É verdade que é possível dar aulas sem muros, sem telhado, sem mesas e cadeiras. Mas é melhor ter escolas em boas condições. Também é verdade que a doação de uniformes e materiais escolares contribui para que as crianças possam contar com o mínimo necessário para estudar. Mas acima desse conflito está o papel do professor em sala de aula.
Para além do lugar comum está a tensão do conteúdo por ser ministrado e a bagagem que essa geração que está a sair da escola leva na mochila. Dia 28 de maio é o Dia da Educação, e que filosoficamente tem a função de contribuir para que as pessoas reflitam sobre a importância do tema.
Mas, efetivamente, o que significa? Porque se fala tanto de políticas públicas, fala-se da escola sem partido, exige-se do professor ações politicamente corretas, a pressão é cada dia maior. E para os pais, a escola são os professores e não os gestores da educação. Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Carlin Fabris, em Caxias do Sul, parte-se do princípio básico: conhecer para se envolver e ensinar.
— Os professores que chegam à nossa escola são convidados para o que chamamos de tour pedagógico. Porque é importante que todos conheçam a realidade de onde vêm os nossos alunos — explica a professora Luciane Gomes Dutra de Oliveira, 50 anos.
Causa estranheza esse vínculo, esse olhar sobre a realidade. Porque para a maioria das pessoas educação tem a ver com o professor em um pedestal a lançar sobre o aluno páginas e páginas de conteúdo.
— Eu não amo aquilo que não conheço. Quem nunca foi em uma peça de teatro, dificilmente vai gostar de teatro. Da mesma, como dar aula sem um vínculo afetivo estabelecido entre aluno e professor? — argumenta a professora Nilcéia Kremer, 39, do Colégio La Salle.
O discurso de Luciane e Nilcéia está em consonância ao pensamento do pedagogo português José Pacheco, 68, crítico do sistema tradicional de ensino:
— Professor não "transmite conhecimento". Não aprendemos o que o outro diz. Aprendemos o que o outro é.
É por isso que a educação está acima de uniformes, livros, paredes e móveis. Apesar de ser tudo isso uma necessidade, o desafio da educação é ainda maior do que sonha a vã sabedoria dos gestores da educação. Com a palavra, a professora Magda Torresini, 73, sendo 50 deles em sala de aula:
— O desafio me deixa doida, eu quero saber o que tem na cabeça dos alunos. Eu sou apaixonada pelo pensamento. A minha meta de hoje é questionar, procurar entender o outro, olhar para o lado. Porque o mundo mudou. Onde esta a resposta? — divaga Magda.
Nos textos a seguir, Pacheco, Luciane, Magda e Nilcéia nos conduzem para além do lugar comum, e com ideias simples, revelam a esperança por um novo mundo a ser transformado a partir da educação. Implícito a este discurso, visto por muitos com desdém, mas por tantos outros, com alegria, está a forma como lidamos com o tempo.
Que a poética de Raduan Nassar, em Lavoura Arcaica seja o tom dessa conversa que temos a seguir:
"rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não se rebelando contra o seu curso, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não sua ira".