* Paula Valduga (interina)
Famílias, casais, amigos, pessoas sozinhas, tribos diversas pulavam por sobre os trilhos da Estação Férrea aí pelo meio-dia de sábado. Organizavam-se em filas em frente a veículos que serviam comida, comentavam a "kombi de cerveja", seguravam copos e olhavam cardápios.
Num dia de clima legal, caxienses e visitantes (tinha muito músico de fora por aqui nos últimos dias, você notou?) olhavam para uma outra Caxias por trás de seus óculos escuros. Sim, tinha sol, e vamos combinar que ele convida a ir pra rua. A rua, ah, a rua.
Os caminhões de comida estavam lá estacionados na Estação Férrea como parte da programação do Festival Brasileiro de Música de Rua, que já vinha soltando acordes em esquinas e paradas de ônibus. Um caxiense andava com as compras do supermercado enquanto nordestinos tocavam na calçada do Ópera na sexta-feira. A vida acontece na rua. A rua precisa ser ocupada. E a Estação é a rua. A Praça é a rua, sabemos bem.
Mas voltemos pro meio-dia de sábado. De repente, em meio a chamadas de números e nomes para entregar os pratos pedidos, ouve-se uma tuba soar. Todo mundo olha e sorri para o Quarteto New Orleans, que do nada começa a tocar ali do lado dos trilhos. Do outro lado, um pouco depois, o palco armado na Estação recebe uma dupla que orgulha a cidade. Valdir Verona e Rafael de Boni tiram som da viola e do acordeom, respectivamente, e dão outro clima para o já tão legal e diferente almoço de sábado. Todo mundo junto. Gente daqui e gente de outros lugares. Numa boa.
Nós ouvimos tanta reclamação, tantas frases do tipo "não tem o que fazer em Caxias", "as coisas não chegam aqui". Tá bem, é normal no ser humano a insatisfação. E a gente deve querer mais. Há de se andar para a frente. Mas tem o outro lado. E ele depende muito de nós. Quando algo está acontecendo, como estava nos últimos dias, o convite para prestigiar precisa ser aceito.
É bonito ver a cidade "ocupada" como estava sábado. Sol, música, comida diferente, gente alegre, curtindo. A Estação ganhou um astral que precisa ser frequente. Isso está na mão de todos, de quem organiza e de quem prestigia. Sábado, nem ingresso precisava pagar. Por que não ir?
Opinião
Paula Valduga: a Estação ganhou um astral que precisa ser frequente
Quando algo está acontecendo, como estava nos últimos dias, o convite para prestigiar precisa ser aceito
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