Meteorologistas divergem sobre o que ocorreu em Vila Oliva, interior de Caxias do Sul. Para a Somar Meteorologia, uma análise superficial sobre as imagens dos estragos indica que a comunidade foi atingida por uma frente de rajada, fenômeno geralmente associado a chuva intensa, granizo e ventos fortes. A chamada rajada ocorre quando o vento aumenta de velocidade de forma repentina e segue numa direção horizontal. Por esse motivo, a Somar não acredita que Vila Oliva foi atingida por um tornado, pois as fotos indicam que os objetos não foram arremessados para distâncias longas. A Somar, porém, entende que uma primeira análise deveria ser realizada a partir de imagens áereas. A MetSul divulgou que Vila Oliva foi sim castigada por um tornado já que houve registro de ventos acima dos 100 quilômetros por hora nos pontos mais altos do Rio Grande do Sul, o que inclui Caxias do Sul.
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– Pela imagem não dá para definir se houve um tornado, mas, num tornado, esse caminhão (que tombou na frente de uma casa) teria sido alçado para outro local. Também observamos que os objetos não foram jogados para longe e espalhados, características que seriam comum num tornado – teoriza o meteorologista William Minhoto.
A Estação Climatológica do 8º Distrito de Meteorologia, situada no Aeroporto Hugo Cantergiani, registrou duas medições da velocidade em Caxias do Sul. Às 2h30min, a velocidade chegou com força 6, equivalente a 60/70 quilômetros por hora, de acordo com a observadora climatológica Neusa Salvador Machado. Às 6h, a estação registrou ventos com força 8, cuja velocidade pode ter passado dos 90 quilômetros por hora.
O comandante regional dos bombeiros na Serra, tenente-coronel Cleber Valinodo Pereira, aponta três momentos que definiram a destruição em Vila Oliva.
– Os moradores confirmaram uma ventania forte por volta das 2h. Houve nova incidência por volta das 4h, quando fomos acionados para o socorro. Quando estávamos em Vila Oliva, já prestando atendimento, houve uma rajada perto das 6h, o que foi bastante complicado.
As mesmas fotos analisadas pela Somar tiveram um parecer preliminar diferente por parte do professor Ernani de Lima Nascimento, associado dos programas de Graduação e Pós-Graduação em Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria.
– Posso dizer que os danos nas localidades mostradas nas fotos são plenamente compatíveis com os de um tornado. Impressionam mesmo. Na verdade, este evento não chegou a ser uma surpresa total para alguns de nós meteorologistas porque havia condições favoráveis a eventos severos na Serra – pondera Ernani.
A opinião é compartilhada pelo mestre em Meteorologia, Maurício Ilha.
– A princípio, as condições atmosféricas estavam condizentes para um tornado, ou seja, fonte de ar quente e úmido. Esse grau de destruição (citando Vila Oliva) pode ser sim um tornado. Esse evento lembra o que ocorreu em Canela, em 2010– cita Ilha, referindo a um forte temporal que atingiu a Região das Hortênsias com ventos de 124 quilômetros por hora e causaram devastação.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) não fez uma análise do que pode ter provocado tanto estrago em Vila Oliva e região, o que só deve ocorrer nesta sexta-feira.