Prevalecendo o voto dos deputados e dos senadores, o aposentado terá o benefício reajustado pelas regras que reajustam o salário mínimo. Ou seja, a inflação dos 12 meses medida pelo INPC mais a variação dos PIB de dois anos anteriores. Hoje, a política de reajuste aplicada ao aposentado é diferente das regras do reajuste do mínimo. Consequência: progressiva corrosão do benefício do aposentado. Um aposentado que há 10 anos recebia 10 salários mínimos hoje recebe três, quatro. A defasagem é enorme e injusta.
Dilma deve vetar o projeto sob a alegação recorrente: a Previdência Social não tem como assumir a conta. Todos sabemos que o país está à deriva, a água bate no pescoço, o governo trabalha para ajustar contas, etc. Esta, pois, não seria a hora de alterar a política de reajuste dos aposentados. Cabe perguntar, contudo: quando, afinal, chegará a hora de aprimorar o reajuste dos aposentados? Não há ingênuos, sabemos do momento crítico, estamos dispostos a dar nosso quinhão (de novo), mas.
Tampouco há egoístas, não queremos obter vantagens mediante sacrifícios da sociedade, mas.
Mas é evidente que em todas as crises sempre rompe a ponta mais frágil: o trabalhador, o aposentado.
Também é evidente que uma crise dessa magnitude não se forma de uma hora para outra. Igual uma empresa ou em nossa administração doméstica, o dinheiro que entra e o dinheiro que sai devem respeitar um certo equilíbrio. Caso contrário, é crise na certa.
Décadas de gestão pública equivocada e interesseira provocam crises intermitentemente. A crise atualmente em cartaz de novo rói a corda do cidadão, extinguindo benefícios trabalhistas, por exemplo. Os grandes investidores e os bancos, sempre endinheirados, de novo não sofrerão um arranhão sequer. Os Três Poderes idem. Pelo contrário, a lista de privilégios concedidos aos servidores públicos somente neste ano faria corar o mais desavergonhado corrupto.
Até quando?
Ainda há muita água para rolar sob a ponte, o aposentado não pode cantar vitória alguma. Embora até o senador petista Paulo Paim desta vez tenha votado a favor do aposentado e, portanto, contra o próprio governo, nada está assegurado.
Opinião
Gilberto Blume: ainda há muita água para rolar sob a ponte. O aposentando não pode cantar vitória
Décadas de gestão pública equivocada e interesseira provocam crises intermitentemente
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