Gilberto Blume: vou reclamar? Jamais. Ainda prefiro a insolência do sabiá

Amenidades.

Gosto do horário de verão. Não sei bem por que, jamais empreguei muita energia tentando entender a preferência pelo horário de verão. Talvez sejam os dias mais longos, as noites mais curtas. Talvez a luminosidade, essa atmosfera que enxergo mais festiva, sei lá.

Conheço algumas pessoas que não curtem o horário de verão. Elas também não sabem com exatidão por que não gostam da mudança dos dias e das noites.
Conheço um sabiá que, tenho quase certeza, gosta do horário de verão assim como eu gosto.

Até a semana passada esse sabiá cantava às 6h na minha janela, sem falhar.

Desnecessário dizer que ninguém consegue dormir com um sabiá cantando na janela.
No domingo, primeiro dia do horário de verão, o sabiá apareceu às 7h. Na segunda-feira também. O relógio biológico do sabiá levava-o a despertar às 7h, indiferente às alterações que nós, humanos, promovemos na cronometragem do tempo.

No domingo e na segunda, pois, me senti no lucro: o sabiá me deixara dormir uma hora a mais.

Ontem, surpresa!, o danadinho apareceu às 6h. Ou seja, adaptou sua estreia matinal ao nosso relógio, sem se importar que meu organismo humano ainda tenta se adaptar ao novo horário.

Como disse acima, gosto do horário de verão.

Igualmente gosto de sabiás e de qualquer ave canora (só deve escrever "canora" quem é despertado às 6h em pleno horário de verão, quando de fato ainda são 5h).

O bom de tudo é que o horário de verão recém começou. O sabiá ainda vai gastar muita saliva se exibindo na minha janela logo ao amanhecer. E eu, claro, ainda vou praguejar durante algumas manhãs iniciadas às 5h.

Vou reclamar?

Jamais.

Apesar de tudo, ainda fico com a insolência do sabiá.