Estou cinquentão, mas recordo com clareza dos tempos em que, adolescente, chegavam notícias de jovens mortos no trânsito. Com frequência a cidadezinha onde eu morava estremecia: mais um guri morrera de moto ou de carro. Um bom eito dos raros rapazes motorizados perdeu a cabeça, morreu ou matou no trânsito. Alguns jovens eram bem próximos de minha família. Outros, nem tanto, mas o luto temperado com indignação pairava sobre a cidade.
Os 17 leitores da coluna devem ter ouvido falar do Programa Vida Urgente, mantido pela Fundação Thiago de Moraes Gonzaga. A Fundação foi criada em 1996 por Régis e Diza Gonzaga, pais de Thiago, morto aos 18 anos, quando o carro em que estava, de carona, chocou-se contra um container de lixo colocado irregularmente na rua, na madrugada de 20 de maio de 1995, em Porto Alegre. A manifestação de Diza, presidente da Fundação, resume o objetivo da entidade:
O que aconteceu comigo e com o Régis, enquanto pais, não é nenhuma novidade. Isso está acontecendo diariamente, e temos lido e ouvido muitos relatos sobre estas perdas. Mas apesar de sentir que esta dor não diminuirá nunca, e que só vamos aprender a conviver com ela, acho que a morte do meu lindo Thiago não pode ser apenas mais uma. Isso é vaidade? Não sei. Sei é que preciso fazer algo, deixar algo para que essa perda produza ganhos, pois admitir que apenas acabou, não consigo. O Programa VIDA URGENTE não salvará o mundo, sabemos, mas se apenas um jovem com acesso à campanha deixar de se sentir babaca por agir com bom senso na direção de um carro ou mudar de comportamento a partir da reflexão que propomos, já teremos alcançado nosso objetivo.
O símbolo do Vida Urgente é uma borboleta (lembram da borboleta pintada no asfalto de São Pelegrino em novembro de 2011 onde três rapazes morreram?). Hoje, os estudantes de Veranópolis terão a oportunidade de vivenciar a campanha Álcool e Direção: uma Dupla que não Combina. O debate será na Sociedade Alfredochavense, às 8h30min. O programa será completado pela palestra Desmistificando a Cultura do Herói, proferida pela própria Diza Gonzaga.
É a mãe do Thiago tentando fazer com que o máximo de jovens cheguem as 50 anos com o mínimo de tragédias para contar.
Opinião
Gilberto Blume: a mãe de Thiago de Moraes Gonzaga conversa com estudantes de Veranópolis. Assunto: vida
Com frequência a cidadezinha onde eu morava estremecia: mais um guri morrera de moto ou de carro
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