Nada mais melancólico para um carnavalesco do que barracão de escola de samba vazio e silencioso em pleno verão, época de preparativos de fantasias e alegorias. Mas é a inversão da maior festa popular do país que virou regra em Caxias do Sul. Pelo terceiro ano consecutivo, as agremiações não sairão às ruas para participar do que uma vez podia ser chamado de tradicional desfile. A explicação é a falta de recursos próprios e de repasses da prefeitura.
O que se verá neste ano é uma festa bem moderada e restrita aos terrenos das escolas, algo parecido com o que ocorreu no ano passado quando três escolas realizaram atividades internas nos bairros. O cancelamento dos desfiles era previsível, embora a expectativa de meses atrás fosse de ressuscitar o formato.
— A movimentação que existe é para que sejam feitas atividades nas agremiações, nos barracões que as escolas possuem. Algumas ficaram de responder e duas, a princípio, têm interessem em fazer, mas a gente ficou de conversar no início de janeiro. Além dos blocos, o que a gente vai ter é isso: as festas na nas escolas, estilo bloco, mas não vai ter desfile — confirma Aline Carneiro, coordenadora do departamento de Arte e Cultura Popular da Secretaria Municipal da Cultura.
Nos tempos de bonança, a prefeitura injetava grandes somas na festa popular. Em 2016, último ano em que as escolas organizaram os desfiles com dinheiro público, o município gastou cerca de R$ 380 mil (R$ 200 mil a menos do que em 2015). A premiação para as escolas ficou em R$ 318 mil. A partir de 2017, o corte de recursos foi total. Como as escolas são mantidas por comunidades da periferia, ou seja, sem empresas por trás, a mobilização é tão fraca que sequer há expectativa para escolher a corte do Carnaval 2019. Em 2017, a rainha, o rei momo e as princesas foram nomeados por uma comissão e se mantiveram no cargo em 2018.
A XV de Novembro, do bairro Euzébio Beltrão de Queiróz, movimentava em torno de 400 pessoas para colocar a escola na avenida, entre participantes dos desfiles e equipe de bastidores. Era um gasto entre R$ 35 e R$ 40 mil, valor alto para arrecadar com patrocinadores. Hoje, a estimativa é que são necessários pelo menos R$ 60 mil.
— Nossa avaliação é que existe um desprezo com o carnaval das escolas. O pessoal tá perplexo e o homem (prefeito Daniel Guerra) não se manifesta. Fizemos reuniões mas não adiantou nada — lamenta o presidente da XV de Novembro, Adenir da Silva Carvalho, o Diniro.
Aline, que assumiu o departamento de Arte e Cultura Popular em dezembro, reconhece o impeditivo da falta de verbas, mas diz que haverá apoio de outras formas.
— Estamos vendo as possibilidades de como ajudar nas festas das escolas de samba. Estamos vendo com eles qual é a demanda, o que eles precisam, o que vai desde a organização do trânsito, até a cedência de banheiro químico e aparelho de som.
A Protegidos da Princesa, escola vinculada ao Clube Gaúcho, é uma das poucas com estrutura para sediar festas internas. A tesoureira da entidade, Maria Rodrigues, revela que algumas escolas já procuraram o clube para fazer parcerias.
— Nem todos têm barracões adequados para fazer esse tipo de festa. No fim, é bem triste o que está acontecendo. A confraternização na rua é a junção de raças, da pessoa mais humilde com a alta sociedade. Num pavilhão não é a mesma coisa — lamenta Maria.
O último desfile de Carnaval em 2016 movimentou cerca de 3 mil pessoas e atraiu um público acima de 30 mil pessoas na Rua Plácido de Castro, no bairro Exposição.