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Foi a primeira vez em que os filhos de Silvia Daiane Comin, 33 anos, brincaram em um parque de diversões em Caxias do Sul. Enquanto Marle, Ariel e Dandara se esbaldavam, ela chorou e colocou para fora a emoção de realizar uma promessa caso a vida melhorasse.
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Nos últimos meses tem sido assim: a primeira vez em tudo. A diversão no parque custou pouco mais de R$ 30, gasto elevado para os padrões da família.
- Eu estava pensando em guardar as horas extras para levar eles no parque _ conta Sílvia.
Definitivamente, são novos tempos. Silvia sobrevivia à margem de tudo, abaixo da linha da pobreza. Até dois anos, a mulher e crianças dependiam do programa Bolsa Família e das refeições servidas no Núcleo de Capacitação do bairro Cânyon, auxílios nem sempre suficientes. Teve noites em que a meninada foi dormir de barriga vazia.
Natural da cidade, mas criada por outra família em Porto Alegre, a mulher só voltou a viver em Caxias aos 18 anos. Foi quando conheceu o marido Gilnei, se mudou para o Cânyon e teve o primeiro filho, Marle. A situação financeira da família ficou difícil com o nascimento do guri e complicou com a chegada de Ariel e Dandara. A casa, de madeira, estava prestes a desabar lá pelo idos de 2012.
A guinada começou no dia em que Silvia pensou em desistir. Numa manhã, ela e o marido Gilnei saíram do Cânyon para entregar currículos em empresas na beira da ERS-122, trecho Caxias-Flores da Cunha. O trajeto até a cidade vizinha foi percorrido a pé. Esfomeado, desanimado e sem promessa de emprego, o casal voltou ao bairro perto do almoço e buscou amparo no Núcleo de Capacitação do Cânyon, onde funciona a cozinha comunitária. Os dois ganharam um prato de comida e Silvia voltou dias depois para trabalhar. Era primeira vez com uma carteira assinada.
O acompanhamento da mulher no Núcleo foi um antídoto contra a estagnação. Silvia trabalhou na cozinha durante um ano, participou de curso profissionalizante e de oficinas de resgate da autoestima. Ali comemorou pela primeira vez o próprio aniversário e juntou dinheiro para a primeira festinha dos três filhos. Com o primeiro salário, comprou chocolate, presunto e margarina, guloseimas que via somente em propagandas.
Atualmente, é funcionária de uma fábrica de móveis e garante a despensa cheia. Enquanto a vida melhora, ela projeta a concretização de sonhos simples para muitos, mas grandiosos para ela, tal como o passeio no parque.
- Se não tem fome, a gente pensa melhor, vê tudo melhor.