Um advogado de Caxias do Sul teve participação na rede internacional criada para lutar pela absolvição e libertação de Asia Bibi, mulher condenada à morte no Paquistão. Jean Carbonera, que já foi presidente da ONG Advogados Sem Fronteiras (ASF) Brasil e hoje ocupa o cargo de presidente da honra da entidade, foi um dos consultores da banca responsável pela defesa da mulher.
Asia estava livre desde a confirmação da sentença pela Suprema Corte do Paquistão em outubro, mas a informação só foi divulgada no dia 7 de novembro para que ela pudesse deixar o país em segurança. A localização dela é mantida em segredo e a Alemanha já ofereceu asilo. A libertação está gerando protestos no Paquistão, com carros queimados e prisões.
Asia, que é cristã, foi presa em junho de 2009 após ser acusada de blasfêmia contra o profeta Maomé. O Paquistão é país de maioria muçulmana e considera inaceitável menções pejorativas ao grande líder religioso do Islã. As complicações começaram quando Asia trabalhava numa plantação e a esposa de um ancião da vila lhe pediu água para beber. Conforme a ASF Brasil, camponesas disseram à senhora que não devia beber o líquido tocado por uma cristã, pois estaria impuro e seria um sacrilégio.
Asia retrucou, perguntando se, por não serem muçulmanos, "não somos humanos?", o que desencadeou uma discussão. Segundo a ASF, as camponesas relataram ao líder religioso local, Qari Salim, que Asia havia ofendido Maomé durante a briga.
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Mesmo negando as acusações, a cristã foi presa e acusada de insulto ao profeta, crime punido com morte. Desde então, foi mantida em isolamento e com acesso restrito ao marido, aos cinco filhos e aos defensores. O juiz de primeira instância havia descartado a tese de inocência e confirmou a pena de morte por enforcamento. Durante a apelação, conforme a ASF, advogados e julgadores receberam ameaças de morte por fundamentalistas e passaram a ter apoio e suporte da ASF e da Anistia Internacional. O caso gerou comoção internacional e motivou o posicionamento a favor da vida dela por parte dos papas Bento XVI e Francisco.
O advogado caxiense teve contato com a história de Asia quando morava na Europa. Ele já havia trabalhado com a Anistia Internacional na Itália e coordenou uma rede de ONGs ligadas à Igreja Católica, sediada na Bélgica. Em 2009, advogados da Bélgica, Holanda e França estavam expandido a atuação da rede e Carbonera foi convidado a implantar uma unidade no Brasil, o que ocorreu em outubro daquele ano e aproximou o caxiense de casos de violação de direitos humanos.
— Em 2012, teve um encontro em Londres e fomos procurados por um advogado asilado do Paquistão. Ele pediu ajuda para esse caso, que considerava injusto. Lá, geralmente advogados que defendem as minorias religiosas são perseguidos e ameaçados. Inclusive um líder paquistanês que havia pedido a absolvição de Asia foi assassinado. Fizemos intervenções com políticos locais, embaixadas e juristas para reverter a sentença. Foi um lobby, um ativismo — conta Carbonera.
Em 2014, a sentença capital foi confirmada pelo Tribunal de Apelação de Lahore. O trabalho do caxiense e de outros integrantes da ASF para salvar a mulher envolveu até mesmo missões sigilosas ao Paquistão para trocar de informações e orientações aos advogados daquele país. A notícia da absolvição e libertação da mulher está sendo comemorada.
— Ela foi absolvida porque não se provou que teria faltado com o respeito a Maomé. Estávamos aguardando que ela saísse do país antes de divulgar a informação da libertação — complementa o caxiense.
Além de Asia, os advogados dela também tiveram de abandonar o Paquistão.