* Adão Júnior (interino)
Notícias de assassinatos, crimes contra crianças e violência em geral me deixam tristes e até meio ateu. É difícil entender por que Deus não consegue impedir com força divina atos monstruosos contra a vida de pessoas que acreditamos ser do bem. Muitas famílias dilaceradas pela perda de entes queridos devem culpá-lo dia após dia da tragédia.
Por mais que se saiba que as barbáries feitas pelos homens não são obras de Deus, é impossível a partir de então ter uma relação estreita com ele. Graças ao 'Pai Nosso Que Estais no Céu' nada de trágico aconteceu com a minha família, e é isso que sustenta a fé, por mais que eu balance ao ver acontecer com os outros.
A reflexão veio à tona por dois assassinatos, de certa forma próximos, que ocorreram recentemente em Caxias: a morte de Márcia Tonial, funcionária do Sacolão (aqui ao lado do jornal Pioneiro), e a do jovem Aldair Inácio da Silva, morto na saída de uma quadra de futebol sete no bairro Santa Catarina.
No primeiro caso, o autor do crime e a vítima faziam parte da minha rotina. Sou cliente assíduo do mercado, cumprimentava os dois diariamente. O segurança Paulo Sérgio Rodrigues Ferreira estava sempre ali na frente, vestido de preto, com boné e celular na mão. Márcia volta e meia aparecia perto das meninas que trabalham nos caixas, conversando ou sorrindo. Ninguém poderia imaginar que ele estrangularia a namorada. Nem eu, nem a dona do Sacolão, nem o outro segurança grandão.
No segundo caso, o autor confesso do crime, Adélcio Luiz Zanatta, me presenteou com uma camisa de passeio do Napoli dias antes de matar o jovem. Ele é pai de um garoto de 16 anos revelado pela base do Juventude e que foi aprovado em testes na Itália. Fiz uma reportagem sobre o sonho do guri de jogar na Europa no final do ano passado. O pai, então, resolveu me dar uma camiseta como agrado. Relutei em aceitar, como de praxe, mas ele insistiu desde novembro, me ligou e veio ao jornal com a esposa. Para não fazer desfeita e criar algum tipo de constrangimento, peguei o regalo.
Por que Deus não usou alguém próximo a eles ou até eu como instrumento divino para mudar o destino dessas quatro pessoas? Por que Deus permitiu as mortes da bela Márcia e do carismático Aldair? Estou triste e meio ateu, mas sigo rezando todas as noites para manter a fé, a alegria da minha filha e a segurança de familiares e amigos. Quem sabe um dia eu entenda melhor a vida e as decisões de Deus.
* O colunista Gilberto Blume está em férias.
Opinião
Adão Júnior: mortes da funcionária do Sacolão e do jovem jogador de futebol me fizeram questionar Deus
Estou triste e meio ateu, mas sigo rezando todas as noites para manter a fé
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