* Carolina Klóss (interina)
Se existe algo mais triste e dramático do que um velório, desculpem-me, desconheço. Velórios que duram horas e horas, então, parecem prolongar uma dor que pode grudar no coração e nunca mais desgrudar. Não, não desgruda mesmo. Perder alguém próximo é algo que nunca ninguém conseguirá explicar. Não venham me dizer o contrário porque não vou acreditar. Minha mãe se foi há pouco mais de dois anos e as lágrimas ainda insistem em cair e cair a cada vez que algo me faz lembrar dela. Um cheiro, uma foto - apenas escrevendo isso já tive que correr para buscar um lencinho e voltar a pensar que, onde quer que ela esteja, está bem e em paz.
Enfim, talvez sejam apenas velórios e enterros que tiram a alegria do Carnaval. Qualquer festa, qualquer menção de um sorriso no rosto perde a força com a notícia da morte. Passei toda a segunda-feira ao lado de pessoas que estavam em um mundo paralelo, no qual foliões e serpentinas não existiam. Se o Carnaval estava mesmo acontecendo, era bem longe dali. Nem a feição serena daquela que tinha partido, rodeada de flores e de muito amor, parecia amenizar o sofrimento daqueles filhos e netos que não queriam acreditar no que tinha acontecido. Nem a certeza de que a vida daquela pessoa de 94 anos tinha sido bem vivida, ao lado de pessoas do bem, conseguia acalmar aqueles peitos que pulsavam sem parar ali, aos olhos de todos.
A morte é algo que fere, machuca e não cicatriza. Aí virão aqueles dizer que ela é a única coisa certa na vida, que devemos aceitar e tentar lidar da melhor forma possível. Mas é tão difícil... Se alguém conseguir provar o contrário, por favor.
Durante o velório ou no enterro (ó, céus, por que é preciso enterrar alguém?), alguns choravam, outros deixavam o olhar fixo e perdido, outros ainda mostravam sorrisos tímidos para disfarçar a dor. Ali via-se, sem esforço, todos os tipos de sofrimento. Mas também era evidente uma troca de carinho, abraços afetuosos que vinham de pessoas nunca antes vistas, mas que estavam ali para rezar por aquela pessoa que semeou o bem e fez tantas amizades. Quisera eu saber que, ao final da vida, trilhei um caminho assim, que encerrou com amigos orando por mim, derramando lágrimas de uma saudade que não terá fim. Repito: a morte é cruel, mas nos faz pensar que a vida está aí e precisa ser vivida.
Descanse em paz, dona Helena Minuscoli, e nos guie aí de cima.
* O colunista Gilberto Blume está em férias.
Opinião
Carolina Klóss: a morte é algo que fere, machuca e não cicatriza
Perder alguém próximo é algo que nunca ninguém conseguirá explicar
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