Desde pequeno, eu gostava muito. Se desse uma trova, eu corria para perto do rádio escutar. E quando começaram os primeiros rodeios internacionais de Vacaria, teve um com finais de noite, eu desliguei o rádio, e segui cantando. Pensei: vou fazer também – lembra o trovador da época da juventude.
Em seguida a este episódio, ocorreu um rodeio na localidade de Cazuza Ferreira, interior de São Chico, onde ele morava. Destemido, Alaor se inscreveu. E não é que no sorteio para determinar a ordem de apresentação, ele foi o primeiro. Além disso, a disputa era com Adilson Silva, conhecido trovador, que, à época, tinha programa na Rádio Difusora. O tema era Revolução Farroupilha.
– Não é preciso dizer que, ele veterano e eu de primeira viagem, levei um 'tundão' (surra) bem grande – recorda rindo.
Ele não desanimou. A partir de 1987, quando mudou para Caxias do Sul, intensificou a participação nos concursos e começou a ganhar os primeiros troféus que o animaram a seguir adiante. Afinal, os prêmios eram o aval dos avaliadores de que tinha talento. Ele mesmo foi avaliador do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Mas, voltou à trova pela paixão que tem por ela:
– A gente tem um dom e vai aperfeiçoando. O mais importante é o amor à arte, ao improviso e à cultura e à tradição do nosso Estado, que é uma cultura linda. Cantar e usar as nossas expressões e o linguajar daqui valoriza muito mais (a trova). É uma expressão do nosso tradicionalismo, da nossa cultura, do nosso Estado – declarou o Alaor.
Alguns tipos de trovas:
:: Trova Mi Maior de Gavetão ou Campeira: Feita em sextilhas, ou seja, estrofes com seis versos cada e rimas alternadas entre eles.
:: Trova Pajada: Improviso com canto lento, semelhante a uma declamação, com estrofes de 10 versos.
:: Trova de Martelo: Com versos em sete sílabas poéticas, com rimas alternadas; a música é vaneira e marcha, com início em Mi Maior; a rima entre estrofes e a maior característica é que o concorrente completa a rima do outro.
:: Trova Estilo Gildo de Freitas: Recebeu esse nome em homenagem ao cantor. O improviso é feito em torno da composição Definição do Grito; estrofes de nove versos em sete sílabas poéticas, com rima no 2º, 4º, 6º e 9º versos e 7º e 8º entre si.
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