Angélica Baciquet, 40 anos, faz parte de um grupo cada vez menor: o de mulheres que fizeram parto normal. Entre 2005 e 2014, o número de gestantes que optou pela cesárea aumentou 7,5% em Caxias do Sul, elevando ainda mais uma taxa que já era alta. Dos 6.328 partos realizados no ano passado, 69,8% foram cesarianas. Mãe de dois filhos, Angélica escolheu o parto normal nas duas vezes:
- A recuperação é muito mais simples. Com a modernidade, acredito que a cesariana também seja simples, mas é uma cirurgia e o parto não tem um procedimento que vá fazer você ficar com alguma sequela ou alguma outra coisa. É tudo natural mesmo. Então, eu recomendo. Me perguntam se dói muito, dói sim, mas é uma dor que depois você nem lembra mais - explica.
Angélica conta que no nascimento do primeiro filho, agora um adolescente de 15 anos, a cesárea sequer foi cogitada. Mas, durante o pré-natal da gravidez mais recente, o médico colocou em evidência as dificuldades de um parto normal. Mesmo assim, ela se manteve firme e a menina Natália, agora com seis anos, nasceu da mesma forma que o irmão Henrique.
Por outro lado, a cesárea é a opção da maioria das mulheres. Este é o caso de Cleci Palavro. Depois de receber orientação médica, ela decidiu pelo método cirúrgico para o nascimento de Mateus, hoje com seis anos.
- Eu estava super bem. Minha gravidez foi tranquila. Quando pedi para a doutora o que era melhor para o bebê, ela me disse que a cesariana é melhor para o bebê, porém um pouco mais difícil a recuperação para a mãe. E o parto é melhor para a mãe, mas o bebê sofre um pouquinho. Então, pensando no bem-estar dele, optei pela cesariana. Minha recuperação foi rápida e não teve nada de complicação - detalha.
O ginecologista Dino De Lorenzi, que é diretor geral de Políticas e Programas de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, considera que o fenômeno do aumento das cesáreas está relacionado também a fatores sociais e econômicos.
- Parece que quanto mais cultura, mais educação, mais poder de decisão até do ponto de vista econômico, maior é a opção pela cesariana. Eu acho que existe toda uma cultura, há uma facilidade de se programar a vida, há uma crença de que a segurança se torna maior com a cesariana. Você programa, você se organiza, sua família se organiza, você organiza seu trabalho e fica conveniente para que elas optem pela cesariana. E também para os profissionais que fazem e que hoje conseguem se organizar melhor. Há uma opção conjunta pela cesárea - comenta.
Além disso, o médico destaca que a cesárea pode ser uma alternativa importante se utilizada em situações com indicação clínica. É o caso de Carla Andrade, 18 anos. Ela estava decidida a ter um parto normal, mas o planejamento teve de ser mudado e a pequena Maria Luiza nasceu por meio cirúrgico no dia 6 de junho de 2015:
- Pretendia o parto normal, mas meu cólo do útero não abriu. Então, esperamos a última hora. Mas foi tudo tranquilo com a cesárea - conta.
Desde 1985, a comunidade médica internacional considera que a taxa ideal de cesárea é entre 10% e 15% do total de nascimentos.
Maternidade
Quase 70% dos partos de Caxias do Sul são cesáreas
Opção pelo parto normal caiu 7,5% entre 2005 e 2014
Flavia Noal
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