![Arte de Juliana Rech / Agência RBS Arte de Juliana Rech / Agência RBS](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/17665049.jpg?w=700)
Semanalmente, a reportagem lançará a opinião de homens e mulheres de diversos segmentos para estimular o debate antiviolência em Caxias do Sul. A série de matérias será veiculada no período que compreende a Semana da Paz, comemorada em setembro, e a Semana da Justiça Restaurativa, prevista para metade de novembro. Ao final, os participantes e outros convidados serão desafiados a discutir o tema num encontro aberto ao público.
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Nesta reportagem, lideranças com envolvimento comunitário mostram como pretendem contribuir e instigar o processo de paz nos bairros. Essa mobilização é importante porque comunidades parecem abatidas pela violência, e depositam as esperanças de paz e segurança em mais policiamento na rua e leis mais rígidas. A preferência da população pela resposta armada pode dar certo durante um tempo, e quem sabe espantar ladrões e traficantes para longe do bairro. Mas quem impedirá a migração para o crime dos jovens hoje desassistidos pelo Estado e pela família?
Lideranças apontam como pretendem se engajar contra a violência em Caxias
Pais e autoridades podem não ser os únicos responsáveis. Se a primeira atitude contra a violência vem de berço, a reação também depende do vizinho ao lado, do presidente da associação de moradores e de tantos outros setores de uma comunidade que se preze como vigilante. Não se trata de estimular corpo a corpo contra traficantes e homicidas, mas vai além de passeatas com camisetas brancas. É engajamento, resistência e interesse com o próximo, algo raro apesar da violência galopante.
Os três assassinatos na rótula do bairro São Leopoldo, no intervalo de 60 dias, são emblemáticos justamente pela falta de comoção. Alguns moradores se posicionaram contra a carnificina numa área pública. Foi pouco. O policiamento reforçado naquela região, prometido pela BM, é solução temporária que não arranca a raiz do problema.
Ensinar e mobilizar comunidades inteiras contra a violência não seria audacioso demais. A cidade tem até programa público definido e várias ONGs com propostas nas ruas. A articulação é que precisa ser aprimorada, reconhecem os próprios integrantes. Levantamento aponta mais de 200 instituições com alguma finalidade social em Caxias. Por outro lado, a dificuldade é mobilizar donas de casa, comerciantes, jovens, trabalhadores e demais cidadãos para compartilhar a responsabilidade por uma Caxias menos violenta.
O QUE VOCÊ PODE OFERECER PELA PAZ EM CAXIAS?
- O que se pretende é fazer com que as comunidades se empoderem de fazer a inclusão social dos grupos em vulnerabilidade. Defendo ações locais com recursos possíveis no território de cada instituição. Desde 2014, fazemos reuniões mensais com UBS, escolas, ONGs, líderes comunitários e religiosos, onde se combina ações planejadas, executadas e avaliadas coletivamente dentro do território. Em cada território temos de 2 a 3 referências. A medida que encontrarmos novas lideranças vamos aumentar essas redes. Fazer com que as pessoas se sintam capazes de ajudar, cuidar de quem está vulnerável. A violência é uma manifestação de uma necessidade não atendida, em todos os níveis. Então, é necessária essa acolhida.
Juliana Marcon, coordenadora das Redes de Pacificação Social
- Estamos fechando um convênio para incluir mais jovens por meio do esporte, sempre no turno inverso da escola, é uma maneira de prevenir. Nossa meta também é treinar os líderes comunitários para que saibam criar projetos de inclusão e inscrever junto ao poder público. Além disso, vamos manter a parceria para o policiamento comunitário da Brigada Militar, que é um diferencial. Mas não adianta apenas isso, entendo que é preciso mudar a lei e ter mais policiais. Não é fácil segurar alguém o dia inteiro num projeto social e evitar que se envolva na criminalidade. Caso contrário, não vamos resolver nada.
Flávio Fernandes, presidente da União das Associações de Bairro (UAB) de Caxias
- Acredito na cultura de paz, que é um processo lento. Começa comigo, com atitudes não violentas, pela educação na minha família. Também precisamos priorizar espaços para reflexões nas comunidades. Para isso vejo a necessidade de potencializar o programa de Justiça Restaurativa, do qual faço parte. É fundamental abrir outras centrais em outros bairros. Temos que voltar às ruas para divulgar a Central da Paz Comunitária como se fez no início, para atrair mais pessoas e instituições a essa proposta.
Susana Duarte, coordenadora do Núcleo de Capacitação Canyon e da Central da Paz Comunitária
- A paz vai existir a partir do momento em que a comunidade começar a participar ativamente das ações de reinserção e tratamento dos cidadãos mais marginalizados, principalmente, seus presos, que buscam oportunidades de trabalho e inclusão social, e têm suas portas fechadas como pena por toda a vida. Caxias tem mais de 1,2 mil presos. Há também seus familiares. A partir do momento em que a comunidade se importa, é possível reduzir o número de pessoas nas cadeias e a violência nas ruas. Hoje, tentamos atuar com os familiares também desses apenados. Vamos seguir nos bairros e nos presídios por melhores condições de apenados e de suas famílias. Michele Mendes Agostini, presidente do Conselho da Comunidade Carcerária de Caxias