Um dos principais patrimônios culturais de Farroupilha pede socorro. Há três anos fechadas e jogada literalmente às traças, a casa que pertenceu ao padre, poeta e radialista Oscar Bertholdo, cuja morte completa 25 anos nesta segunda-feira, transformou-se em um cenário deprimente no centro da cidade. Doada à prefeitura, o imóvel carece não apenas de uma utilidade, mas também de manutenção urgente para conter a deterioração.
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Não é preciso entrar na residência doada ao município para perceber os malefícios que o tempo e o desuso têm feito à residência, que desde a morte de Bertholdo já abrigou uma casa-lar para crianças e adolescentes em vulnerabilidade social e posteriormente uma unidade do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).
Quando o Pioneiro esteve no local, na sexta-feira à tarde, encontrou o gramado tomado pelo mato, diversas janelas e telhas quebradas, paredes sujas e com rachaduras, além de portões enferrujados. Na entrada, duas contas de luz aguardavam ser retiradas junto ao portão.
- É um absurdo por diversos motivos. Primeiro, pelo desrespeito à memória de Oscar Bertholdo. Segundo, porque a prefeitura paga mais de R$ 1 milhão por ano em alugueis e esse imóvel está ocioso e se deteriorando. No mínimo, a manutenção já devia estar sendo feita - critica a vereadora Maristela Pessin (PMDB).
Maristela já se manifestou por duas vezes na Câmara de Farroupilha contra o estado de abandono do imóvel. Em maio de 2015, ouviu do líder do governo, Paulo Roberto Dalsochio (PDT), que a prefeitura tinha um projeto para a casa. Nove meses depois, na última segunda feira, Maristela voltou ao tema e obteve do prefeito, Clayton Gonçalves (PDT), resposta semelhante.
- A gente espera que algo seja feito rapidamente, porque se trata de um dos principais patrimônios culturais de Farroupilha. Desconhecer a importância disso e condenar o prédio ao abandono é o que mais dói - acrescenta Maristela.
Na sexta-feira, depois de ser contado pela reportagem, o secretário de Turismo de Farroupilha, Fabiano Piccoli, determinou que fossem feitas uma roçada e uma capina no terreno. O serviço foi executado no sábado por uma equipe da Ecofar. Piccoli estima que o local não recebia manutenção deste tipo há pelo menos seis meses.
Duas décadas e meia de um crime brutal
Oscar Bertholdo foi brutalmente assassinado aos 56 anos na manhã de 22 de fevereiro de 1991, quando dois assaltantes invadiram a residência na esquina das ruas Luis Busetti e Albino Bender . Os homens amarraram, amordaçaram e mataram Bertholdo com golpes de faca. O religioso recém havia apresentado seu programa diário na Rádio Miriam e se preparava para almoçar. A dupla, que contou com o auxílio de dois menores, estaria atrás de dólares e ouro que supostamente estariam na casa, mas nada foi encontrado.
Natural de Nova Roma do Sul, Oscar Bertholdo tornou-se referência religiosa e cultural na Serra. Além de exercer a liderança religiosa no Santuário de Caravaggio e também na paróquia da comunidade de Santo Antônio, em Bento Gonçalves, foi autor de 12 livros de poesia e quatro antologias, além de ter deixado obras lançadas postumamente. Foi ainda apresentador de programas de rádio e cronista de jornal em Farroupilha, onde residiu após encerrar a atuação religiosa, em 1980, quando passou a viver da renda de uma herança de família.
Parceria com iniciativa privada criaria memorial
O secretário de Turismo Fabiano Piccoli reconhece que houve falhas na manutenção da casa, estimando que, a partir do cenário encontrado no local, o imóvel não recebia capina ou roçada há pelo menos seis meses.
- Hoje, o custo para a reformar seria de, no mínimo, R$ 150 mil, um recurso que a prefeitura não dispõe. Além do mais, para dar vida àquele espaço, seria preciso no mínimo duas pessoas trabalhando lá, o que também gera custos - explica.
Como o município não tem os recursos necessários para trocar telhado, forro, aberturas e refazer a parte elétrica, Piccoli adiantou ontem que está no setor de compras da prefeitura para ser publicado em alguns dias uma chamada pública para atrair parceiros da iniciativa privada dispostos a custear a reforma em troca do uso do espaço.
- A administração priorizou os recursos disponíveis para investir nos espaços ao ar livre. Foram revitalizadas 13 praças, com diversos modelos de parceria. Como não temos perna para fazer tudo, contamos novamente com esse modelo, que tem dado certo, para fazer o memorial. Posso citar como exemplo também a revitalização da estação férrea - justifica.
Conforme o secretário, a Confraria do Vinho de Farroupilha teria demonstrado interesse em participar do certame. A ideia seria criar no imóvel uma espécie de memorial com pertences do padre como livros e móveis. O acervo está dividido entre a residência e a Casa da Cultura do município.
- Baseado nas suas obras, que falavam sobre a uva, as vinhas e o vinho, poderia ser criado um pequeno museu da uva e vinho - destaca Piccoli.
Patrimônio
Casa que pertenceu ao padre Oscar Bertholdo, em Farroupilha, agoniza enquanto espera receber uso
Doada à prefeitura, o imóvel carece não apenas de uma utilidade, mas também de manutenção
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