Dos casos de violência contra idosos notificados ao sistema de saúde em Caxias do Sul nos últimos nove anos, quase metade foi cometida por filhos. São 686 notificações envolvendo filhos e todos os outros tipos somam 757 casos. No total, há 1.348 notificações feitas neste período de 2010 a 2018. Cabe destacar que a quantidade total de casos é maior do que a soma entre as notificações envolvendo filhos e as demais, porque uma situação pode ter mais de um responsável.
As mulheres são as principais vítimas. Foram 793 atos de violência contra elas e 555 contra homens. A negligência tem o maior número de situações, um total de 870 em nove anos. Em seguida, estão a violência física (427) e a psicológica (262). O sistema possibilita que mais de um tipo de violência seja incluído por caso.
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Os dados são da Vigilância Epidemiológica de Caxias do Sul com base no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Para a enfermeira Maria Elenir Anselmo, do Núcleo de Atenção à Saúde do Adulto e do Idoso da Secretaria da Saúde de Caxias do Sul, existe o que é chamado de subnotificação - quando muitos casos acontecem sem chegar ao conhecimento do poder público.
— Constatamos que o maior número de agressores está dentro do ambiente intrafamiliar. Pode ser um cônjuge, um irmão, um filho. Dentro desse cenário, identificamos vários fatores que podem levar a isso. Mas geralmente se identifica algo que fez com que se quebrasse aquele vínculo familiar, aquele vínculo amoroso que deveria ter no ambiente familiar.
Entre 2010 e 2018, 98 casos tiveram maridos ou esposas como agressores e 101 eram irmãos. A psicóloga Joana Veras, da Coordenação Estadual da Saúde do Idoso, analisa que a violência contra esse grupo está inserida em um contexto social.
— Culturalmente, temos uma situação de desvalorização das pessoas que ficam velhas. As pessoas vão envelhecendo e vão perdendo o valor. Isso não é algo de agora, é algo que tem se repetido ao longo da história. O idoso, depois que se aposenta, inclusive tem falas institucionais e governamentais nesse sentido, passa a ser um peso para a sociedade. Infelizmente, a gente vive numa sociedade que isso está muito presente. Se vocês pensarem nas escolas, não se fala do envelhecimento na escola, como se aquelas pessoas passassem a não ter planos, não ter sonhos, não ter mais possibilidade de viver.
Para reduzir a violência contra idosos, ela considera que é preciso abordar mais o tema. O entendimento é que isso pode fazer com que os casos venham à tona e, consequentemente, os idosos fiquem mais aptos a buscar ajuda. Este sábado (15) é o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa.
Tipos de violência
Física
Negligência e abandono
Sexual
Psicológica (configurada quando há gestos de humilhação, hostilização ou xingamentos)
Financeira (ocorre quando o idoso tem seu salário retido ou seus bens destruídos)
Autoagressão e autonegligência
Como buscar ajuda
- Coordenadoria Municipal do Idoso: 3220.8700
- Conselho Municipal do Idoso: 3901.1253
- Polícia: procurar delegacia mais próxima ou ligar para o número 190 da Brigada Militar
- Disque 100: pode ser usado para denunciar qualquer violência contra a pessoa idosa
- Alô Caxias: 156
Os canais podem ser usados também por quem suspeita de casos de violência contra idosos. As vítimas também podem conversar com pessoa de confiança para pedir ajuda e solicitar auxílio a um profissional de saúde.
Casos de violência por ano
Ano Quantidade
2010.....145
2011.....160
2012.....163
2013.....170
2014.....131
2015.....162
2016.....147
2017.....130
2018.....140
Total....1.348