Admito, sou um cara ingênuo. Admito que acreditava que a Operação Lava-Jato tiraria de circulação, colocaria na cadeia e obrigaria os políticos corruptos a devolver os milhões que roubaram do país. Minha ingenuidade me conduziu ao engano (de novo).
Os avanços que a Lava-Jato têm obtido, inclusive no âmbito do Poder Judiciário, correm o risco de anulação no Legislativo e no Executivo. Um exemplo: o deputado Eduardo Cunha declarou numa CPI que não tinha conta bancária na Suíça. Foi desmentido. Mais, seu dinheiro foi vinculado à roubalheira na Petrobras.
A mentira configura quebra de decoro parlamentar, passível de cassação. Até quarta-feira, contudo, os nobres colegas de Cunha tinham dúvidas se davam ou não largada ao processo de cassação do presidente da Câmara. Talvez, neste momento, Cunha esteja enredado em maus lençóis, mas a dúvida dos deputados que têm poder de decisão grita mais alto do que a própria decisão.
As evidências da Lava-Jato, portanto, foram negligenciadas, minimizadas, como se Cunha fosse santo. Na polícia e na Justiça o caso tem interpretação contrária à leitura do parlamento, tudo porque Cunha ameaça abrir impeachment contra Dilma.
Dilma incentiva as investigações de corrupção, mas, paralelamente, instiga os aliados na Câmara a ignorar as denúncias contra Cunha porque morre de medo do impeachment. Quem não deve não teme. O que será que deputados, senadores e integrantes do governo Dilma temem?
A resposta parece óbvia, mas ainda é impublicável. É certo, porém, que essa conversa de bêbados entre os Três Poderes paralisa o país, recrudesce a crise, piora a vida do brasileiro. Embora aqui a ingenuidade tenha vencido a razão, ainda sobrou espaço para dizer que esse jogo de interesses é nojento, nojento, nojento.
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Os deputados gaúchos são contrários ao afastamento de Jardel imposto pela Justiça. Os deputados consideram o ato uma intromissão do Judiciário no Legislativo. Pode ser que seja uma intromissão de poderes, mas perguntar não ofende: o que a Assembleia fez para desmascarar Jardel? Combinemos: ao povo pouco importa saber que o deputado foi flagrado por A ou por B. A essas alturas, flagrar, e só flagrar, já está de bom tamanho.
Opinião
Gilberto Blume: esse jogo de interesses é nojento, nojento, nojento
A mentira configura quebra de decoro parlamentar, passível de cassação
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