
Contratado por meio do programa federal Mais Médicos, o cubano Luis Enrique Rodriguez Rodriguez, 50 anos, está há um mês sem ocupação em Bento Gonçalves.
Ele foi afastado da Estratégia da Saúde da Família (ESF) na primeira quinzena de janeiro supostamente por não ter se adaptado na comunidade para qual havia sido designado no início de novembro.
Atualmente, passa por um período de reciclagem dentro da Secretaria Municipal da Saúde, o que inclui aulas de português e atividades relacionadas a protocolos e condutas da medicina.
Rodriguez aguarda um parecer do Ministério da Saúde, mas a transferência para outra cidade é dada como certa. Desde o início da atuação dos profissionais do Mais Médicos no país, no final do ano passado, ao menos 192 já abandonaram o programa, sendo que 27 deles são de Cuba.
A primeira baixa em Bento Gonçalves e também na Serra teria sido ocasionada pela falta de preparação de estrangeiros para atuar no Brasil. Pacientes da ESF Vila Nova relataram dificuldade para se comunicar com Rodriguez - ele só fala espanhol.
Servidores da unidade também questionaram procedimentos do cubano. De acordo com o coordenador médico da Secretaria da Saúde, Marco Antônio Ebert, há uma variação da conduta médica em Cuba quando comparada ao Brasil.
- Algumas doses de medicamentos eram receitadas acima do que é usual no Brasil. Há também relatos de emissão de atestados para viroses com três semanas de afastamento. Mas são questões relacionados ao método cubano. Por esse motivo, o doutor Rodriguez passa por reciclagem para entender melhor como é o procedimento em Bento Gonçalves - declarou Ebert.
Segundo o coordenador, nenhum paciente teve problemas em decorrência das avaliações do cubano. Alguns pacientes, porém, defendem o serviço prestado.
- O atendimento foi muito bom. Ele veio aqui em casa e encaminhou a baixa da minha esposa no hospital - elogia o comerciante João Paulo Signor, 70.
Questionado se o cubano poderia ser aproveitado em outro posto, Ebert diz que o programa Mais Médicos só permite a atuação nas profissionais nas unidades de ESF.
- Decidimos pela mudança para evitar desgaste com a comunidade e equipes.
Infelizmente, não tenho opção para ele dentro da Saúde da Família, mas outras cidades precisam de médicos - ponderou o coordenador, ressaltando o credenciamento de Bento para receber mais quatro profissionais do Mais Médicos, o que pode incluir cubanos.
Rodriguez, por sua vez, está ansioso por uma definição. Ele atua como médico desde 1992. Deixou mulher e dois filhos em Cuba para tentar uma vida melhor no país. No ano passado, esteve em Vitória (ES) para um curso de adaptação, o que parece não ter sido suficiente. Em Bento Gonçalves, ganha US$ 400 por mês (cerca de R$ 960), além de auxílio na alimentação e moradia.
- No começo fiquei triste, mas estou feliz. Fiz amizade na cidade, o pessoal daqui é bom comigo. Ninguém me questionou sobre meu trabalho. Eu sentia a população contente - declarou o médico.