Tínhamos o último Caxiense das 21h30min para fugir de semanalmente de Caxias feito Carlota Joaquina - "desta terra, nem o pó". Era junho ou julho de 1994. Muito frio e a dita veio. Na altura da Forqueta, ali próximo à descida que chegava ao pedágio, o ônibus deslizava feito sabão, patinava no gelo. Não teve jogo. Horas numa birosca de posto de gasolina. Então, no meio da madrugada, uma voz disse que deveríamos voltar à estrada. Lá pelas 4h30min da manhã desci em São Leopoldo, meu destino, adentrando a cidade pela rua entre o prédio da antiga Unisinos e a igreja, desorientado e sonado na noite branca, ouvindo, em algum lugar, improváveis cantos jesuítas.
Uns dias depois, de novo num coletivo, desta vez saindo às 6h15min de uma gélida, gélida, gélida manhã rumo a São Francisco de Paula. Citralão! O sono e as camadas de roupa me jogaram a Morfeu. Embevecido, acordando por volta das 8h e tais, olhei entre as araucárias, divindades que naquele momento filtravam alguns raios de sol que davam alô ao dia, fumegando a terra. Entre a luz que vinha de cima e a fumacinha que brotava do chão, o fenômeno meio Gabriel Garcia Marquez chapava o olhar.
Mais recentemente, agosto de 2013, o burburinho das 23h e tais da Júlio não era dos travestis de sempre. Crianças, pais, mães, velhinhos e todos e tudo se ouriçava. Flashes de celulares, gritos, vivas festejavam aquilo que, de alguma maneira, jogava as pessoas em outras dimensões, na euforia de algo que não sabiam explicar, em coisas de um outro tempo. A neve apaga lembranças, suscita memórias. Inventadas que sejam.
Crônicas de inverno
Carlinhos Santos: memórias em branco
Até setembro, aos sábados, jornalistas do Pioneiro contam histórias da sua relação com a estação
Carlinhos Santos
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: